O parlamentar citou a importância de Bertioga na história do país como um dos primeiros pontos geográficos com povoamento regular durante homenagem aos 32 anos de emancipação da cidade, que era distrito de Santos. Abaixo trecho do discurso feito na 32ª sessão, na última terça-feira (30).
“Estes locais eram destinados à defesa de povoamento e foram palcos de grandes batalhas entre a civilização, representada pelos portugueses de Martim Afonso de Souza, e a barbárie, representada pelos Tamoios de Aimberê, Caoaquira, Pindobuçu e Cunhambebe, em constantes incursões contra os colonizadores”.
O trecho foi retirado na íntegra de um texto no site oficial da própria Prefeitura de Bertioga, mas o discurso repercutiu negativamente nas redes sociais. Para o historiador Sergio Willians, apesar de ser um caso complexo, o vereador foi infeliz no uso das palavras, pois não seria necessário rotular.
“A barbárie está dentro do indivíduo e não de um povo”, ressaltou Willians.
Para o historiador, semanticamente, o termo até poderia se encaixar ao descritivo das tribos indígenas que habitavam a região. “Uma vez que eles não mediam o tamanho de sua brutalidade quando atacavam os colonos das Capitanias de São Vicente e Santo Amaro, e, principalmente, seus inimigos nativos pertencentes a tribos de outras ramificações”.
Vereador foi acusado de preconceito contra indígenas após discurso em Santos, SP — Foto: Reprodução
Por outro lado, ressaltou que além de não serem eles os “invasores” das terras, os Tamoios tinham códigos de conduta, hierarquias, culturas e tradições próprias, o que os tornavam, de certa forma, uma comunidade com sentido de civilização.
“Se formos avaliar o grau de barbárie dos Tamoios, porque não avaliar dos colonos, dos bandeirantes ou do próprio homem ocidental, europeu, que escravizou, torturou e dizimou tribos inteiras na sua sana de conquista? Além de outras histórias e aspectos, como a escravidão do negro africano?”.
Como exemplo, Willians explica que os Tamoios capturaram o alemão Hans Staden em aproximadamente 1550 e realizarem um ritual de canibalismo, que mais tarde Staden descreveu como um “ato de barbárie extrema”.
No entanto, eles também estabeleceram relações civilizadas com quem não consideravam inimigos e, inclusive, se aliaram aos franceses durante a Guerra dos Tamoios. “Hoje em dia há um cuidado muito grande com as terminologias e com o que se fala”, finaliza.
A Câmara de Santos informou que não se pronuncia sobre falas de vereadores.
Em nota, o vereador enfatizou que o trecho foi retirado do site oficial da Prefeitura de Bertioga e não escrito por ele ou pela assessoria. Ainda segundo o parlamentar, ele não possui nenhum preconceito contra qualquer raça, credo ou cor e sempre “pautou sua vida e seu trabalho pela humanindade, honestidade e respeito ao próximo”.
Ainda por meio de nota, ele disse que “o texto colacionado no requerimento apresentado apenas registrou determinado momento histórico fazendo apenas menção à época. Equívocos cometidos na história da humanidade não podem ser apagados, mas sim lembrados para que não se repitam”, escreveu.
A Prefeitura de Bertioga informou, em nota, que tem um imenso respeito pela população, não só da terra indígena Ribeirão Rio Silveira, localizada na Cidade, mas também por todos os povos originários.
Sobre o trecho polêmico que consta no site da cidade e que reproduzido na íntegra pelo vereador de santos, a administração municipal disse que o autor do texto quis reproduzir o pensamento que existia à época histórica relatada. A prefeitura, porém, entende que pode haver uma dupla interpretação sobre a citação, sendo assim, o texto foi editado e a indevida citação retirada do site.
“A administração reforça que não compactua e é contra qualquer tipo de preconceito, seja ele de gênero, racial, etnia ou cor, religião ou crença. Através deste esclarecimento a prefeitura apresenta formalmente e respeitosamente perante todos os indígenas e demais pessoas que se sentiram ofendidas, um pedido desculpas por eventuais ofensas ocorridas”.
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