Ao longo das 45 páginas detalhadas desta acusação, o tema da desonestidade é repetido várias vezes.
Ele fala sobre “mentiras prolíficas sobre fraude eleitoral” e diz que “essas alegações eram falsas e o réu sabia que eram falsas”.
Este será claramente um tema-chave quando este julgamento chegar ao tribunal. Se isso leva a uma condenação não está claro — alguns especialistas jurídicos não acreditam nessa possibilidade.
Mas essas acusações são, na minha opinião, as mais graves e potencialmente as mais importantes que Donald Trump já enfrentou. Até porque dizem respeito a coisas que aconteceram enquanto ele ainda era presidente.
O processo em Nova York, que foi aberto em março, versa sobre alegações que ele cometeu fraude comercial para ocultar um dinheiro que teria pago a uma estrela pornô, Stormy Daniels, antes de ser presidente.
O processo federal relacionado aos documentos confidenciais que Trump manteve em sua residência em Mar-a-Lago, no Estado da Flórida, detalha eventos que aconteceram depois que ele deixou o cargo.
Mas essas últimas acusações — de que ele conspirou para tentar anular os resultados das eleições de 2020 — giram em torno de coisas que aconteceram quando Trump ainda ocupava a Casa Branca. Ele é acusado de ter mentido repetidamente para o povo americano enquanto era seu presidente.
Há também um impacto no mundo real apresentado nesta acusação que não vimos nos outros casos.
Todos viram a violência que engolfou o Capitólio dos Estados Unidos em janeiro de 2021 e, embora Smith tenha parado de acusar Trump de incitar aquela multidão, o promotor foi claro em sua declaração aos repórteres na qual observa essa conexão.
Alguns comentaristas americanos apontaram outra razão pela qual eles acham que essas acusações são as mais sérias. Eles veem na suposta conduta de Trump uma ameaça aos ideais que sustentam os alicerces do país.
Desde a fundação do país, nenhum ex-presidente “foi acusado de conspirar para manter o poder em um elaborado esquema de engano e intimidação que levaria à violência nos corredores do Congresso”, escreveu Peter Baker no jornal americano The New York Times.
“Por mais sério que o suborno e os documentos confidenciais possam ser, esta terceira acusação em quatro meses chega ao cerne da questão; a questão que definirá o futuro da democracia americana”, acrescentou.
Smith também fez uma observação semelhante durante a acusação, de que Trump criou “uma intensa atmosfera nacional de desconfiança e raiva e erodiu a fé do público na administração da eleição”.
Mas será que isso importa para os eleitores?
Em todos os Estados Unidos, encontrei um número incontável de correligionários de Trump que parecem acreditar sinceramente que ele realmente obteve mais votos do que o atual presidente Joe Biden e foi destituído do cargo.
Esse é um dos princípios de fé que solidificam sua base de apoio.
Como essas pessoas vão reagir quando ouvirem evidências detalhadas de que Trump sabia que não havia nenhuma evidência de fraude eleitoral?
Que ele ouviu repetidas vezes, por seu círculo íntimo de confiança, que havia perdido a eleição? A fé deles pode suportar o peso das evidências que a promotoria apresentará ao tribunal?
O promotor Smith diz que está pressionando por um julgamento rápido. Portanto, pode muito bem estar ocorrendo bem no meio da próxima eleição presidencial. E Trump ainda é o claro favorito para se tornar o candidato presidencial do Partido Republicano.
Assim, os eleitores — e não apenas a base de Trump, mas republicanos moderados, independentes e eleitores indecisos cruciais — ouvirão detalhes sobre a “desonestidade, fraude e engano” durante o processo eleitoral.
É um clichê descrever fatos envolvendo Trump como “sem precedentes”.
Mas que outras palavras há para descrever a perspectiva de um candidato à Presidência dos EUA fazer uma campanha ao mesmo tempo em que é processado por tentar subverter os resultados da última eleição?
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