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A chave deste processo de degradação do estado de saúde provocado pelo calor é a “hipertermia“: quando o corpo fica com uma temperatura mais elevada do que normal, levando a desequilíbrios graves.
“O organismo começa a ‘cozinhar’ por dentro, desequilibrando todo o metabolismo”, explicou Carlos Machado, clínico geral especialista em medicina preventiva, em entrevista ao g1 ano passado.
O que o médico traduziu popularmente como ‘cozinhar’ por dentro é o processo que começa na alteração das proteínas presentes no sangue e termina com complicações em órgãos vitais (leia mais abaixo).
Homem tenta se refrescar em Londres nesta terça-feira (19), dia de calor recorde — Foto: Aaron Chown/PA via AP
De acordo com Priscila Currie, paramédica brasileira que atua em Londres, as maiores ocorrências envolvendo o calor são de pessoas desmaiando, desidratadas e com insolação. Pessoas que já possuem doenças cardiovasculares também sofrem com o clima quente, que exacerba esse tipo de problema.
“Não é porque os britânicos são diferentes dos brasileiros. A infraestrutura é a questão, as casas foram feitas para manter o calor dentro, é um país frio. No verão, na Inglaterra, não costuma passar dos 33ºC e, mesmo quando passa, não dura o dia inteiro, chove depois. As crianças, ao crescer, aprendem a lidar com o frio, mas não com o sol”, afirma a paramédica, formada pela St George’s University.
Priscila Currie é paramédica há 8 anos e está em Londres há 19 anos — Foto: Arquivo Pessoal
Ao falar com o g1 em 2022, Priscila lembrou que no Brasil crescemos ouvindo para não ficar com a cabeça no sol, usar filtro solar e beber água.
“Aqui isso não é hábito, não entendem o perigo de ficar debaixo do sol a pino. O sol nasce às cinco da manhã e se põe nove e meia da noite. É um dia muito longo, e de noite o calor começa a se dispersar dentro das casas, que não têm ar-condicionado”, relata Priscila.
3 pontos para entender a onda de calor que atinge a Europa
Um outro exemplo é o Metrô do país, que é o mais antigo da história, com 158 anos de operação. E sem ar-condicionado. A única ventilação é promovida pelo próprio movimento do transporte.
“Uma estrutura bem-organizada previne mortes. Tem muita gente se afogando por mergulharem em locais não apropriados para o banho. Fora que, depois, teremos que lidar com as doenças provenientes da água, como infecções bacterianas e amebianas”, comenta a paramédica.
É possível dizer que existem três tipos de hipertermia diferentes: a clássica, ligada à exposição excessiva ao calor e ao sol; a de esforço físico, quando o paciente faz a atividade e o corpo não consegue retomar a temperatura normal; e a maligna, que é resultado do uso de determinados medicamentos, como analgésicos.
A hipertermia clássica geralmente acomete moradores de regiões que têm um clima ameno, mas passam por fortes ondas de calor — caso dos registros atuais na Europa.
“Uma pessoa que fica com temperaturas altas durante muito tempo sofre hemólise, que é a destruição dos glóbulos vermelhos. O corpo começa a alterar as proteínas sanguíneas, e temos que lembrar que tudo no nosso corpo é proteína. Anticorpos, células, glóbulos brancos, o plasma sanguíneo, tudo isso começa a ser desnaturado. (…) A frequência cardíaca sobe muito, rins, fígado e cérebro passam a ter dificuldade de funcionamento”, explicou Carlos Machado, clínico geral especialista em medicina preventiva.
Segundo o médico, a água é o grande elemento. O controle da temperatura do organismo depende de todo o sistema hormonal e dos rins, que controlam o volume de água dentro do corpo e a retenção de sódio, mantendo a pressão.
“Enquanto aumenta a produção do suor, diminui a taxa de produção de hormônios que aquecem o organismo, para tentar manter a temperatura de 36,5ºC”, diz.
Alguns dos sintomas mais frequentes da hipertermia são:
Caso o paciente apresente os sintomas e não receba atendimento médico, a hipertermia pode levar à morte. O tratamento para evitar o desfecho é feito por “métodos de restauração mecânicos”, como banho gelado e o uso de ventiladores. Toalhas molhadas e refrigeradas também podem contribuir para a diminuição do dano.
Já nos casos em que há a desidratação associada aos efeitos das altas temperaturas, os médicos podem fazer o uso de injeções intravenosas dos líquidos. Segundo a Rede D’Or, é importante ressaltar que os medicamentos que geralmente regulam a temperatura do corpo contra a febre não fazem efeito contra a hipertermia.
Por: G1
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