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Mulher vira doula após ser vítima de ‘estupidez’ de anestesista e ajuda em 200 partos em SP: ‘show de horrores’

today5 de março de 2023 6

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O que era para ser um momento mágico acabou se tornando um ‘show de horrores’. Bruna passou por duas experiências de violência obstétrica. A primeira foi há 16 anos, no nascimento do primeiro filho. Ela conta que o desejo de ter um parto normal não foi respeitado, e ela foi submetida a uma cirurgia desnecessária. O médico também havia mentido, dizendo que o cordão do bebê estava enrolado no pescoço.

Seis anos depois, durante o trabalho de parto do segundo filho, uma médica foi invasiva, fazendo exames de toque diversas vezes sem absolutamente nenhuma necessidade. Bruna também desabafa sobre a arrogância do médico anestesista, e diz e que todo o cenário a deixou ‘muito fragilizada e muito assustada’.

Bruna em foto com os filhos: Igor, 16 anos; Luiza, 10 anos; e Miguel de 7 anos — Foto: Arquivo pessoal



“O anestesista foi super estúpido comigo, ficava gritando para eu não me mexer. Ele me deu uma anestesia paralisante. Eu não sentia as pernas, não sentia nada, eu não conseguia fazer nada”, desabafa.

A violência obstétrica continuou no momento da retirada do bebê, durante os procedimentos médicos e as intervenções da equipe. “Foi aquele show de horrores de novo. Alguém empurrando minha barriga e a médica gritando para eu fazer força. Eu falei que não queria episiotomia [corte na região entre o ânus e a vagina], mas ela fez o corte”.

Depois das duas experiências de violência durante o parto, Bruna sentiu o desejo de começar a trabalhar nesta área e lutar para que a assistência obstétrica melhore na região. Ela iniciou um curso de doula – profissional que acompanha a gestante durante a gravidez, parto e pós-parto -, e começou a participar de movimentos sociais para orientar mulheres e cobrar melhorias das autoridades.

Bruna entrou para um coletivo de mulheres chamado Partejar Santista que, segundo ela, elaborou um projeto de lei para que doulas tivessem acesso às maternidades da região. Com apoio de um vereador de Santos, o Partejar Santista conseguiu que o projeto fosse aprovado em 2015. Na cidade santista, o direito a doula é garantido por meio da Lei Municipal 3.134/15.

Paralelo as idas à Câmara Municipal de Santos para reivindicar a aprovação do então projeto de lei, Bruna participava de vários projetos da Maternidade Municipal Doutor Silvério Fontes. Junto com a amiga Graziele Barbosa, que era enfermeira na maternidade, ela levava informação de forma gratuita para mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Bruna estudou para ser doula após sofrer violência obstétrica — Foto: Michele Matos

Bruna afirma que tentou iniciar um projeto de doulas voluntárias para atender e orientar gestantes em outras maternidades públicas em Santos e São Vicente, mas não houve interesse das autoridades responsáveis.

Ela acrescenta que irá retomar as conversas com a coordenação da maternidade do Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos, para tentar iniciar o projeto no local. “A gente vai voltar a falar sobre isso para que todas as mulheres tenham acesso a doula, não só as mulheres que podem pagar”, disse.

Além dos projetos voluntários, Bruna atua profissionalmente como doula há cerca de oito anos. Neste período, ela já participou de 200 partos na Baixada Santista, e se emociona a cada novo nascimento.

“Eu assisto uma mulher se transformar. Eu tento ressignificar o medo que algumas mulheres têm, explico que a dor não é sinônimo de sofrimento. É uma experiência prazerosa, pois elas conseguem entender as contrações de outra forma, sabendo que esse é o caminho para conhecer o filho. Ver a mulher se transformando e tendo o bebê de uma forma respeitosa, do jeito que elas imaginaram é muito emocionante. A sensação de emoção não passa, cada parto é um evento único”, diz.

Durante o trabalho, Bruna ajuda as gestantes a ressignificar a dor do parto — Foto: Michele Matos

Assim que terminou o curso de doula, Bruna descobriu que estava grávida. A principio, segundo ela, foi um susto. Mas também foi a oportunidade de ter um parto respeitoso, pois após o nascimento dos dois primeiros filhos, ela acreditava que ‘nunca iria viver uma experiência bacana’.

O terceiro filho de Bruna nasceu em julho de 2015, em um parto domiciliar. Ela lembra que foi uma experiência transformadora. “Foi emocionante. Na época eu só me sentia segura na minha casa e com a equipe que eu confiasse, para deixar o processo rolar sem medo. Sem alguém ali me tocando o tempo todo, sem alguém me violentando o tempo todo. Por isso naquela época a minha casa era o único lugar que me dava segurança”.

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Por: G1

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