Foram 7 discursos na abertura de assembleias-gerais (2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2023) e um pronunciamento em uma reunião que antecedeu o debate da Assembleia Geral de 2005. Naquele ano, o então chanceler Celso Amorim discursou na abertura do debate.
A Assembleia Geral da ONU ocorre anualmente e, por tradição, o chefe de Estado do Brasil é o primeiro a discursar na assembleia, que reúne representantes de mais de 190 países.
Todos esses são temas recorrentes nos discursos do petista na ONU e, também, em outros fóruns internacionais do qual o Brasil é participante.
A necessidade de ações contra a forme, por exemplo, foi destacada por Lula nos anos de 2003 (primeiro dele como presidente do Brasil), 2004, 2005, 2006 e 2008. E também foi mencionada no pronunciamento deste ano.
A luta contra a pobreza e a desigualdade, invocada por Lula em 2004, foi ressaltada no discurso de 2023, em que o petista também cobrou iniciativas contra o racismo e o preconceito contra a população LGBTQIA+.
A defesa de mudanças na composição do Conselho de Segurança da ONU – que, na avaliação do petista, não consegue mais mediar os conflitos entre os países – foi enfatizada pelo presidente brasileiro em sete das oito participações.
Neste ano, Lula voltou a fazer uma reflexão sobre a necessidade de implementação de novas relações econômicas, com maior participação de países em desenvolvimento e menos protecionismo por parte das nações mais ricas, além de trocas comerciais mais justas.
Ele também criticou o neoliberalismo e o surgimento de “aventureiros de extrema-direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas”, mas sem especificar a quem estava se referindo.
Lula nas assembleias da ONU em 2006, 2009 e 2023 — Foto: Julie Jacobson/AP; Richard Drew/AP; Mike Segar/Reuters
Veja a seguir os principais pontos dos discursos de Lula nas sete participações anteriores na ONU (clique no ano para ir ao trecho desejado):
Reforma do Conselho de Segurança da ONU – No contexto da guerra do Iraque, Lula defendeu a ONU e disse que era preciso uma reforma no Conselho de Segurança da organização para evitar novos conflitos armados. “Não podemos ignorar as mudanças que se processaram no mundo, sobretudo a emergência de países em desenvolvimento como atores importantes no cenário internacional”, disse o presidente colocando o Brasil à disposição para compor o grupo.
Política externa brasileira – O presidente brasileiro também falou sobre a atuação internacional do Brasil em seu governo. “Além de aprofundar as relações já muito relevantes com nossos tradicionais parceiros da América do Norte e da Europa, buscamos ampliar e diversificar nossa presença internacional”, disse Lula. Ele destacou o estreitamento das relações com China, Rússia, Índia, África do Sul, além de países da América do Sul e a Liga Árabe.
Combate à fome – Na esteira da criação do programa Fome Zero pelo seu governo no Brasil, Lula sugeriu a criação de um Comitê Mundial de Combate à Fome para traçar estratégias para erradicar a carência de alimentos no mundo. “O verdadeiro caminho da paz é o combate sem tréguas à fome e à miséria, numa formidável campanha de solidariedade capaz de unir o planeta ao invés de aprofundar as divisões e o ódio que conflagram os povos e semeiam o terror”, disse naquele ano.
Autodeterminação dos povos – Em seu segundo discurso, Lula defendeu o fim do “colonialismo” e defendeu a independência políticas dos países mais pobres, que o presidente considerava serem subjugados pelos países ricos. “Barreiras protecionistas e outros obstáculos ao equilíbrio comercial, agravados pela concentração dos investimentos do conhecimento e da tecnologia, sucederam ao domínio colonial”, disse Lula na ocasião.
Riscos da globalização – O presidente também criticou o que chamou de “globalização assimétrica” e defendeu um novo modelo de desenvolvimento econômico, com respeito à natureza e desenvolvimento social. “Hoje, é possível reconciliar natureza e progresso por meio de um desenvolvimento ético e ambientalmente sustentável”, argumentou.
Luta contra a pobreza – Além disso, Lula dedicou boa parte de sua fala para incentivar esforços para diminuir a pobreza e a desigualdade mundial, além do citar o combate à fome. “Se fracassarmos contra a pobreza e a fome, o que mais poderá unir-nos?”, disse o presidente, sustentando que a resolução desses problemas passa por uma “mudança importante nos fluxos de financiamento dos organismos multilaterais”.
Em 2005, Lula participou de reunião que antecedeu o debate geral da ONU. O evento é chamado de Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas. No debate geral, Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores, fez o discurso de abertura na Assembleia Geral.
Na reunião da qual participou Lula, falou sobre:
Objetivos de Desenvolvimento – Lula elogiou a definição de oito objetivos internacionais de desenvolvimento para o ano de 2015, adotados em 2000. Destacou as ações do Brasil para atingir as metas colocadas no acordo internacional em quatro áreas: o combate à fome; o direito ao trabalho; a luta pela equidade racial e de gênero; e a preservação ambiental.
Financiamento aos pobres – O presidente também afirmou que os objetivos de desenvolvimento só seriam possíveis caso o modelo de financiamento aos países pobres fosse modernizado. “É preciso ampliar, e muito, os recursos disponíveis para combater a pobreza e a fome, oferecendo oportunidades de desenvolvimento aos países pobres. Se os países desenvolvidos tiverem a devida lucidez estratégica, perceberão que essa nova atitude, esse esforço adicional, mais do que justo, é absolutamente necessário”, afirmou na ocasião.
Reforma do Conselho de Segurança da ONU – Mais uma vez, Lula defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU no final de seu discurso na Assembleia Geral. “Não posso deixar de sublinhar um ponto a que me referi, ontem, no meu discurso diante do Conselho: a necessidade urgente de reformar aquele órgão – a fim de torná-lo mais legítimo, mais representativo – sem a qual a ONU não cumprirá o papel histórico que lhe está reservado”, disse naquele ano.
