Carlinhos morreu após três paradas cardiorrespiratórias no último dia 16 de abril, quando estava internado na Santa Casa de Santos (SP). Um vídeo, obtido pelo g1, mostra o jovem sendo agredido dentro de um banheiro da Escola Estadual Júlio Pardo Couto, no dia 19 de março. Ele precisou de atendimento médico após outros meninos pularem nas costas dele, em 9 de abril, na unidade.
Ao g1, o serralheiro Cauê Silva, de 37, afirmou que o filho é vítima de uma injustiça. “Estamos todos desesperados porque meu filho não é um monstro igual estão pintando por aí. Estamos todos em choque, recebendo ameaças todo o tempo. Meu filho não teve nenhuma relação com a morte do Carlos e tão condenando ele. Isso é uma injustiça”, disse o pai do adolescente apreendido.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) representou pela apreensão dos dois adolescentes por conta da prática de bullying somada à agressão registrada em vídeo no dia 19 de março. Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos pela Polícia Civil na manhã da última segunda-feira (6).
O serralheiro confirmou que o filho já estava dentro do banheiro antes da confusão e alegou que o menino apenas assistiu às agressões, como outros menores também fizeram, sem ter agredido Carlinhos. “Nós acreditamos que, infelizmente, ele se encontrava no lugar errado e hora errada“.
O filho de Cauê teve uma briga com Carlinhos antes da agressão no banheiro, o que motivou a convocação dos responsáveis à escola.
A discussão ocorreu porque o filho do serralheiro teria dado risada do pirulito [doce] de Carlinhos, que perguntou o motivo do riso e o teria chutado [o filho de Cauê] na canela. O Conselho Tutelar acompanhou o caso.
O menor apreendido teria revidado da agressão dando dois socos no rosto de Carlinhos. Ambos foram advertidos pelo ocorrido. “Após isso não houve mais nada entre os meninos. […] No caso do banheiro, meu filho já estava lá dentro e, na hora da briga, ficou assistindo igual a todos [outros]”, disse.
O adolescente morreu em 16 de abril, na Santa Casa de Santos. O pai dele, Julisses Fleming, afirmou que o filho era saudável e acredita que a morte aconteceu em decorrência da agressão sofrida. Segundo apurado pelo g1, o caso foi registrado na Polícia Civil e a causa da morte ainda está sendo investigada.
Julisses afirmou que os médicos disseram que a suspeita era de que a causa da morte seria uma infecção no pulmão. Em nota, a Santa Casa de Santos confirmou a transferência da UPA Central, mas disse não ter autorização para dar mais informações sobre o caso.
O g1 teve acesso à declaração de óbito de Carlos Teixeira, que apontou a causa da morte como: broncopneumonia bilateral. O documento servirá como ‘base’ para o atestado de óbito, que pode apontar a morte em decorrência de agressões, e que leva de 30 a 90 dias para ficar pronto (confira, mais adiante, a explicação de um médico)
Menino morto após ser agredido em escola chorou em casa relatando caso ao pai — Foto: Reprodução
Minutos antes de Carlos morrer, no entanto, o homem contou ao g1 que precisou acalmá-lo. O adolescente passou a dizer repetidamente que tinha medo de partir. “Me sinto acabado e destruído”, afirmou o pai.
De acordo com a mãe do adolescente, Michele de Lima Teixeira, devem responder pela morte de Carlinhos: a diretoria da escola, os meninos que fizeram bullying e o Pronto-socorro Central, onde o filho foi atendido cinco vezes e liberado em todas elas.
“Meu filho tem uma história e uma família. O vazio vai ficar para sempre e ninguém vai sofrer nada porque eu não acredito [na Justiça]. Mas eu acredito que cada um colhe o que planta”, disse ela.
Declaração de óbito de adolescente em Praia Grande (SP) traz como causa da morte uma broncopneumonia bilateral — Foto: Reprodução
Ao g1, o médico clínico Carlos Machado explicou o que é uma broncopneumonia bilateral. Segundo ele, trata-se de uma infecção ‘mais ampla’ do que uma pneumonia, que normalmente é causada por vírus e pode se agravar por uma bactéria nos dois pulmões.
Antes da declaração de óbito, a pedido do g1, Carlos Machado e o também médico clínico Marcelo Bechara analisaram o caso com base nas próprias experiências profissionais e nas informações passadas pela equipe de reportagem.
Ambos afirmaram que o excesso de peso nas costas pode ter levado a um trauma — lesões causadas por um evento traumático externo ao corpo e que acontece de forma inesperada.
De acordo com Carlos Machado, o trauma pode ter sido uma fratura ou esmagamento da vértebra na coluna cervical, torácica e até na costela.
“Se ele estiver com uma dessas lesões, […] podia estar furando o pulmão, o que dificulta a respiração e, respirando menos, faz com que tenha secreção acumulada, que é uma infecção pulmonar”, afirmou o profissional.
Marcelo Bechara acrescentou que, pelo mesmo motivo, ocorre uma parada cardiorrespiratória. “O excesso de peso nas costas podem ter levado a um trauma que pode levar a um pneumotórax […], [quando] o pulmão não consegue ventilar e uma hora chega a parada cardíaca mesmo”, disse ele.
Seduc-SP, sobre Carlos Teixeira
A Secretaria de Educação do Governo de São Paulo informou que o vídeo da agressão foi gravado no dia 19 de março. “A Pasta repudia toda e qualquer forma de agressão e de incitação à violência dentro ou fora das escolas. Na época, ao tomar ciência do caso apresentado, a gestão escolar acionou Conselho Tutelar e os responsáveis do aluno. Também registrou o ocorrido no aplicativo do Conviva”.
A Seduc ainda afirmou que lamenta profundamente o falecimento do estudante. “A Diretoria de Ensino de São Vicente instaurou uma apuração preliminar interna do caso e colabora com as autoridades nas investigações”.
A Prefeitura de Praia Grande disse que lamenta profundamente a ocorrência com um aluno da Escola Estadual Júlio Pardo Couto, no Bairro Nova Mirim. A Administração municipal se solidariza com os familiares e amigos do jovem.
A Prefeitura solicitou junto a secretaria de Estado uma apuração completa dos fatos, já que a unidade de ensino é estadual. A administração municipal explicou ainda que também já está analisando todos os procedimentos adotados no atendimento efetuado no pronto-socorro da Cidade.
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