“O medo trouxe curiosidade, que me trouxe mais interesse para querer conhecer cada vez mais”, afirma o espeleólogo e monitor ambiental Jurandir Aguiar dos Santos, de 60 anos, ao lembrar da primeira vez que entrou em uma caverna.
Ele foi levado a uma gruta entre o núcleo Santana e o Caboclos (localizados no Petar) pelo próprio pai, o falecido Joaquim Justino dos Santos – um dos principais descobridores de cavernas da história do Parque, que possui cerca de 35 mil hectares de Mata Atlântica, a maior porção preservada desse bioma no Brasil.
Monitor ambiental no Petar há 40 anos, Jurandir Aguiar é filho de JJ, que foi um dos principais descobridores de cavernas do Parque Estado do Alto Ribeira (SP). — Foto: Arquivo Pessoal
Jurandir conta que na época tinha apenas 12 anos e se aterrorizou diante de um abismo vertical, em um espaço totalmente escuro e desconhecido. “Meu pai percebeu rapidamente, deu um sorriso e falou: ‘Calma, é só uma caverna’”. Apesar do medo, Jurandir afirma que o amor pelas cavernas está no DNA da família, já que no dia seguinte estava perguntando qual seria a próxima gruta a ser visitada. “Ela me trouxe inspiração, desde então nunca mais parei”, conta.
Ainda na adolescência, Jurandir explorou a caverna Ouro Grosso e foi, justamente, onde descobriu a emoção e as belezas que uma caverna pode abrigar. “Para mim, é a mais marcante de todas pela aventura, pelo barulho que faz lá dentro e você não consegue nem se comunicar. É adrenalina o tempo todo”, disse.
Segundo Jurandir Aguiar, a Caverna do Diabo (SP) o deu inspiração e foi essencial para se tornar um explorador de cavernas. — Foto: Arquivo Pessoal
Trabalhador do Petar há 40 anos, foi entre 2001 e 2005 que Santos passou a contribuir com trabalhos científicos ao integrar a iniciativa de exploração do Abismo Juvenal, que se estende por até 241 metros debaixo da terra. “Durante esse projeto descobrimos pequenos abismos [dentro do Juvenal], cada um com 13, 30 e até 40 metros”, afirma.
Ao longo da iniciativa, no entanto, o grupo encontrou pequenos fósseis espalhados pelos abismos. Jurandir, inclusive, foi um dos primeiros a localizar um desses vestígios históricos. Ele lembra que, naquele dia, saiu para uma exploração sozinho e desceu com uma corda pelo buraco, conquistando uma profundidade cada vez maior.
“Chegou um momento que […] o espaço ficou totalmente confinado, então eu não consegui ir a fundo. Eu parei para dar uma respirada e, bem debaixo do meu nariz, estava um pedaço de osso preso nas paredes”, conta. Esse foi apenas um dos muitos fósseis descobertos no local, segundo o espeleólogo.
“A gente nasce, cresce e morre. Mas, nesse meio tempo, temos que fazer as coisas acontecerem. Uma delas é compartilhar conhecimento”, ressalta Jurandir.
Jurandir conta que o pai, o primeiro espeleólogo da família, era um cidadão “com pouco estudo”, assim como ele mesmo. No entanto, o monitor ambiental acredita que é justamente por causa das grandes dificuldades na vida que ele e JJ tiveram tantos aprendizados. “Me inspirei nas atividades dele para eu ser o que eu sou hoje também”.
Para ele, o principal ponto para ser um espeleólogo é querer contribuir para a ciência. Depois, é necessário ter condições físicas e psicológicas para poder entrar em ambientes de difícil acesso. “O conhecimento vai se adquirindo na medida do querer explorar”.
Expedição de de exploração e mergulho na Caverna Morro Preto, no Petar. — Foto: Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME)
Atualmente, existem diversos grupos de espeleólogos que exploram as cavernas do Petar, um deles é o Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME). De acordo com a presidente da organização, Jaqueline Samilla, o trabalho de espeleólogos é voluntário e tem despesas próprias para estar presente e ajudar na documentação e apoio à pesquisa, topografia e mapeamento do Petar.
“Muitos nos questionam o porquê de fazer tudo de forma voluntária, mas é por amor às cavernas e à luta pela conservação ambiental delas e do entorno”.
No grupo de exploradores de cavernas há geólogos, engenheiros, médicos, biólogos, estudantes, entre outros profissionais. Todos tem o mesmo objetivo em comu: contribuir para a conservação ambiental e sociocultural para o Petar. Jaqueline explica que uma expedição de mergulho ou exploração de abismos pode reunir mais de 20 pessoas.
Equipamentos de espeleólogos auxiliam no trabalho de topografia e exploração de cavernas no Petar, no interior de SP. — Foto: Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME)
De acordo com Jaqueline, os equipamentos e aparelhos usados pelo grupo variam entre R$ 15 (para sistema de caverna aberto) e R$ 30 mil (em sistema fechado). “São equipamentos de topografia, comunicação e acesso vertical. O grupo já investiu mais de R$ 80 mil, tudo com recursos próprios ao longo do tempo”, ressalta.
A presidente do GPME afirma que os trabalhos dos espeleólogos auxiliam no desenvolvimento do mapeamento das cavernas. “Para trabalhar nas cavernas, o espeleólogo enfrenta situações mais adversas que o visitante comum”, explica.
O mapeamento contribuiu para que haja maior conhecimento em caso de resgates e em avanços de pesquisas científicas e também para monitores e turistas possam ampliar o conhecimento para a educação ambiental e conservação desses lugares naturais, lindos e muito curiosos.
Exploração na Caverna do Santana, no Petar. — Foto: Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME)
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