Fabiane foi vítima de uma notícia falsa publicada e compartilhada em maio de 2014 no Facebook. Ela foi confundida com uma suposta sequestradora de crianças para rituais de magia negra, amarrada e agredida. Quatro pessoas estão presas pelo crime.
O marido de Fabiane, Jailson Alves das Neves, disse que se solidariza com as pessoas que sofrem ou sofreram por causa de fake news e espera que os familiares de vítimas, assim como ele, encontrem um conforto. “Agora encontrei o consolador da minha alma que é Jesus Cristo. Lembranças eu e minha filha sempre teremos”.
O advogado de defesa da família de Fabiane, Airton Sinto, reforçou que esse foi o primeiro caso de fake news que ocasionou uma morte e que teve repercussão internacional. Até agora, oito anos após o crime, a família da vítima luta pela indenização da rede social.
Nenhuma alteração porque estamos aguardando o julgamento dessa ação com repercussão geral, que vai acabar norteando a jurisprudência nessa questão da constitucionalidade ou não do art.19 do Marco Civil, que determina que os provedores não são responsáveis pelas postagens dos usuários, o que é um absurdo”.
“O Facebook sempre teve essa ferramenta de poder saber o que foi postado, como ele faz hoje. Se você escreve algo que é contrário à política deles, [pouco depois] sua postagem está apagada e o seu perfil bloqueado, eles têm essa ferramenta e tinha na época, deixaram propagar as coisas na postagem da Fabiane porque eles estavam movimentando a rede, são totalmente culpados”, disse Sinto.
Justiça com as próprias mãos
Vinícius Vaz ressalta que existem muitos canais de comunicação não oficiais e o internautas, às vezes, deixam de checar a informação. ” As pessoas acabam se apegando à rede social usada para passatempo e a utilizam como uma fonte de informação”.
“Na era digital, a informação vem rápido e você [as pessoas] não procura a origem. Primeiro passo é se certificar da origem dessa informação”, disse Vinícius Vaz.
Segundo o especialista em segurança, as pessoas que praticam a justiça com as próprias mãos agem na emoção, especialmente quando o assunto é voltado para crianças ou de mulheres vítimas de agressão. “A gente acaba tomando as dores de uma emoção, que foge da régua normal de julgamento”.
“A pessoa tem que ter esse autocontrole de não querer fazer [justiça] com as próprias mãos. [Se tomar tal atitude] estará tirando o julgamento e a punição que a Justiça faria para aquele agressor e transferindo para você, que resolver fazer justiça com as próprias mãos”, afirmou.
Ele acredita que as pessoas que praticam esses atos estão descrentes com a Justiça. “É uma cultura que está sendo criada por causa da insatisfação da sociedade”.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o ato de violência, mencionado na reportagem, pode ser punido de acordo com a legislação em vigor e que toda vítima ou testemunha de um crime deve acionar as forças de segurança pelos números 190 da Polícia Militar ou 197 da Polícia Civil.
O g1 entrou em contato com o Facebook sobre a questão da indenização contra a rede social, mas a empresa informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
A polícia identificou cinco suspeitos pelo espancamento e eles foram levados a julgamento. Em outubro de 2016, Lucas Rogério Fabrício Lopes, foi condenado a 30 anos de cadeia por participação no crime.
No dia 28 de janeiro de 2017, outros quatro foram condenados: Abel Vieira Batalha Júnior, Carlos Alex Oliveira de Jesus, e Jair Batista dos Santos, todos estes receberam pena de 40 anos de prisão em regime fechado; e Valmir Dias Barbosa, de 26 anos de detenção.
Fabiane Maria de Jesus foi linchada e morta após boatos — Foto: Reprodução
Moradores de uma comunidade no interior do México lincharam e queimaram vivo Daniel Picazo, de 31 anos, que identificaram equivocadamente como ladrão de crianças. O caso aconteceu na noite da última sexta-feira (10), após um boato que se espalhou na localidade de Papatlazolco sobre uma suposta tentativa de sequestro de menor.
Os moradores enfurecidos capturaram Daniel, o espancaram e o queimaram vivo com gasolina. Polícia e paramédicos deslocaram-se ao local, mas nada puderam fazer porque os assassinos não permitiram a passagem.
Quando o resgate finalmente conseguiu chegar até Daniel, ele já não apresentava sinais vitais. O jovem advogado, segundo o jornal local “El Universal”, estava apenas passeando pela cidade como turista
Alguns moradores comentaram que a comunidade estava assustada, pois um áudio compartilhado em um aplicativo de mensagens alertava sobre um desconhecido que andava pela região com o intuito de sequestrar crianças.
Daniel Picazo estava apenas passeando por Papatlazolco, mas acabou linchado — Foto: Reprodução/Facebook/Daniel Picazo
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