Eurocética de carteirinha e oriunda do partido Irmãos da Itália, que tem raízes no fascismo, prometia embates com a União Europeia, anunciando uma rígida política migratória e muita disposição para promover seus valores, calcados na família e no nacionalismo, contrários ao que ela chama de ideologia de gênero.
Desde outubro no cargo, ela vem se destacando como exímia jogadora no turbulento cenário político da Itália, que em menos de dez anos teve sete primeiros-ministros.
Sua popularidade, em torno de 52%, é a maior também entre seus vizinhos europeus. Meloni tem se revelado uma pragmática convicta, ciente da dependência da Itália dos fundos europeus, sobretudo os mais de 200 bilhões de euros programados para o pós-pandemia.
Ela provou um orçamento moderado, reduziu o déficit fiscal para 4,3% e elevou o crescimento da Itália este ano para 0,9%.
Os que a apontavam como uma versão feminina do primeiro-ministro Viktor Orbán, da Hungria, se surpreenderam.
A premiê moderou a retórica incendiária e se mostrou uma fiel parceira da Otan. O apoio contundente à Ucrânia incluiu uma visita ao país invadido pela Rússia e a ajuda militar, apesar da oposição de seus aliados da coalizão governista — o Força Itália, do falecido Silvio Berlusconi, e a Liga, do populista Matteo Salvini, simpáticos ao presidente russo, Vladimir Putin.
O presidente Lula e a premiê italiana, Giorgia Meloni, durante chegada para reunião bilateral, em Roma, em 21 de junho de 2023. — Foto: Reprodução/Twitter
A tão propagada política de linha-dura aos imigrantes, tema central de sua campanha, assustou a União Europeia. A premiê ameaçava implementar um bloqueio naval para travar desembarques de refugiados e a construção de centros de registros de identificação de migrantes em territórios africanos. Os dois projetos não se concretizaram.
Giorgia Meloni ensaiou embates com o presidente Emmanuel Macron, no início do governo, quando proibiu que um navio humanitário com 230 imigrantes atracasse na Itália. A embarcação foi obrigada a desembarcar na França, que retaliou, recusando-se a receber 3.500 imigrantes da Itália.
Os dois líderes tiveram a primeira reunião bilateral esta semana em Paris, para amenizar as tensões e acertar os ponteiros.
Apesar dos encontros cordiais e de um certo alívio manifestado nestes primeiros meses, os vizinhos europeus ainda costumam olhar a primeira-ministra italiana com desconfiança. A agenda conservadora da premiê, hostil aos direitos LGBTQIA+, põe o país no mesmo nível de Hungria e Polônia, que têm políticas rechaçadas pelo bloco.
Recentemente, o governo de Meloni ordenou que os conselhos municipais parassem de registrar filhos de pais do mesmo sexo. “Ser homem ou mulher está enraizado em quem somos e não pode ser mudado”, justificou a premiê em entrevista, num indício de que não há pragmatismo que a leve a abdicar dos valores sociais que a ajudaram a elegê-la.
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Por: G1
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