A invasão, que começou com bombardeios constantes e rápido avanço de tropas russas, passou por um período de estagnação, uma contraofensiva das tropas da Ucrânia e ataques a infraestrutura energética.
Veja abaixo as quatro diferentes fases da guerra:
1ª fase – início da invasão russa
- Invasão russa começa por várias frentes de batalha
- Em poucos dias, parte considerável do território da Ucrânia é dominado
- Prédios militares e civis são alvos de bombardeio por todo o país
- Kiev não é tomada, apesar de centenas de tropas russas ao redor da capital
- Bucha, cidade próxima a Kiev, é palco de uma matança de civis realizada pelos russos
- Mariupol fica cercada por 3 meses, sem abastecimento de água e comida, até ser dominada pela Rússia
Corpos foram encontrados nas ruas de Bucha em abril de 2022 — Foto: Zohra Bensemra
2ª fase – impasse no leste
- Exército russo se retira dos arredores de Kiev
- Batalhas se concentram na região de Donbass
- Ucrânia demonstra grande capacidade defensiva
- Não há grandes avanços territoriais, mas bombardeios continuam
- Usina nuclear de Zaporizhzhia foi alvo de disputas e houve risco de desastre nuclear
Fumaça é vista saindo de planta nuclear de Zaporizhzhia após um incêndio no complexo em 24 de agosto de 2022. — Foto: Planet Labs PBC via AP
3ª fase – contraofensiva da Ucrânia
Cidade de Kherson foi liberada pelas tropas russas em novembro de 2022. — Foto: Valentyn Ogirenko/REUTERS
4ª fase – ataque a usinas
Mulher segura vela após cidade nos arredores de Kiev ficar sem luz por conta de ataques da Rússia, em 20 de outubro de 2022. — Foto: Emilio Morenatti/ AP
- Rússia direciona ataque à infraestrutura de energia
- Metade de Ucrânia passa a sofrer com falta de luz
- Aquecimento e abastecimento de água também são afetados
- Situação é agravada pelo intenso inverno ucraniano
Próxima fase? – possível ofensiva da Ucrânia
Tanque de batalha Leopard 2 durante treinamento em Munster, na Alemanha, em 28 de setembro de 2011 — Foto: Michael Sohn/AP
- EUA e Alemanha oferecem tanques de batalha modernos para a Ucrânia
- Especialistas acreditam que a Ucrânia pode deixar posição defensiva, para ser mais ofensiva
- No entanto, isso depende da chegada dos tanques e do treinamento das tropas ucranianas
Ajuda financeira – como a Ucrânia vai pagar por isso?
Apesar de a Ucrânia não fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), os países membros estão entre os principais apoiadores na luta do país contra a Rússia.
Liderados pelos Estados Unidos, os países da Otan possuem um acordo de que “o ataque contra um é um ataque contra todos”. No caso da Guerra na Ucrânia, a ajuda é de forma indireta, fornecendo armamentos, munição, informação e apoio humanitário, já que o país não é membro.
Parte da ajuda foi oferecida como doação, mas a maioria é na forma de empréstimos e financiamentos, que deverão ser pagos pela Ucrânia no futuro.
Por exemplo, um pacote de apoio da Comissão Europeia de €18 bilhões deverá ser pago em 35 anos, a começar em 2033. Só que o principal objetivo desse fundo é que a Ucrânia consiga continuar pagando empréstimos já existentes, como a dívida que ela tem com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Seria uma forma de adiar e diluir o pagamento da dívida.
O dinheiro oferecido pelos Estados Unidos também terá que ser pago após a guerra, mas isso pode ser feito ao contratar empresas americanas para reconstruir a Ucrânia. Inclusive esse é o método preferido pelo governo americano, semelhante a acordos que foram feitos com países europeus após a 2ª Guerra Mundial.
O presidente dos EUA, Joe Biden, se encontrou com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante uma viagem não programada ao país em guerra em 20 de fevereiro de 2023 — Foto: REUTERS/Gleb Garanich
Refugiados – uma Ucrânia vazia e destruída
Refugiados se aglomeram ao cruzar a fronteira da Ucrânia com a cidade polonesa de Medyka em março de 2022 — Foto: Yara Nardi/Reuters
Como consequência da guerra, cerca de 35% dos ucranianos tiveram que deixar suas casas, sendo que 20% estão fora do país. Segundo a ONU, esse é um dos maiores deslocamentos humanitários do mundo hoje.
Apenas 13% dos 8 milhões de refugiados disseram que pretendem voltar para a Ucrânia nos próximos 3 meses, segundo uma pesquisa da ONU. Sendo que 33% pretendem fixar moradia nos países que os receberam.
Somam-se a esses números os deslocados internos. São aquelas pessoas que tiveram que sair de suas casas, mas não deixaram o país. Os ‘refugiados’ ucranianos que continuaram dentro da Ucrânia. A ONU registrou 6,8 milhões de deslocados na sua mais recente contagem.
