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O levantamento apontou, ainda, que 24 das 48 mortes foram registradas em comunidades de Santos e São Vicente. Nesses locais, aproximadamente 36 mil moradores estão incluídos no Cadastro Único (CadÚnico), ou seja, possuem acesso a programas sociais.
85% das 48 mortes na Operação Verão aconteceram em áreas de alta vulnerabilidade no litoral de SP — Foto: Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
Segundo a Polícia Militar, os casos de mortes envolveram resistência às ações de combate ao tráfico. A população dessas comunidades, por sua vez, relatou o sentimento de medo durante a operação.
O PM Samuel Wesley Cosmo foi baleado no Complexo do Dique da Vila Gilda, em Santos (SP), conhecido também como a maior favela de palafitas do Brasil, abrigando cerca de seis mil casas nessas condições. Dias depois, a apenas alguns quilômetros do local da ocorrência, três suspeitos foram mortos na comunidade do ‘Sambaiatuba’.
“A gente vive num clima de medo constante”, afirmou uma moradora, que preferiu não se identificar. “Já teve uma vez que levei meu filho para um projeto [social] que ele vai e [vimos] um monte de bala. Não sabemos nem de onde a bala está vindo. Temos que sair correndo e nos esconder”.
A moradora acrescentou que dois filhos estão matriculados para estudar à noite, mas sentem insegurança na hora de sair de casa. “A menina parou porque está com medo. Já o menino vai um dia sim e um dia não. Quando sabemos que tem polícia aqui, a gente nem sai”, disse ela.
Jovem morto em confronto com a polícia durante Operação Verão era deficiente visual — Foto: Reprodução
Moradores de outras comunidades classificadas como ‘alta vulnerabilidade’ na Baixada Santista compartilham o sentimento de ‘medo’, como é o caso de pessoas que vivem no bairro Parque São Vicente, localizado na cidade de mesmo nome, onde Hildebrando Simão Neto e Davi Gonçalves Júnior foram mortos.
Hildebrando havia sido diagnosticado com ceratocone, uma doença que pode levar à cegueira, e não enxergava com nitidez a mais de 30 centímetros, em um dos olhos. A mãe de Davi, por sua vez, disse à equipe de reportagem que o filho trabalhava desde os 13 anos.
“Ele levantava entre 6h e 6h30. Começou como ajudante de pedreiro”, desabafou a mulher, que também não quis ser identificada. “Às vezes, eu só peço forças para Deus”.
Baixada Santista, no litoral de SP, abriga a maior favela de palafitas do Brasil — Foto: Reprodução/Globo SP
Além do medo das ações policiais, a população também vive em condições precárias. A equipe de reportagem registrou que, no Dique das Caixetas, no bairro do Jóquei, em São Vicente, o lixo estava se acumulando pelas ruas.
“Aqui é bem precário quando chove. A maré invade as casas e o pessoal tem que sair correndo para tirar as coisas. É bem difícil”, disse a líder comunitária Edna Santo.
Já o garçom autônomo Maurício Mendes afirmou morar no local por questões financeiras. “Sou autônomo, então não consigo pagar aluguel de uma casa. O pessoal está cobrando muito caro. Como moro sozinho e sou solteiro, R$ 500 é muito caro”, contou.
Baixada Santista, no litoral de SP, abriga a maior favela de palafitas do Brasil — Foto: Reprodução/Globo SP
Em entrevista à Globo SP, um dos coordenadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, David Marques, explicou que este tipo de ação policial está ‘longe’ de afetar as lideranças do tráfico de drogas ou a facção criminosa que atua no estado de São Paulo.
“Muitas vezes as pessoas que mais lucram e organizam essas redes criminais nem estão nesses locais”, explicou o coordenador.
Marques afirmouque, na prática, o cenário é de um número crescente de policiais sendo vítimas de homicídios e sofrendo ferimentos, além de pessoas vítimas da própria atuação policial. Já o narcotráfico, que segundo ele corresponde a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, segue sem sofrer “sem qualquer tipo de impacto significativo no seu funcionamento”.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) afirmou que a polícia atua para proteger a população e combater o crime. Além disso, a pasta pontuou que 946 pessoas foram presas durante a Operação Verão.
A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) afirmou, também por meio de nota, ter entregue 720 apartamentos para áreas de palafitas. A CDHU acrescentou que os imóveis atenderão quase 3 mil pessoas na Baixada Santista.
Já a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) alegou trabalhar em conjunto com as prefeituras para melhorar o atendimento.
Vídeo mostra o PM da Rota sendo baleado no rosto em viela no litoral de SP
A Operação Verão foi estabelecida na Baixada Santista desde dezembro de 2023. No entanto, com a morte do PM Samuel Wesley Cosmo, em 2 de fevereiro, o estado deflagrou a 2ª fase da ação com o reforço policial na região.
Em 7 de fevereiro, mais um PM foi morto, o cabo José Silveira dos Santos. Na ocasião, começou a 3ª fase da operação, que foi marcada pela instalação do gabinete de Segurança Pública em Santos e mais policiais nas cidades do litoral paulista. A equipe da SSP-SP manteve a sede na Baixada Santista por 13 dias.
A 3ª fase da Operação Verão permanece em andamento por tempo indeterminado. Já foram registradas 48 mortes de suspeitos.
Por: G1
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