“Honduras ignorou mais de 80 anos de amizade (entre Taipei e Tegucigalpa) ao enviar seu ministro das Relações Exteriores à China, o que feriu gravemente os sentimentos de nosso governo e de nosso povo”, disse o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan, por comunicado.
“Decidimos chamar imediatamente nosso embaixador em Honduras para expressar nossa profunda insatisfação”, acrescenta o texto.
O anúncio ocorreu após uma visita à China do ministro das Relações Exteriores de Honduras, Eduardo Enrique Reina, para discutir o estabelecimento de relações diplomáticas com Pequim.
A China reivindica a ilha democrática e autônoma de Taiwan como parte de seu território – que pretende retomar, inclusive pela força, se necessário. Em 14 de março, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, anunciou que o país iria estabelecer “relações oficiais com a República Popular da China“.
Em nome do princípio de “uma China“, o poder comunista em Pequim não aceita manter relações diplomáticas com países que têm relações com Taipei. Qualquer reconhecimento da República Popular da China conduz ao rompimento das ligações entre o país e Taiwan.
Se Honduras romper oficialmente com Taiwan, a ilha teria apenas 13 países com os quais mantém relações diplomáticas oficiais, tendo perdido vários aliados latino-americanos nos últimos anos.
O chanceler hondurenho viajou à China com a deputada Xiomara Zelaya, filha da presidente do país, disseram à AFP três funcionários do governo e da diplomacia de Honduras, sob condição de anonimato. O Ministério das Relações Exteriores da China não confirmou a visita, mas na quinta-feira, o porta-voz Wang Wenbin disse que o país está “pronto” para estabelecer relações com Tegucigalpa.
“A China agradece as observações positivas feitas pelo governo hondurenho sobre o desenvolvimento das relações com a China e está pronta para estabelecer e desenvolver relações bilaterais com Honduras com base na igualdade e no respeito mútuo”, disse Wang.
Reina alegou, em 15 de março, “as enormes necessidades” de Honduras e a recusa de Taiwan em aumentar sua ajuda ao país para justificar o estabelecimento de relações com Pequim.
Honduras é um dos países mais pobres da América Latina, com quase 74% de seus 10 milhões de habitantes vivendo na pobreza. Reina avalia que a dívida interna e externa do país seja de U$ 20 bilhões (pouco mais de R$ 100 bilhões), dos quais 600 milhões são devidos a Taiwan.
A mudança, prometida por Castro durante sua campanha eleitoral, aconteceu algumas semanas depois que o governo anunciou que estava negociando com a China a construção de uma hidrelétrica.
Respondendo a perguntas de legisladores sobre relatos de que Honduras solicitou ajuda adicional de Taipei, o ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, disse na quinta-feira que seu governo não estava preparado para aceitar um “pedido irracional”.
“Vou ser honesto, estamos em uma situação muito difícil. Ainda estamos fazendo o nosso melhor e faremos o nosso melhor até o último minuto”, disse ele.
“Mas não aceitaremos nenhum pedido irracional, seja de Honduras ou de outro país, especialmente se não for transparente”, acrescentou.
Em uma declaração separada sobre o mesmo assunto, o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan disse que a ilha “não se envolverá na diplomacia do dólar com a China“. Ele também quis “lembrar mais uma vez ao governo hondurenho que não deve cair na armadilha da dívida chinesa”.
A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, partirá no dia 29 de março para uma viagem de 10 dias para fortalecer os laços com dois de seus aliados remanescentes na América Central, Belize e Guatemala, e também fará escala nos Estados Unidos.
Em 7 de março, o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Kevin McCarthy, confirmou que se encontraria com a presidente na Califórnia. O Departamento de Estado dos EUA disse que a viagem planejada era um “trânsito” e não uma “visita”. Pequim expressou sua oposição a esta reunião.
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