Uma moradora de Bertioga, no litoral de São Paulo, denunciou ataques racistas que sofreu de uma desconhecida durante um evento e nas redes sociais. Um vídeo, obtido pelo g1 nesta segunda-feira (25), mostra uma jovem se referindo à advogada Letícia Dolapci, de 28 anos, como “preta favelada” (assista acima).
Ao g1, Letícia contou que tudo começou durante uma festa de formatura que aconteceu no dia 9 de março em Vassouras (RJ). Ela foi ao evento para prestigiar a graduação do primo, quando foi atacada pela jovem, que também era formanda.
“Eu não a conheço, nunca vi. Durante o evento, ela me jogou um copo de bebida. Eu fiquei sem entender o que tinha acontecido, o motivo dela fazer aquilo comigo”, relembrou a advogada.
Ainda na formatura, uma acompanhante da formanda se aproximou de Letícia e passou a dizer que ali não era lugar para ela. “Me chamou de ‘neguinha’ na tentativa me inferiorizar, além de dizer que eu não devia estar lá”, disse a advogada.
Segundo Letícia, ela foi embora logo após o tumulto, que precisou da intervenção da equipe de segurança da festa. Apesar de ficar reflexiva sobre o episódio, a advogada resolveu voltar para casa na Baixada Santista sem denunciar o caso.
Porém, a situação fugiu do controle quando ela recebeu o vídeo da formanda a chamando de “preta favelada” nas redes socias (veja no início da reportagem).
“A desgraçada da preta favelada da menina saiu […]. Minha vontade era de esfolar ela na porrada”, disse a suspeita, no vídeo compartilhado nas redes sociais. Nas imagens, a jovem chega a ser chamada de racista por outra pessoa que estava no momento, mas ela responde que também é negra.
Letícia Dolapci denunciou o caso após confusão em uma festa de formatura do primo dela. — Foto: Arquivo Pessoal
“Comecei a receber várias mensagens de pessoas que eu não conhecia com o vídeo dessa moça falando essas coisas para mim”, enfatizou Letícia, que ficou muito abalada com o caso. “Quando a gente sofre a agressão, a gente fica um pouco perdida, [estou] tentando processar tudo o que aconteceu”.
A advogada contou que levou um tempo para decidir denunciar a agressora. Ela iniciou um processo após conversar com outros colegas da área de Direito. Letícia registrou um boletim de ocorrência e juntou todas as provas contra a suspeita.
“A gente já iniciou o processo judicial, esclarecimentos na delegacia e tudo mais, para que ela possa responder porque foi para a rede social me expor, me atacar dessa forma, além do evento. Começou presencialmente”, desabafou.
A advogada publicou o relato sobre o ocorrido nas redes sociais neste sábado (23). De acordo com ela, expor os ataques racistas foi uma maneira de incentivar outras vítimas de preconceitos raciais, principalmente, pela profissão que ela possui.
“Todos os meus conteúdos são sempre no propósito de passar informação. E eu sei que outras pessoas, assim como eu, já sofreram violência e deixaram para lá, acabaram seguindo a vida, porque isso acontece com frequência, infelizmente. Sendo assim, eu tomei a decisão de não deixar mais esse tipo de coisa acontecer e passar impune na minha vida. Foi a gota d’água quando ela postou tudo isso na internet”, disse.
Letícia afirmou que seguirá adiante com o processo, pois a jovem precisa ser responsabilizada pelas atitudes. “Eu quis mostrar para outras pessoas que já sofreram com isso o caminho a ser feito, o que elas podem fazer para também denunciar esse tipo de situação”, finalizou.
O g1 tentou contato com a suspeita que gravou o vídeo, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) também não se manifestou sobre o caso.
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