Em 20 anos no comando do país – na primeira etapa como primeiro-ministro – Erdogan passou de reformador econômico a autocrata, desmantelando instituições e concentrando poderes.
Presidente turco, Tayyip Erdogan, durante coletiva da Otan — Foto: Yves Herman/REUTERS
A “Nova Turquia”, que ele anteviu em 2003 quando o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) chegou ao governo, descambou para o autoritarismo, com expurgos de milhares de funcionários públicos, controle do Judiciário e da mídia. As prisões estão abarrotadas de opositores.
O alto custo de vida, porém, vem cobrando a fatura ao presidente. Diante da taxa de inflação que chegou a 85% em novembro, ele se vê diante do maior desafio eleitoral de sua carreira política, embora ainda não tenha anunciado formalmente a candidatura. A legislação prevê o limite de dois mandatos presidenciais, mas poucos duvidam da margem de manobra do presidente.
Para se manter no poder, a veia populista falou alto: Erdogan aumentou drasticamente os gastos públicos, que equivalem a mais subsídios de energia, salário mínimo duplicado e aumento das aposentadorias, para citar algumas das medidas que aliviariam o desgaste político de seu governo.
Partidos de oposição se aliaram numa coalizão denominada Mesa dos Seis, que ainda não apresentou o candidato único, mas propõe reformas na Constituição que certamente revogariam as decisões que mudaram o país sob a sigla de Erdogan. Um dos cotados é Kemal Kilicdaroglu, líder do Partido Republicano do Povo (CHP), a principal legenda que se opõe ao governo.
Outro candidato forte, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, foi banido da política e recorre da sentença de dois anos e sete meses de prisão, por supostamente ter insultado funcionários eleitorais. Em 2019, ele venceu o partido de Erdogan nas eleições municipais, mas o primeiro turno acabou cancelado por pressão do governo. Na repetição do pleito, Imamoglu teve uma vitória esmagadora em Istambul e ainda ocupa o cargo, apesar da condenação.
O nome de Erdogan se imiscuiu de tal forma no país, que, apesar do desgaste político e econômico, ele detém as cartas para se perpetuar no poder. A Turquia tem importância estratégica para o Ocidente, o Oriente e o mundo árabe, e o presidente sabe, como poucos, manejar a política externa na base da ambiguidade.
Erdogan se habituou a contornar crises domésticas aproveitando-se de tensões no âmbito externo. No mês passado, valeu-se da queima de um exemplar do Alcorão em frente à embaixada turca em Estocolmo, por um extremista de direita, para ameaçar vetar o ingresso da Suécia na Otan. A população turca o apoiou em peso.
A concentração de poderes o tornou o homem forte do país, mas também pode atuar como um fator desabonador. Os turcos veem nele o responsável por todas as mazelas do país. Por esta razão, o terremoto deste domingo lançou Erdogan ao terreno da incerteza.
Pessoas procuram sobreviventes nos escombros em Diyarbakir, Turquia, nesta segunda-feira (6) — Foto: Sertac Kayar/Reuters
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Por: G1
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