Após um dia e meio de deliberações, o júri de 12 pessoas anunciou seu veredicto unânime pelas três acusações atribuídas a ele pela Promotoria: culpado de conspirar para enviar cocaína aos Estados Unidos e traficar e possuir armas.
Sua sentença será anunciada em 26 de junho, anunciou a Promotoria.
“Sou inocente, digam isso ao mundo, eu amo vocês”, disse Hernández, de 55 anos, ao deixar a sala de audiência, dirigindo-se a seus familiares, entre elas duas cunhadas que vieram apoiá-lo, já que sua esposa e filhos não receberam vistos para viajarem aos Estados Unidos, e aos três generais que testemunharam a seu favor no julgamento.
Seu advogado, Raymond Colon, anunciou que seu cliente vai recorrer da decisão. “Ele afirma que é inocente”, disse.
Imagem de Juan Orlando Hernandez, ex-presidente de Honduras, em 14 de agosto de 2021 — Foto: Orlando Sierra/ AFP
Em Tegucigalpa, a esposa do ex-presidente, Ana García, afirmou em declarações à imprensa que o julgamento foi “injusto” e garantiu que seu marido “continuará lutando” até ao último dia para provar sua “inocência”.
Entretanto, a acusação defendeu em comunicado que “é imperativo desmantelar a organização criminosa que continua operando” e os seus cúmplices “devem pagar pelos seus crimes”.
Segundo a Promotoria, o ex-presidente criou um “narcoestado” durante o seu mandato (2014-2022) e transformou seu país em uma “super autopista” por onde passava boa parte das drogas vindas da Colômbia com destino aos Estados Unidos.
A rede que ele protegeu teria enviado mais de 500 toneladas de cocaína para este país. Em troca, Hernández teria recebido milhões de dólares dos cartéis do tráfico, entre eles o de Sinaloa, do chefão mexicano Joaquín “El Chapo” Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos.
O promotor Jacob H. Gutwillig lembrou o júri que o acusado tinha um discurso duplo: em público, promovia leis contra o narcotráfico e as extradições de traficantes aos Estados Unidos, reunindo-se com funcionários e autoridades americanos, mas “nada disso desfaz o que o acusado realizou por trás da porta”.
“É um narcotraficante”, afirmou o promotor.
“Como demonstra a condenação de hoje, o Departamento de Justiça está perturbando todo o ecossistema de redes de tráfico de droga que prejudicam o povo americano, não importa quão longe ou quão alto tenhamos de ir”, disse o procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland.
De acordo com o promotor Damian Williams, o ex-presidente “teve todas as oportunidades para ser uma força do bem em Honduras, mas escolheu abusar do poder e do país para seu próprio benefício”.
JOH, acrônimo pelo qual é conhecido em seu país, seguirá assim os passos de seu irmão Tony Hernández e de Geovanny Fuentes, estreito colaborador deste, que cumprem prisão perpétua nos Estados Unidos. Outros condenados pelos mesmos crimes são Fabio Lobo, filho do ex-presidente Porfirio Lobo (2010-2014), e o deputado Fredy Renán Nájera.
Extraditado em abril de 2022 aos Estados Unidos, três meses depois de transmitir o poder a sua sucessora Xiomara Castro, o condenado é o autor da famosa frase: “vamos enfiar droga em seus narizes [dos americanos] e eles nem vão se dar conta”, segundo uma testemunha.
“Hoje a justiça foi feita”, disse eufórica a ativista de direitos humanos Lida Perdomo em frente ao tribunal, onde dezenas de hondurenhos se reuniram para aguardar o veredicto.
“Esperamos que o condenem no mínimo a três prisões perpétuas e isso ainda seria pouco para que ele pague todo o dano que fez ao meu país”, afirmou Perdomo à AFP.
Ao ser perguntado pela AFP, o advogado de defesa Renato Stabile disse que, “obviamente, a decisão é dura, mas [o ex-presidente] mentalmente é muito forte”.
Fiel colaborador do governo do republicano Donald Trump (2017-2021), Hernández chegou a se gabar dos elogios de Washington pelo trabalho de seu governo na luta contra o tráfico de drogas.
Desde 2014, Honduras extraditou aos Estados Unidos 41 pessoas acusadas de narcotráfico, incluindo três por fentanil.
Boa parte das testemunhas apresentadas pela Promotoria colocaram em evidência a corrupção e os vínculos estreitos entre a política e o narcotráfico.
“A elite política, que também é a econômica, atuou em completa impunidade” durante os últimos 15 anos, desde o golpe de Estado de 2009, encorajada pelo “apoio que recebeu de governos estrangeiros, embora soubessem que estava fortemente envolvida no tráfico de drogas”, assinalou à AFP a ativista americana Karen Spring, da organização Honduras Solidarity Network.
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