A filha de Othonita, Katiana Bispo, de 37 anos, afirmou ao g1 neste sábado (4) que busca um diagnóstico para os sintomas da mãe desde 2018. “Cansei de ouvir a dermatologista do convênio dizer que ela tinha uma simples dermatite [inflamação na pele] e que só precisava tomar corticoide [medicação anti-inflamatória]”, disse.
O remédio seria para tratar as coceiras e manchas vermelhas que Othonita apresenta. Segundo Katiana, a mãe passava mal diariamente e, com o avanço da doença, feridas começaram a surgir na pele de Othonita, inclusive fazendo com que ela perdesse parte do cabelo por causa disso. “Ela dizia que parecia que era fogo queimando a pele dela”, lembra a filha.
Segundo Othonita, foram aproximadamente três anos praticamente trabalhando para comprar remédios até se aposentar. As medicações que eram receitadas e, segundo os médicos, fariam com que a coceira e as bolhas diminuíssem. “Eu passei por coisas terríveis, usava pasta d’água, maizena, passei pomadas e antibióticos”, afirmou.
Segundo Othonita Bispo, foram aproximadamente três anos praticamente trabalhando para comprar remédios — Foto: Arquivo Pessoal
Em diversas consultas em que acompanhou a mãe, Katiana ouviu dos profissionais que, diante da falta de um diagnóstico certeiro, a doença poderia ser emocional. “Por várias vezes até duvidei da situação dela, porque eles eram especialistas dizendo que se tratava de algo psicológico, mas eu cansei de passar noites sem dormir com ela”.
A gota d’água para Othonita foi em novembro do ano passado. Na época, um médico havia lhe passado um novo xampu para que não afetasse ainda mais as feridas que ela tinha no couro cabeludo. Porém, o produto só piorou a situação e a região começou a descamar e a sair cascas.
A internação foi indicada, no entanto, a paciente se revoltou com a situação. “Se em quatro anos não conseguiram descobrir o que eu tenho, como eles iriam descobrir agora?”, lembra Othonita.
A filha recomendou que a aposentada viajasse até Salvador (BA) para visitar a irmã e passar o final de ano com o restante da família. No nordeste, o processo de descamação aumentou e partes do corpo dela, inclusive, ficaram em carne viva. “Para tomar banho era horrível, a água batia no meu corpo e parecia que eu tinha tomado uma surra”.
A situação a fez procurar uma médica dermatologista particular. “Ela fez uma bateria de exames de sangue e começamos um tratamento com outros tipos de creme. Quando o resultado saiu, ela precisou me internar”, Katiana.
Ele ressaltou que o convênio da mãe não tem cobertura em outros estados e, portanto, ela foi internada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade no dia 23 de dezembro.
Othonita passou o Natal, o Réveillon e o próprio aniversário no local, praticamente em isolamento. Lá, ela descobriu o diagnóstico de leucemia e eritrodermia esfoliativa, que causa as feridas na pele.
A paciente ficou pouco mais de um mês na UPA, mas agora está internada em um hospital da capital baiana, onde recebe o tratamento adequado para as duas doenças. “Minhas unhas dos pés estão caindo, no momento ainda estou com descamação, mas não parece mais como a de um peixe”, disse Othonita .
Othonita Bispo, de São Vicente (SP), está internada em um hospital da capital baiana — Foto: Arquivo Pessoal
“Se eu estivesse aí [em São Vicente] eu já teria morrido. Estava entrando em depressão [antes de vir]”, contou a paciente. Agora, no entanto, a filha de Othonita pensa em como conseguirá pagar as medicações da mãe, que aguarda receber um benefício do governo para ajudar a filha com as contas. Ela inclusive, rifou uma televisão e conseguiu algo em torno de R$ 1 mil para ajudar com o tratamento.
De acordo com o médico dermatologista Ricardo Almeida a condição é uma alteração dermatológica definida por erupção avermelhada e descamativa com acometimento acima de 80% da superfície corporal. No entanto, ele afirma que ela é somente uma apresentação clínica que pode ocorrer em várias doenças.
“Entre as causas mais frequentes estão as doenças dermatológicas primárias (psoríase e eczemas), reações medicamentosas, doenças sistêmicas e neoplasias, em especial, linfomas”, afirma.
De acordo com o médico, em aproximadamente 12% dos pacientes não é encontrada uma etiologia específica. Dentre os sintomas dessa síndrome, estão manchas vermelhas que coçam muito (prurido) e antecedem a descamação, que pode variar de acordo com sua doença de base. Com a cronicidade do processo (estado da doença de forma crônica) pode ocorrer alteração ungueal (tecido na pele) e alopecia (perda de cabelo ou pelo).
Na fase inicial, Almeida explica que as escamas são geralmente grandes e crostosas, porém, com o passar do tempo tendem a ser menores e secas. “Podem ocorrer sintomas de taquicardia, desidratação, febre, edemas e anemias necessitando, na maioria dos casos, de internação hospitalar”. De acordo com especialista, o tratamento é feito com hidratação local e endovenosa, antibióticos, anti-hístaminicos e corticosteróides.
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