Combate à fome – Em campanha pela reeleição para seu segundo mandato e retomando seu primeiro discurso na ONU, em 2003, Lula ressaltou o que seu governo estava fazendo para atingir as metas do milênio, citou o Fome Zero e o programa Bolsa Família. “Aliamos crescimento e estabilidade econômica a políticas de inclusão social. O nível de vida dos brasileiros melhorou”, declarou Lula.
Geografia do comércio – Lula dedicou parte do discurso para falar sobre uma nova ordem no comércio mundial. Afirmou que a criação do G-20, grupo que reúne as vinte maiores economias do mundo, mudou os padrões de negociação na Organização Mundial de Comércio (OMC). “Eliminar as barreiras que travam o desenvolvimento dos países pobres é um dever ético para a comunidade internacional”, afirmou naquele ano.
Reforma do Conselho de Segurança da ONU – Mais uma vez, Lula defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU, abrindo espaço para novos membros permanentes no órgão. “O Brasil, juntamente com os países do G-4, sustenta que a ampliação do Conselho de Segurança deve contemplar o ingresso de países em desenvolvimento no seu quadro permanente. Isso tornaria o órgão mais democrático, legítimo e representativo”, disse em 2006.
Mudanças climáticas – O presidente abriu o discurso em 2007 afirmando que cresciam os riscos de uma catástrofe ambiental e humana sem precedentes se o modelo de desenvolvimento global não fosse repensado. “Crescem os riscos de uma catástrofe ambiental e humana sem precedentes”, disse na ocasião. Afirmou ainda que equidade social é o caminho para a preservação do ambiente e que os países ricos deveriam dar exemplo.
Nova matriz energética – Ao mesmo tempo, Lula defendeu a necessidade de instalar uma nova matriz energética no mundo, limpa e sustentável. Defendeu os biocombustíveis, como o etanol, era um caminho para para construí-la. “O etanol e o biodiesel podem abrir excelentes oportunidades para mais de uma centena de países pobres e em desenvolvimento na América Latina, na Ásia e, sobretudo, na África. Podem propiciar autonomia energética, sem necessidade de grandes investimentos”, expôs naquele ano.
Nova ordem internacional – O presidente brasileiro também destacou que considerava importante o estabelecimento de uma “nova ordem internacional”. Afirmou que, para isso, era preciso a instauração de novas relações econômicas que penalizem os mais pobres e a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Citou que o Brasil seguiu nessa agenda por meio do fortalecimento do Mercosul e da Índia e África do Sul.
Crise mundial – Lula começou seu discurso falando sobre a crise econômica mundial daquele ano. Afirmou que a “euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos”. O presidente disse que medidas paliativas não resolveriam o problema e que seriam necessários mecanismos de prevenção e controle e total transparência das atividades financeiras. “As indispensáveis intervenções do Estado, contrariando os fundamentalistas do mercado, mostram que é chegada a hora da política”, declarou à época.
Protecionismo dos países ricos – Lula afirmou que um suposto “nacionalismo populista”, que é imputado aos países do sul mundial é “praticado sem constrangimento em países ricos”. “Aos poucos vai sendo descartado o velho alinhamento conformista dos países do Sul aos centros tradicionais. Essa nova atitude não conduz, no entanto, a uma postura de confrontação”, disse. Lula afirmou que se desenhava um mundo multipolar com mais protagonismo do sul do globo terrestre e defendeu novamente a reforma do Conselho de Segurança.
Combate à fome – O presidente voltou a defender esforços multilaterais para erradicar a fome mundial e negou que os biocombustíveis aumentaram os preços dos alimentos. “Na inflação dos alimentos estão presentes – ao lado de fatores climáticos e da especulação com as commodities agrícolas – os aumentos consideráveis do petróleo, que incidem pesadamente sobre o custo de fertilizantes e transporte”, disseram Lula.
Persistência da crise econômica – Lula relembrou o discurso do ano anterior em que disse que seria um erro cuidar apenas das consequências da crise de 2008. “Passados doze meses, constatamos que houve alguns progressos, mas que persistem muitas indefinições”, disse Lula. De acordo com o presidente, havia enormes resistências em adotar mecanismos efetivos de regulação dos mercados financeiros por partes dos países desenvolvidos.
Governança mundial instável – O presidente defendeu que era “imprescindível refundar a ordem econômica mundial”. Lula defendeu que países pobres e em desenvolvimento deveriam aumentar a participação na direção do FMI e do Banco Mundial. “Sem isso não haverá efetiva mudança e os riscos de novas e maiores crises serão inevitáveis”, disse. Lula afirmou ainda que as Nações Unidas e seu Conselho de Segurança não poderiam continuar “regidos pelos mesmos parâmetros que se seguiram à Segunda Guerra Mundial”.
Mudanças climáticas – O presidente Lula defendeu que devia-se exigir dos países desenvolvidos metas de redução de emissões muito mais expressivas. “Preocupa-nos a resistência dos países desenvolvidos em assumir sua parte na resolução das questões referentes à mudança do clima. Eles não podem lançar sobre os ombros dos países pobres em desenvolvimento responsabilidades que lhes são exclusivas”, disse Lula.
Lula durante discurso na Assembleia-Geral da ONU — Foto: Mary Altaffer/AP
Em 2010, Lula não foi à Assembleia Geral da ONU. Na ocasião, ele disse que estava focado na campanha eleitoral de Dilma Rousseff, que foi eleita presidente naquele ano.
Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores, representou o presidente.
Publicar comentários (0)