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O presídio sem muros instalado na terra dos Witotos, etnia das crianças que sobreviveram a 40 dias na selva

today13 de junho de 2023 4

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Um dos motivos para isso é que as crianças, da etnia Witoto, viviam em uma aldeia indígena em Araracuara, região da Amazônia colombiana no meio da floresta densa e hostil.

Tão hostil que já funcionou por lá, durante décadas, um presídio sem grades. Os limites eram um cânion, um rio e a selva, para a qual os presos não se arriscavam ir. Sabiam, segundo relatos de locais, que as chances de sobreviver seriam escassas.

A Colônia Penal e Agrícola do Sul, ou Colônia de Araracuara, abrigou presos por crimes como roubos e homicídios entre 1937 e 1971.



A ideia de construir uma colônia penal no meio da floresta fazia parte do plano do então presidente colombiano, Enrique Olaya Herrera, de levar presídios para áreas remotas.

Segundo relatos de ex-funcionários do presídio ao jornal colombiano “El Espectador”, foi voltando de uma viagem ao norte do Brasil em 1935 e vendo da janela a imensidão da floresta de Herrera teve a ideia de construir ali o presídio – uma experiência posteriormente criticada por estudos sociológicos por nunca ter cumprido com ideais de reinserção social dos condenados, que acabaram sendo deixados na região e formando famílias.

Infográfico mostra trajeto que avião faria entre as cidades de Araracuara e San José Del Guaviare — Foto: Arte/g1

Araracuara fica no meio da Amazônia colombiana, entre a capital Bogotá e Letícia, cidade que faz tríplice fronteira com o norte do Brasil e o Peru.

O presídio ficava afastado da cidade, em uma clareira na selva. Em vez de muros, havia 12 grandes tendas, cada um com cerca de 60 presos, um pátio central. A única delimitação de espaço construída eram espécies de jaulas, onde os condenados dormiam.

O rio Caquetá, bordeado por um cânion, onde ficava a Colônia Penal de Araracuara. Local é hoje destino turístico. — Foto: Reprodução/ redes sociais

Tirando isso, os principais limites eram o rio Caquetá, de correnteza forte, e a mata densa, um ambiente ao que poucos ali estavam acostumados – nunca foi registrada uma tentativa de fuga no lugar, ainda segundo o relato de ex-funcionários ao “El Espectador”.

Muitos deles, após a condenação, acabaram ficando pela selva e formando família. A convivência com os Witoto, que no início era quase nula por conta da distância entre as aldeias e o presídio, foi se deteriorando. Há registros de violência de ex-presidiários contra os indígenas.

Como era uma colônia penal, os presos trabalhavam em plantações de mandioca e banana em troca de redução da pena. Mas há também diversos relatos e denúncias de torturas e castigos aos presidiários.

Um estudo da própria Polícia Nacional da Colômbia afirma que os castigos faziam parte da rotina do presídio, e entre as punições, as principais, eram:

  • Amarrar presos em uma cruz, apenas com roupas íntimas, por vários dias, o que ocasionou mortes de alguns deles, ainda segundo a polícia;
  • Permanecer de pé, por horas, em estacas;
  • Rastejar de cotovelos pela selva.

O último prisioneiro de Araracuara saiu de lá em 1971, quando a colônia foi desativada, por ordem do governo da época. Abandonada, foi aos poucos sendo destruída e “engolida” pelas árvores da região, que podem chegar a até 60 metros de altura.

Atualmente, há agências de turismo locais que fazem visitas à região, que tem tentado se firmar como destino turístico pela beleza natural.

A única fora de chegar por lá, que não seja arriscando-se pela selva, é de avião – há ainda uma pequena pista de pouso ao lado do cânion e construída, também, pelos presidiários.




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Mundo.

Por: G1

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