O g1 entrevistou especialistas que explicaram sobre as consequências das fortes chuvas na região e analisaram a possibilidade da cidade ficar completamente alagada.
⛈️ A cidade pode ficar completamente alagada?
Sim. A oceanógrafa e mestranda de Ciência e Tecnologia do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Mariana Amaral, acredita que um conjunto de fatores podem deixar a cidade debaixo d’água. Sendo eles:
➡️Dias seguidos de chuvas, com volume semelhante ao registrado na terça-feira (4);
➡️Falta de escoamento adequado;
➡️Aumento do nível dos rios e mares.
“[Com] os rios aumentando o seu nível, não tem para onde ir essa água. O oceano, ao invés de estar recebendo, está mandando a água em forma de tempestades”, explicou ela.
Onda de alagamento atinge carro em Santos (SP) — Foto: g1 Santos
Já o pesquisador, consultor e doutor em Ciência Ambiental, Renan Ribeiro, acredita que a cidade pode ‘colapsar’, porém, a situação poderia durar até 24 horas.
De acordo com ele, apesar da maré alta funcionar como uma ‘barreira’ e facilitar alagamentos, ela baixa em até seis horas. Diferente, por exemplo, do Estado do Rio Grande do Sul. O especialista explicou que, neste caso, o escoamento é realizado em uma lagoa fechada, ou seja, não diminui.
“[Com o] aumento do nível do mar, a frequência e intensidade de eventos extremos, Santos pode sofrer mais vezes com alagamentos e ressacas. Mas prefiro ver pelo lado menos pessimista ou pelo menos acreditar que a cidade fará investimentos em drenagem e defesa contra esses eventos”, disse.
🌊Chuva ajuda o mar a ‘engolir’ a cidade?
Mar invadindo faixa de areia e calçada em Santos (SP) — Foto: Prefeitura de Santos/Arquivo Carlos Nogueira
Segundo Renan, a chuva excessiva não impacta ou acelera esse fenômeno. Na realidade, o aumento do nível do mar eleva a frequência e intensidade de eventos extremos, como tempestades e ressacas.
Sim. Conforme dados divulgados pela administração municipal, a cidade está localizada no litoral sul do Estado de São Paulo, dentro da Ilha de São Vicente, junto com o município de mesmo nome, ou seja, é rodeada pelo mar.
Com área total de 271 km², a parte insular de 39 km² abriga a área urbana. Sendo assim, pode-se afirmar que a maior parte dos santistas estão em uma ilha. Os outros 232 km² abrigam a área continental predominada pela Mata Atlântica e pontuada por apenas alguns bairros.
Santos está localizada em uma ilha — Foto: Prefeitura Municipal de Santos/Divulgação
De acordo com o oceanógrafo Renan, o fato de ser uma ilha não é um problema para a cidade sofrer com alagamentos, mas ter maré por todos os lados dificulta o escoamento. Ou seja, o trabalho para resolver o problema é ainda maior.
Um fator que atrapalha, de acordo com o especialista, é a topografia de Santos. “Praticamente plana e próxima ao nível do mar. O nome de nossa região, Baixada Santista, já explica muito. Vivemos numa baixada”, explicou ele.
Santos, SP, conta com sete canais responsáveis pelo escoamento das águas pluviais para o mar — Foto: Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
A cidade tem sete canais responsáveis pelo escoamento das águas pluviais para o mar. As construções foram projetadas por Saturnino de Brito, engenheiro sanitarista que viveu entre 1864 e 1929.
“Saturnino de Brito pensou em um sistema que funciona até os dias de hoje e já foi até replicado em outros lugares do Brasil. Antes dos canais, tínhamos milhares de problemas com contaminações, doenças, altos índices de mortalidade e falta de infraestrutura”, explicou a bióloga Débora Mandaji, em conteúdo divulgado em 2022 pelo município.
Inaugurada em 1914, a Ponte Pênsil de São Vicente é a primeira ponte suspensa do Brasil — Foto: Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
As interligações da Ilha de São Vicente com o continente são feitas por pontes, sendo rodoviárias e ferroviárias. Uma delas é a Ponte Pênsil, inaugurada em 1914 e considerada a primeira ponte suspensa do Brasil.
☔ Como ocorrem os alagamentos?
Água da chuva invadiu casa de Maria Angélica, no bairro Caneleira, em Santos (SP) — Foto: Arquivo Pessoal
O secretário de Meio Ambiente da prefeitura, Marcio Paulo, explicou à equipe de reportagem que a água cai na superfície e tende a correr para a parte mais baixa do município. Como a cidade está localizada em uma ilha, segundo ele, a chuva termina de escoar para o mar.
De acordo com a oceanógrafa Mariana Amaral, para a água escoar da forma correta e não haver alagamentos, a infraestrutura da cidade deve estar preparada e os bueiros não podem estar entupidos de lixo.
O secretário afirmou que a cidade está preparada e em fase de diminuição dos problemas de alagamento por meio da construção de mais estações elevatórias — equipamentos que fazem o bombeamento da água da chuva.
“O sistema de drenagem da cidade precisa ser melhorado, isso é fato. Mas um volume histórico como esse [de 121,4 mm] é difícil você ter uma drenagem que dê vazão […]. A preocupação das pessoas é fundamentada porque a gente vê na situação do Rio Grande do Sul a necessidade de preparo”, afirmou ele.
📚Prefeitura de Santos cita ações:
Geobags em Santos (SP) — Foto: Doug Fernandes/Prefeitura Municipal de Santos
Lançado em 2020, o Plano de Ação Climática de Santos (Pacs) traçou 50 metas para serem cumpridas entre 2025 e 2050, baseadas em oito eixos
- Planejamento urbano sustentável e meio ambiente
- Redução de vulnerabilidades e gestão de riscos climáticos
- Inclusão e redução da vulnerabilidade social
- Resiliência urbana e soluções baseadas na natureza
- Resiliência na zona costeira, estuário, praia, rios e canais
- Gestão de infraestrutura, incluindo recursos hídricos, saneamento, transporte e estrutura portuária
- Governança e participação na gestão climática
- Inventário de emissores de gases de efeito estufa (GEE) e plano municipal de mitigação de GEE
A cidade já adotou iniciativas práticas. Uma delas começou em 2018, por meio de uma parceria com a Universidade de Campinas (Unicamp) com a colocação de uma barreira submersa com 49 sacos de geotêxtil em formato de ‘L’ na Ponta da Praia. Os geobags, como são conhecidos, têm 275 metros de comprimento e são recheados de areia.
Ainda de acordo com o Executivo, em 2019 foi criada a Seção de Mudanças Climáticas e, em 2021, foi feita a revisão do Plano Municipal de Mudanças Climáticas.
“O PACs coloca em marcha a implementação de estratégias, diretrizes e metas de adaptação e mitigação para fazer frente à crise climática e às vulnerabilidades socioambientais presentes no nosso município, considerando o cenário de intensificação das mudanças climáticas apontado nos últimos estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e confirmado no Sexto Relatório de Avaliação (AR6)”, finalizou o município.
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