A mulher, de 33 anos, alega que os homens fizeram uma ‘fila’ para estuprá-la após ser dopada – ainda com momentos de consciência – na festa que aconteceu em uma casa alugada. Ela disse ter interrompido a gestação por vontade própria após o quarto mês.
A PM informou ter instaurado uma sindicância para apurar a participação de agentes no crime. A Polícia Civil investiga o caso.
Entenda o que se sabe sobre o caso a partir dos seguintes pontos:
Qual é a dinâmica do suposto crime?
O crime, segundo a mulher, aconteceu no bairro Balneário Praia do Pernambuco, no último dia 12 de julho de 2023.
Ao g1, ela disse ter sido convidada com uma amiga para a festa, que tinha aproximadamente 20 pessoas, sendo a maioria de homens. Ela acredita ter sido dopada enquanto ingeria bebidas alcoólicas.
A mulher contou que teve relação consensual com um dos integrantes da festa em um quarto no imóvel e, de repente, após “apagar” no cômodo, os demais se “organizaram” para estuprá-la.
“Me senti usada”, disse ela ao g1, anteriormente.
Ela contou à equipe de reportagem que depois do ocorrido, por estar dopada, dormiu na casa alugada para a festa. O primeiro contato que teve foi com a amiga que esteve no evento. A colega disse não saber nada sobre o estupro, e pensou que as relações tivessem sido consensuais.
Os detalhes sobre o estupro, além do que a mulher se recorda, foram contados por um amigo dela que também estava na festa e disse ter sido o responsável por “interromper” o suposto crime. Ela, no entanto, acredita que ele – o único que não faz parte da PM – também participou do ato.
Como foi a gestação e a interrupção?
A mulher relatou ter descoberto a gravidez apenas em dezembro do ano passado, já que não menstrua normalmente. Ao g1, ela acrescentou não ter se relacionado com outras pessoas durante o período.
A decisão de interromper a gestação, de acordo com ela, aconteceu logo após a descoberta. A mulher teria ido até uma unidade de saúde em Guarujá e perguntado sobre o procedimento, mas foi orientada a realizá-lo na capital paulista.
A vítima disse ter entrado em contato com um hospital – não informado – em São Paulo, mas ouviu que o procedimento seria feito legalmente apenas após o registro de um boletim de ocorrência sobre estupro, feito na sequência por ela em uma unidade da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) em São Paulo.
Segundo o advogado dela, Allan Kardec Campo Iglesias, o primeiro boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil aconteceu de forma “breve” e sem prestar detalhes sobre os homens que teriam cometido o crime.
O documento foi realizado em dezembro apenas para interrompera a gravidez. Ele afirmou que a cliente sentia medo de uma represália.
Os suspeitos entraram em contato com ela após o crime?
Segundo a mulher, sim. Os contatos teriam acontecido por meio de um outro PM, que conhecia as partes e não estava envolvido no crime, logo após o primeiro registro da ocorrência. Os suspeitos, de acordo com a mulher, ofereceram de R$ 20 mil a R$ 30 mil para ‘comprar o silencio’ dela.
O objetivo dos PMs envolvidos, ainda segundo a mulher, era fazer com que ela não desse prosseguimento à denúncia à Polícia Civil revelando os nomes, o que fez em janeiro de 2024 ao registrar novo boletim de ocorrência — lembrando que o primeiro havia sido registrado em dezembro apenas para interromper a gestação.
Mulher que denunciou estupro coletivo e ficou grávida cita propostas de PMs para abafar o caso — Foto: Reprodução
O policial militar que fez a ‘ponte’ entre as partes teria enviado mensagens perguntando sobre o BO e, em seguida, oferecido dinheiro para que ela não seguisse com a denúncia — ela não soube informar como ele foi avisado sobre o registro da ocorrência.
De acordo com o advogado que representa a mulher, ela fingiu a negociação para conseguir mais informações sobre os autores do crime, uma vez que estava dopada e não lembra de detalhes. Ele acrescentou que a vítima não recebeu qualquer quantia dos PMs.
Tentaram ‘comprar o silêncio’ da vítima?
O g1 obteve dois prints de conversas via WhatsApp que mostrariam as ‘negociações’ (veja abaixo). Na primeira imagem, duas pessoas iniciam uma conversa com a sigla ‘Q.A.P’, que significa “na escuta”, no meio policial.
Em seguida, uma delas afirma que “todos aceitaram”, mas “fixaram o valor em 20 [mil]”, sendo “10 de cara e os outros 10 quando acabar”. A equipe de reportagem apurou que o “acabar” seria em referência à conclusão do caso, que havia sido denunciado sem detalhes à Polícia Civil.
Mulher que denunciou estupro coletivo e ficou grávida fala em proposta de R$ 30 mil para abafar o caso — Foto: Reprodução
A segunda imagem mostra uma suposta conversa entre a mulher e o PM que ‘representou’ o grupo envolvido. Neste momento, ela teria dito que “só queria acabar com isso logo” e que o valor de R$ 30 mil seria o “mínimo depois de tudo”.
Quais são as ações das autoridades?
A Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP-SP) informou, em nota, que a Polícia Civil investiga a denúncia da mulher como um caso de “estupro de vulnerável”.
Segundo a SSP-SP, foi requisitado exame sexológico e médico para a vítima. O caso foi registrado por ela na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da capital paulista e encaminhado para a DDM de Guarujá, que segue com as investigações.
“Diante da gravidade da denúncia, a Polícia Militar informa que instaurou uma sindicância para apurar a participação de policiais militares no crime”, complementou a SSP.
Conforme apurado pelo g1, após a repercussão do caso, a deputada estadual Beth Sahão (PT) oficiou, nesta quinta-feira (1º), o caso junto à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo e também a SSP-SP.
No ofício, obtido pela equipe de reportagem, a deputada pede pela apuração da denúncia por parte dos dois órgãos.
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