Veja abaixo uma galeria de fotos de como ficou a cidade.
A razão para isso fica evidente quando se chega ao centro de Grindavik. A enorme rachadura que atravessa a cidade de 3,3 mil habitantes atingiu casas e destruiu tubulações. E, mesmo que a lava não escorra por lá, outros tremores podem deformar ainda mais o solo – ou seja, causar mais rachaduras no chão e, portanto, mais estragos na infraestrutura.
A defesa civil islandesa então estabeleceu bloqueios extremamente rígidos contra a entrada de pessoas na área – mesmo moradores precisam seguir protocolos para buscar as coisas em casa.
Grindavik foi totalmente evacuada há quase três semanas depois que uma série de terremotos quase ininterruptos deixou claro o risco de uma erupção nos arredores da cidade.
O povoado fica bem em uma das regiões com maior atividade sísmica da Islândia – a península de Reykjanes. Por ali passa o encontro de duas placas tectônicas: a da América do Norte e a da Europa.
Logo depois da evacuação de Grindavik, os habitantes tinham de esperar que a defesa civil permitisse que, escoltados, passassem em suas casas para buscar pertences. E isso não acontecia todos os dias.
A equipe da TV Globo visitou o povoado duas vezes na última semana. Na primeira, tivemos de esperar uma autorização que só veio com uma hora de antecedência até o horário em que um ônibus sairia de um centro de imprensa perto da capital, Reykjavik, com outros profissionais de jornais, emissoras e agências internacionais. E todas essas equipes tinham de ficar juntas.
Na segunda visita, no sábado, o risco de uma erupção repentina dentro da cidade tinha diminuído. Assim, as autoridades islandesas permitiram a abertura de Grindavik apenas nos horários em que há claridade no escuro outono da Islândia – das 11h às 16h.
A escolta não era mais necessária, mas mesmo assim a equipe precisou passar por um bloqueio e comprovar que era um time de jornalistas – e não de turistas curiosos. Ao chegar no centro de Grindavik, um drone da polícia islandesa nos acompanhou até que comprovássemos, mais uma vez, nosso trabalho.
E nas duas visitas, o mesmo cenário: uma cidade fantasma. Alguns moradores chegaram a deixar Grindavik sem que apagassem as luzes de casa. Uma evacuação rápida, em que mal houve tempo de recuperar os pertences.
A população foi retirada da cidade porque havia risco de atividade vulcânica
Não é como se Grindavik não fosse acostumada às intempéries. Além dos terremotos – que por si já deixam a cidade vulnerável aos estragos – fortes tempestades atingem a península de Reykjanes com frequência. Quando nossa equipe visitou Grindavik, as rajadas chegavam a quase 100 km/h.
Mas por que então as pessoas viviam lá?
Grindavik nasceu há mais de um milênio dedicada à principal fonte de proteína na alimentação islandesa: a pesca. Mas foi só recentemente que o vilarejo cresceu, graças em grande parte a outra atividade econômica crucial para a Islândia: o turismo.
A seis quilômetros de onde abriu-se uma rachadura, fica a Blue Lagoon, o resort de águas termais azuis que se transformou num dos maiores chamarizes para o turismo na Islândia.
Dentro da área de risco, a Blue Lagoon foi fechada. Para tentar salvar a atração de uma eventual explosão de lava, o governo islandês começou a construir uma barreira de terra e pedra ao redor do local.
E também perto de Grindavik, a dez minutos de carro, fica o vulcão Fjagradalsfjall, que tem entrado em erupção a cada ano desde 2021. Como a cratera fica em uma área segura e a defesa civil consegue monitorar o tamanho das erupções, a montanha virou uma atração turística – que o próprio governo da Islândia lamentou ter de fechar com os terremotos deste último mês.
Em entrevista à TV Globo, a ministra de Cultura e Negócios da Islândia, Lilja Dögg Alfreðsdóttir, reconheceu que as novas crateras abertas compõem sim um ativo turístico – tanto que turistas têm sido barrados a cada vez que tentam entrar na área isolada.
“A cratera é sem dúvida muito interessante, mas nossa prioridade é resguardar os moradores”, disse a ministra.
O governo islandês até admite que a cratera em Grindavik possa – num futuro bem próximo, com a cidade fora de perigo – se converter em mais uma atração turística na península de Reykjanes. Afinal, são apenas 43 quilômetros que separam o povoado do maior aeroporto da Islândia.
Enquanto isso não acontece, os moradores de Grindavik seguem em compasso de espera, em casas, hotéis e outras moradias temporárias. Sem previsão de volta.
E, mesmo com a ajuda do governo para custear as despesas, as preocupações estão no ar: seguro das moradias, adaptação dos filhos à escola nova, perdas do comércio local e todos os outros problemas decorrentes da mudança às pressas.
Porém, um dos símbolos da Islândia – que estampa de camisetas a canecas em lojas de souvenir – é a expressão que traduz o otimismo dos islandeses: þetta reddast. O equivalente ao nosso ‘no fim, tudo se ajeita’.
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