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No Iêmen, rebeldes e sauditas negociam para manter trégua, mas exigências de cada lado geram tensão

today19 de janeiro de 2023 13

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O silêncio é frágil, sem nenhum cessar-fogo formal desde que uma trégua negociada pela ONU terminou em outubro. Foi abalado pelos ataques de houthis às instalações de petróleo e pela retórica inflamada do governo internacionalmente reconhecido do Iêmen, aliado da Arábia Saudita, que reclama que até agora foi deixado de fora das negociações. A falta de progresso pode levar a um colapso e a uma retomada da luta generalizada.

Mas, após oito anos de uma guerra que matou mais de 150.000 pessoas, fragmentou o Iêmen e levou o país mais pobre do mundo árabe ao colapso e quase à fome em uma das piores crises humanitárias do mundo, todos os lados parecem estar procurando uma solução. A Arábia Saudita reiniciou as trocas indiretas com os houthis em setembro, quando ficou claro que a trégua negociada pela ONU não seria renovada. Omã tem atuado como intermediário.

“É uma oportunidade de acabar com a guerra, se eles negociarem de boa fé e as negociações incluírem outros atores iemenitas”, disse um funcionário da ONU, que falou sob condição de anonimato.



Um diplomata saudita disse que seu país pediu à China e à Rússia que exerçam pressão sobre o Irã e os houthis para evitar uma escalada. Os iranianos, que têm sido regularmente informados sobre as negociações pelos houthis e os omanis, até agora apoiaram a trégua não declarada, disse o diplomata.

A guerra do Iêmen começou quando os houthis saíram do norte do Iêmen e tomaram a capital, Sanaa, em 2014, forçando o governo reconhecido internacionalmente a fugir para o sul e depois para o exílio.

A Arábia Saudita entrou na guerra em 2015, liderando uma coalizão militar com os Emirados Árabes Unidos e outras nações árabes. O grupo, apoiado pelos Estados Unidos, realizou uma campanha de bombardeios destrutivos e apoia as forças governamentais e as milícias no sul do território iemenita. O conflito se tornou uma guerra indireta entre Arábia Saudita e Irã.

Há anos, nenhum dos lados obtém ganhos territoriais: enquanto os houthis mantêm seu controle sobre o norte, Sanaa, e grande parte do oeste densamente povoado, o governo e as milícias controlam o sul e o leste, incluindo as principais áreas centrais, onde estão a maior parte das reservas de petróleo iemenitas.

A guerra também ultrapassou as fronteiras do Iêmen, com os houthis atacando a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos com mísseis balísticos e drones carregados de explosivos. Os rebeldes também atacaram navios no Mar Vermelho. Para os ataques, eles usaram armas dos estoques que apreenderam em Sanaa e armas fornecidas pelo Irã, segundo especialistas independentes e da ONU e nações ocidentais.

Crianças sobre pilha de destroços no Iêmen — Foto: MOHAMMED HUWAIS / AFP

A Arábia Saudita e os houthis mantiveram negociações indiretas no passado, principalmente para trocas de prisioneiros ou cessar-fogo esporádico.

As negociações mais ambiciosas, em 2019, ajudaram a impedir avanços do governo no porto de Hodeida, controlado pelos houthi, no Mar Vermelho. À ocasião, no entanto, as autoridades sauditas acusaram os rebeldes de usar uma trégua não declarada para obter ganhos territoriais e avançar na importante cidade de Marib, controlada pelo governo. Seguiu-se uma batalha de meses por Marib, na qual os houthis sofreram grandes baixas e acabaram sendo expulsos no final de 2021.

A ONU negociou uma trégua mais formal que começou em abril de 2022 e foi estendida duas vezes, terminando em outubro. Os ataques houthi a instalações petrolíferas em áreas controladas pelo governo foram a interrupção mais significativa nos últimos meses. Ainda assim, até agora, nenhum dos lados em guerra retomou os combates diretos.

“Uma escalada seria custosa em todas as frentes. [Mas] todos estão se preparando para a próxima rodada [do conflito] se os esforços da ONU e as negociações entre sauditas e houthis entrarem em colapso”, afirmou um funcionário do governo iemenita.

Abdel-Bari Taher, comentarista iemenita e ex-chefe do Sindicato dos Jornalistas, disse que tentativas anteriores de resolução foram prejudicadas pelos interesses conflitantes das potências envolvidas na guerra (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã).

“Essas conversas não levarão a conclusões concretas se não incluírem todas as partes iemenitas no processo”, explicou Taher.

O negociador-chefe dos houthis, Mohammed Abdul-Salam, disse que as visitas a Sanaa por autoridades de Omã mostram a seriedade dos houthis. A visita mais recente terminou no domingo (15). “Há um dar e receber com outras partes”, afirmou ele, em uma aparente referência à Arábia Saudita.

O reino desenvolveu um roteiro em fases para um acordo, que foi apoiado pelos EUA e pelas Nações Unidas. Nele, a coalizão faz uma série de promessas importantes, incluindo reabrir ainda mais o aeroporto de Sanaa e aliviar o bloqueio em Hodeida.

Os houthis exigem que a coalizão pague os salários de todos os funcionários do estado, incluindo os militares, com as receitas de petróleo e gás, bem como abra todos os aeroportos e portos sob controle do grupo. Uma autoridade houthi envolvida nas deliberações disse que os sauditas prometeram pagar os salários.

O diplomata saudita, no entanto, disse que o pagamento de salários militares está condicionado à aceitação de garantias de segurança pelos houthis, incluindo uma zona tampão com áreas controladas por eles ao longo da fronteira iemenita-saudita. Os houthis também devem suspender o bloqueio a Taiz, a terceira maior cidade do Iêmen.

Os sauditas também querem que os houthis se comprometam a participar das negociações oficiais com outras partes interessadas do Iêmen, afirmou o diplomata.

O funcionário houthi, contudo, disse que seu lado não aceitou partes da proposta saudita, principalmente as garantias de segurança, e se recusa a retomar as exportações de petróleo de áreas controladas pelo governo sem pagar os salários. Os houthis propuseram uma distribuição das receitas do petróleo de acordo com um orçamento pré-guerra — isso significa que as áreas controladas pelos houthis recebem até 80% das receitas, já que são as mais populosas.

O diplomata saudita disse que ambos os lados estão trabalhando com autoridades de Omã para desenvolver a proposta para ser “mais satisfatória para todos os lados”, incluindo outras partes iemenitas.

Em um briefing na segunda-feira (16) ao Conselho de Segurança da ONU, o enviado especial da organização para o Iêmen, Hans Grundberg, expressou seu apreço pelos esforços diplomáticos da Arábia Saudita e de Omã.

“Estamos testemunhando uma possível mudança na trajetória deste conflito de oito anos”, disse Grundberg.

As negociações houthi-sauditas, no entanto, deixaram o governo sem voz, afirmou uma autoridade iemenita. Ela disse que o conselho presidencial do governo teme que a Arábia Saudita “possa fazer concessões inaceitáveis” para chegar a um acordo.

Mas a aliança anti-houthi do Iêmen continua dividida internamente, então há pouco espaço de manobra.

“Não temos outra opção a não ser esperar e ver a conclusão dessas negociações”, disse o funcionário.




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Por: G1

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