A ONU fez uma pesquisa com os deslocados internos perguntando como estava a situação de suas moradias quando as deixaram. É uma pesquisa de percepção pessoal, mas serve como panorama do tamanho da destruição do país:
O Alto Comissário da Agência da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, fez no final de janeiro uma visita de seis dias pelos locais mais afetados da Ucrânia:
“Fiquei chocado com o nível de destruição que vi como resultado dos mísseis e bombardeios russos.”
“A infraestrutura civil, como usinas de energia, sistemas de água, jardins de infância e prédios de apartamentos foram danificados ou destruídos. Civis, incluindo crianças e idosos, foram mortos ou fugiram de suas casas, tendo suas vidas inteiras arrancadas por esses ataques sem sentido“, disse Grandi.
O brasileiro Saviano Abreu, funcionário da ONU na Ucrânia, entra em supermercado vazio na região de Kherson em novembro de 2022 — Foto: OCHA/Saviano Abreu
Quando a guerra vai acabar – e como ela começou lá em 2014
Região ucraniana pró-Rússia é alvo de disputa entre Kiev e Moscou. Putin autorizou ação militar; Ocidente pede recuo e impõe sanções.
Parece ser de fevereiro de 2022, não é? Mas na verdade o texto é parte de uma reportagem publicada em 2014 no g1, quase 10 anos antes da atual invasão, quando a Rússia anexou a região da Crimeia.
As publicações de 2014 e 2022 possuem muitas semelhanças. Veja abaixo alguns exemplos:
Em 2014, o estopim para a crise foi o presidente ucraniano na época, Viktor Yanukovich, desistir de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações comerciais com a Rússia. Isso gerou revolta dentro da Ucrânia, onde grande parte da população queria se aproximar do Ocidente. A maior consequência dessa crise foi a separação da região da Crimeia, que tinha forte ligação com a Rússia.
Após a adesão da Crimeia ao governo de Moscou, outras áreas do leste da Ucrânia, de maioria russa, também começaram a sofrer com tensões separatistas. Grupos separatistas das regiões de Donetsk e de Luhansk lutaram contra as tropas ucranianas. A Rússia apoiou esses grupos. Mais de 14 mil pessoas morreram e em 2015 foi assinado um acordo de paz.
Só que foram as mesmas regiões separatistas que serviram de estopim para a invasão da Ucrânia em 2022, quando a Rússia decidiu reconhecê-las como repúblicas independentes no dia 21 de fevereiro.
Essa disputa tem um fundo histórico, pois a Ucrânia, assim como a Rússia, fez parte da União Soviética, mas também tem muito interesse comercial.
A Crimeia é um ponto estratégico importante de acesso ao Mar Negro. O Donbass, onde ficam Donetsk e Luhansk, é uma grande fonte de carvão e é uma área industrializada, com destaque para a metalurgia.
Além disso, grande parte do gás exportado da Rússia para a Europa passa pela região de Donbass. E o governo russo pagava para a Ucrânia pelo uso de seu território.
Tubos das instalações do gasoduto Nord Stream 1 em Lubmin, na Alemanha — Foto: REUTERS/Hannibal Hanschke
Quando o atual presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, começou a se aproximar do ocidente, Putin mobilizou seu exército para a invasão, no que ele chama até hoje de “operação especial” com o objetivo de “desnazificar e desmilitarizar” a Ucrânia.
Putin também declarou preocupação com o avanço da fronteira dos países ocidentais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que está cada vez mais próxima da Rússia.
Se é realmente uma preocupação militar ou uma decisão mais econômica, fica difícil saber. Assim como não é possível afirmar quando a guerra vai acabar.
Especialistas ouvidos pela BBC dizem que podemos esperar que o conflito continue ao longe de 2023. Como o inverno é intenso, eles acreditam que as tropas estejam se guardando para as investidas da primavera, que tem início em março. O que acontecer nesse período será fundamental para decidir o futuro da guerra.
A Rússia ainda não tem total controle sobre as áreas que ela anexou no referendo ilegal e pode tentar consolidar esse espaço.
A Ucrânia, por outro lado, está na expectativa de receber tanques de batalha modernos da Alemanha e dos EUA e podem decidir por uma ofensiva e consequente retomada dos territórios.
A terceira possibilidade é um acordo de paz ou cessar-fogo. Pode parecer improvável, já que os dois países disseram que pretendem continuar lutando. No entanto, o custo da guerra é alto e isso pode pesar para o lado russo do conflito, considerando que os países ocidentais continuam demonstrando interesse em seguir com apoio militar à Ucrânia.
O presidente russo, Vladimir Putin, faz seu discurso anual na Assembleia Federal em Moscou, Rússia, em 21 de fevereiro de 2023 — Foto: Sputnik/Dmitry Astakhov/Kremlin via Reuters
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