Duas novas espécies de rãs-gigantes-de-corredeira foram descobertas no Parque Estadual da Serra do Mar, no litoral de São Paulo. Os dois animais, que ainda eram desconhecidos pela ciência, podem ser considerados os maiores da espécie e são encontrados em altitudes superiores a 700 metros acima do nível do mar e foram avistados, até então, somente na Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira.
O biólogo e pesquisador Leo Malagoli fez algumas coletas de espécies para uma pesquisa na região da Serra do Mar, no município de Itanhaém, nos anos de 2007, 2015 e 2020. Na época, ele considerou que os animais eram bem parecidos com alguns exemplares encontrados em Paranapiacaba.
“A gente comparou com toda a diversidade de tecidos, de amostras de DNA, que a gente tinha das outras espécies de Phantasmarana. Quando fizemos a análise preliminar, foi que que vimos que era uma espécie não tinha nada a ver, era diferente e não tinha nome”.
Nova espécie encontrada em Itanhaém foi chamada de Phantasmarana curucutuensis — Foto: Leo Malagoli
O pesquisador explica que, em 2020, foi realizada uma análise molecular que é importante para se obter mais informações sobre a morfologia da espécie e se chegar na diferenciação. As diferenças, segundo ele, são sutis, mas observáveis.
“A gente sabe que ela tem uma diferenciação em relação as outras por conta de manchas na barriga, o tamanho, que é um pouco maior que outras. A gente vai associando essas informações e conseguimos ter aquilo que chamamos de diagnose”.
A nova espécie é bastante difícil de ser avistada, pois foge ao menor sinal de movimentação humana. Por isso, o pesquisador teve contato com outros exemplares, mas não conseguiu coletar outros indivíduos porque acabam fugindo. Segundo ele, foi possível observá-las em repouso pois vivem em tocas e costumam voltar para o mesmo local.
Por conta dessas características, a nova espécie de rã foi chamada de Phantasmarana curucutuensis. “Elas são raras e difíceis. Esse nome de Phantasmarana, que é rã fantasma, é justamente em alusão a dificuldade que você tem em campos de encontrar os animais e de coletar”, explica ele. O nome também faz uma homenagem ao Núcleo Curucutu, onde espécie é encontrada. Ela representa o limite mais ao sul da ocorrência das espécies de rãs-gigantes-de-corredeira.
Espécie de rã chamada de Phantasmarana tamuia foi encontradas nas regiões pertencentes aos municípios de Cunha e de São Luís do Paraitinga — Foto: Thais Condez
Já a uma segunda nova espécie de rã foi encontrada no Parque Estadual da Serra do Mar, na região dos municípios de Cunha e de São Luís do Paraitinga. Ela se assemelha a um animal que vive em Paranapiacaba, porém, contém características diferentes, como o fucinho.
A nova espécie foi chamada de Phantasmarana tamuia. O nome tamuia é uma palavra derivada da língua Tupi. “Era um povo super guerreiro que viva no alto da Serra do Mar e que lutou bravamente durante o processo de colonização dos europeus. Eles foram extintos. Esse nome é para representar a resistência desses povos, inclusive, nos dias atuais, atacados e diretos colocados à prova. Isso se reflete na natureza, se reflete na manutenção das espécies”, diz.
Rãs-gigantes-de-corredeira
Como o próprio nome popular já indica, as rãs-gigantes-de-corredeira possuem tamanho grande, entre 7,5 e 12 centímetros, quando adultas. Elas vivem perto de riachos de águas limpas e cristalinas da Mata Atlântica, que possuem matacões, um tipo de rocha arredondada que proporciona espaço para que elas possam se esconder e se desenvolver.
“Elas são topo de cadeia alimentar dentro dos anfíbios. Eles se alimentam de outras espécies de anfíbios, animais invertebrados, besouros e aranhas. Elas são muito grandes, poderíamos chamar do topo de cadeia de riachos e anfíbios”, explica Leo.
As duas espécies são endêmicas, o que significa que são restritas a pequenas porções territoriais e a regiões especificas. Elas são somente avistadas nos trechos mais altos, em altitudes superiores a 700 metros acima do nível do mar, da Serra do mar e da Serra da Mantiqueira. Esse fato confere mais valor à descoberta e a importância tanto das espécies quanto da manutenção dos parques estaduais.
“Duas espécies de vertebrados, organismos próximos de nós, seres humanos, e de grandes tamanhos, com mais de 10 cm. Animais sendo descritos da região metropolitana de São Paulo e adjacências, áreas que são povoadas. Isso aponta o quanto ainda a gente ainda desconhece da nossa fauna, mesmo estando próximo a grandes centros de pesquisas e grandes cidades. E, a importância das unidades de conservação da natureza para preservar esses exemplares e essas espécies”
As descobertas resultaram em um estudo publicado na revista Systematic and Biodiversity do Museu de História Natural de Londres. Além de Leonardo, os pesquisadores Fábio P. de Sá, Thais Condez, Mariana Lyra e Célio Haddad são os autores do estudo.
Além de trazer resultados mais importantes para a ciência brasileira, a descrição das duas novas espécies aumenta consideravelmente a diversidade conhecida para esse grupo de rãs, que anteriormente contava com seis espécies. “São as maiores rãs que podem existir dentro da Mata Atlântica que a gente conhece. A gente tem sapos maiores que elas, mas não associadas à riachos como elas. Elas são realmente, únicas, exclusivas e raras”, afirma o pesquisador.
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