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Ministério Público quer que Justiça ouça envolvidos na Operação Escudo; 28 pessoas morreram durante ação na Baixada Santista

today6 de setembro de 2023 8

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No dia 31 julho, mesmo depois da prisão de três suspeitos pela morte do soldado, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou que o efetivo reforçado permaneceria na Baixada Santista por pelo menos 30 dias, e que o foco passaria a ser o combate ao tráfico de drogas.

No dia 28 de agosto, quando a operação completou um mês, a Secretaria da Segurança Pública informou que a ação não tinha mais prazo pra terminar. Em um documento interno, o comando da PM chegou a prever que os policiais permaneceriam na Baixada Santista até o dia 30 de setembro.

A falta de uma data exata para o fim da operação e o aumento do número de mortes em supostos confrontos com a polícia colocaram o secretário da Segurança Pública Guilherme Derrite sob pressão de entidades de defesa dos direitos humanos e do próprio MP.



Contudo, desde o início da ação, instituições e autoridades que defendem os direitos humanos pediam o fim da operação.

A outra envolve o Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública (Gaesp), do Ministério Público, na capital paulista. O Gaesp tem a missão de esclarecer se a ação dos policiais no litoral infringiu normas de direitos humanos.

Os inquéritos abertos pela Polícia Civil de Santos e pela Corregedoria-Geral da Polícia Militar estão em andamento e não têm prazo para terminar.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública reforçou que todos os casos são investigados pela Divisão Especializada de Investigações Criminais de Santos, com apoio do DHPP, e por um Inquérito Policial Militar.

Mortes por intervenção policial

Um levantamento feito pelo MP de São Paulo mostra que, em julho, houve um aumento de 58% no número de mortes por intervenção policial no estado, na comparação com o mesmo mês de 2022. Em agosto, o crescimento chegou a 72%.

Considerando apenas os municípios de Santos e Guarujá, onde a Operação Escudo se concentrou, as mortes por intervenção policial saltaram de 5, entre julho e setembro do ano passado, para 28, no mesmo período deste ano — um aumento de 460%.

No fim da tarde desta terça, numa entrevista coletiva, o secretário Guilherme Derrite anunciou o fim da Operação Escudo e voltou a defender a legalidade da ação.

“Nos laudos do IML, nenhum laudo aponta sinais de execução, que houve tortura – nenhum laudo de necropsia do Instituto Médico Legal, que é órgão responsável técnico, nenhum, aponta, seja um hematoma, seja uma queimadura de cigarro, ou seja, algumas informações que nós recebemos até de indivíduo que teve a sua unha retirada, sinais de tortura, isso não foi apontado e nós temos como comprovar isso pelo brilhante trabalho da polícia científica”, disse Derrite.

Relatos de violações dos direitos humanos

O Fantástico teve acesso aos laudos da Operação Escudo e investiga por que jovens que viviam em São Paulo apareceram mortos no Guarujá.

O Fantástico teve acesso aos laudos da Operação Escudo e investiga por que jovens que viviam em São Paulo apareceram mortos no Guarujá.

Com isso, o órgão recomendou ao governo de São Paulo, sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se encerre a operação e apresente, em até 20 dias, esclarecimentos sobre as circunstâncias das mortes em decorrência da intervenção policial.

Veja as recomendações do CNDH ao governo de São Paulo:

  • Interromper imediatamente a Operação Escudo, considerando o decurso de mais de 30 dias da operação, a intolerável taxa de letalidade e os relatos de violações de direitos humanos;
  • Apresentar, em até 20 dias, plano de ação da Operação Escudo, com esclarecimentos sobre as circunstâncias das mortes de civis em decorrência da intervenção policial;
  • Apresentar, em até 20 dias, relatório detalhado de cada dia da Operação Escudo, contendo informações sobre objetivos, horários, comandantes, batalhões e CIA, armamentos utilizados, vítimas, detidos e outras informações relevantes
  • Fornecer, no prazo máximo de 20 dias, a cadeia de custódia das câmeras de todos os policiais envolvidos na operação, abrangendo o dispositivo físico, informações coletadas, armazenamento, arquivamento, downloads e qualquer outra informação relevante para o resguardo das filmagens.
  • Fornecer, no prazo máximo de 20 dias, explicações sobre a não utilização de câmeras corporais por policiais alocados em batalhões que compõem o Programa Olho Vivo.
  • Investigar, em regime de urgência, os crimes de ameaça praticados contra o Ouvidor da Polícia do estado de São Paulo, fornecendo, no prazo de 15 dias, informações sobre o resultado desses inquéritos;
  • Garantir medidas de segurança, com escolta 24horas por dia, e condições de trabalho adequadas ao Ouvidor das Polícias para que ele possa continuar a conduzir seu trabalho de maneira eficaz e segura;
  • Cumprir o disposto no art. 2º, VI, da Lei Complementar do estado de São Paulo nº 836/97, garantindo o fornecimento imediato das informações requisitadas pelo Ouvidor da Polícia do estado de São Paulo, especialmente as imagens das câmeras corporais usadas por policiais;
  • Realizar a investigação das mortes em decorrência de intervenção policial de maneira transparente e independente, com a participação de órgãos externos, familiares das vítimas e entidades de direitos humanos, a fim de assegurar imparcialidade e eficácia nas apurações, seguindo padrões internacionais como o Protocolo de Minnesota, apoiando também as investigações do Ministério Público;
  • Assegurar a autonomia da perícia técnico-científica para atuar de maneira imparcial em todos os casos de denúncias de violações de direitos humanos apresentados como decorrência da Operação Escudo;
  • Garantir proteção e amparo socioassistencial do Estado às testemunhas e familiares das vítimas, assegurando sua segurança contra represálias ou ameaças e facilitando seu acesso ao devido processo legal
  • Garantir o uso obrigatório de câmeras corporais por todos os agentes envolvidos em outras operações policiais, particularmente nos Batalhões de Ações Especiais da Polícia (BAEP), assegurando o registro de suas condutas;
  • Assegurar, nos casos de operações policiais que resultem em violação à integridade física de civis, acesso imediato às imagens ao Ministério Público, à Defensoria Pública, à Ouvidoria das Polícias e aos demais órgãos de controle;
  • Apresentar, em 20 dias, protocolo detalhado para o uso de equipamentos especiais em operações policiais em áreas sensíveis, com ênfase na segurança das/os cidadãs(ãos);
  • Apresentar, em 20 dias, protocolos de segurança para evitar operações em áreas sensíveis como escolas e instituições de saúde, preservando o bem-estar da comunidade;
  • Garantir a presença obrigatória de socorristas e ambulâncias nas operações, para atender a eventualidades e prestar socorro adequado às vítimas;
  • Apresentar, em até 20 dias, plano de medidas específicas para proteger grupos vulneráveis, evitando a vitimização desproporcional de crianças, adolescentes, pessoas negras e minorias;
  • Garantir reparação integral às famílias das vítimas, incluindo restituição, indenização, reabilitação e medidas de não repetição;
  • Reconhecer as violações de direitos humanos ocorridas durante a chacina e emitir, em até 20 dias, um pedido público de desculpas às vítimas e a seus familiares

Governo de SP nega que tenha havido excesso da polícia na operação que deixou 8 mortos em Guarujá — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

46 tiros em 15 dos 24 mortos

A TV Globo e o g1 tiveram acesso aos laudos necroscópicos de 15 dos 24 mortos pela polícia nesse período. No total, os corpos tinham 46 ferimentos provocados pela entrada de balas.

  • 29 tiros foram na região do tronco, que inclui tórax e a barriga.
  • 5 nas pernas
  • 4 nos braços
  • 3 nas costas
  • 5 na cabeça

Os documentos não fazem referência direta a ferimentos que indiquem sinais de execução ou tortura. Promotores de justiça estão comparando os resultados dos laudos com as fotos dos corpos para esclarecer dúvidas.

Até agora, as imagens das câmeras corporais usadas pelos PMs trouxeram poucas novidades à investigação. Há duas semanas, quando o SP2 divulgou o resultado das primeiras análises, o Ministério Público tinha recebido imagens de seis de dezesseis ocorrências com mortes.

  • Em três delas, as imagens indicavam confronto com criminosos.
  • Em outros dois casos, as gravações não captaram o momento das supostas trocas de tiros, mas revelavam falhas operacionais.
  • Em uma das ocorrências, as imagens não traziam nenhuma informação relevante para a investigação, segundo os promotores.

Desde então, mais seis pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia na região, e apenas uma nova imagem foi encaminhada ao Ministério Público.

A Polícia Militar tem atualmente 10.125 câmeras corporais, o suficiente para equipar pouco mais da metade dos policiais de todo o estado.

Questionado sobre o envio das outras imagens das câmeras para o MP, a SSP respondeu que os casos correm sob sigilo.

A Secretaria informou ainda que os laudos oficiais de todas as mortes, elaborados pelo IML, foram executados com rigor técnico, isenção e nos termos da lei, e que esses laudos já foram enviados às autoridades responsáveis pelas investigações.




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: G1

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