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Aos 96 anos, Ume Shimada mantém tradição da família com plantio, colheita e fábrica de chá orgânico no interior de SP

today1 de setembro de 2023 12

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Os pais de Ume vieram do Japão em 1913. Eles foram trabalhar em um cafezal, mas não se acostumaram com a atividade e foram para Registro. “Souberam que aqui estavam distribuindo lotes para os imigrantes japoneses, para se instalar como patrões mesmo”, conta Teresinha Eiko Shimada, filha de Ume. Após tentarem investir em diversos cultivos, a família se dedicou a plantação de chá.

Na época, Ume Shimada era criança. A caçula da família lembra do primeiro contato que teve com as folhas, aos 10 anos. “Meu pai trouxe uma caixa e tinha bastante semente. Eu não sabia do que era. Meu pai falou: ‘Agora você cuida desse caixote, tem que cuidar bem, molhar bem e cuidar. O chá começa a brotar. Esse broto, eu quero brotar no sítio”, conta Ume.

Família Shimada veio do Japão e se estabeleceu em Registro — Foto: Arquivo Pessoal



Os brotos eram colhidos pela própria família Shimada e enviados para o beneficiamento em indústrias da região. O plantio do chá pelos japoneses estabeleceu-se no município e virou o sustento de muitas famílias em Registro.

Na década de 30, o Vale do Ribeira chegou a ter 5.000 mil hectares de cultivo, 600 produtores e cerca de 40 indústrias de chá. Cerca de 90% da produção ia para o mercado externo. Com isso, Registro chegou a ser conhecida como a capital do chá.

A cultura, que alavancou o desenvolvimento da região, começou nos anos 90, com concorrência do chá importado, que chegava ao Brasil com um preço mais baixo. Com isso, em meados de 2011, veio a crise. As fábricas da região não resistiram e fecharam.

Nessa época, os donos das indústrias foram até a propriedade da família Shimada e sugeriram que eles arrancassem os chás. “Eu não vou cortar nem um pé de chá. O chá é relíquia de Registro. Como eu vou cortar? Eu vou é cuidar, eu falei assim”, conta Ume.

Ume e Teresinha Shimada comandam o sítio até hoje em Registro, SP — Foto: Mariane Rossi/g1

Aquela menina, que cresceu junto com o chazal da família, não abandonou suas raízes. Por dois anos, a plantação foi recuperada e bem cuidada, mas não houve produção da bebida, afinal não havia onde realizar o processamento do chá.

Mesmo sem condições financeiras, Ume foi atrás de toda a estrutura necessária para montar um espaço dentro do sítio para que os brotos e folhas do chá pudessem dar origem à bebida. A família recebeu a ajuda de Tomio Makiuchi, um grande entusiasta do chá e de questões sociais do Vale do Ribeira. Ele colaborou com a montagem da fábrica artesanal do sítio, sendo o responsável pela montagem dos maquinários.

Em 2014, aos 87 anos, Ume inaugurou a fábrica artesanal de chá preto do sítio Shimada, uma produção de manejo orgânico e agricultura familiar. “A partir dali, nós temos o nosso chá. Nós colhemos, fabricamos e temos nosso chá preto, verde e o branco orgânico”, explica Teresinha.

Chá preto orgânico feito no sítio Shimada, em Registro — Foto: Mariane Rossi/g1

O processo cuidadoso tem início no chazal, onde ficam os pés da Camelia simensis. A colheita, que é realizada de setembro a maio, é feita de forma manual.

Os coletores separam as folhas mais jovens e o broto. Depois, eles vão para a fábrica, onde são produzidos três tipos de chá. O chá verde e o chá preto são feitos à base da planta e do broto. Já o chá verde usa-se somente o broto.

“Ele é orgânico, isso agrega valor ao nosso chá, para a bebida final. Nosso chá preto, verde e branco orgânico. A gente tem esse orgulho”

Segundo especialistas, o chá do sítio Shimada possui um aroma adocicado característico que lembra mel e malte e sabor frutado que remete à frutas como lichia, pêssego e damasco. “Leva algumas outras características no sabor, no aroma. Como temos a plantação de lichia, eu faço o secamento dos galhos. Tem um sabor que lembra a lichia no nosso chá”, explica Teresinha.

Teresinha Shimada na plantação de chá, em Registro — Foto: Mariane Rossi/g1

No sítio, toma-se chá todos os dias no meio da tarde. Ume não dispensa esse momento. Apesar de saborear o chá verde e o branco, o preferido dela ainda é o preto, com as bolachinhas preparadas pela filha Teresinha.

“Quando eu tomo chá, eu lembro de muita coisa. Lembro muito do meu pai, do chá”, comenta Ume.

Teresinha conta que todos os funcionários e familiares que estão no sítio participam desse ritual, de tomar chá. É um momento de confraternização. “É a hora de servir o nosso chá preto […] O chá nos une”, fala Teresinha.

Fábrica de chá orgânico do Sítio Shimada, em Registro — Foto: Divulgação

Aos 96 anos, mesmo com dificuldade para se locomover, Ume conversa com a filha, orienta os funcionários e fica atenta a cada detalhe do sítio. O brilho no olhar é nítido quando fala e saboreia a bebida.

O desejo da família é que a história da família Shimada, construída por Ume, permaneça simples e cheia de significado, como um bom chá. “Queremos manter assim. Colheita a mão, fábrica artesanal e orgânica. Isso valoriza muito o nosso chá”, fala a filha Teresinha.

Arroz preparado com chá defumado, receita de Teresinha Shimada — Foto: Mariane Rossi/g1

O sítio recebe visitantes que desejam conhecer a plantação, a fábrica artesanal e fazer a degustação dos chás. Teresinha também prepara pratos que levam algumas das bebidas feitas na propriedade.

Ao g1, pela primeira vez, ela mostrou como fazer um arroz com abóboras preparado com chá defumado. Ela conta que criou essa receita para utilizar a bebida de outra forma e deixar a comida ainda mais saborosa. Confira a receita abaixo (veja o vídeo no início da reportagem com o passo a passo).

Receita de arroz com chá defumado

  • 2 xicaras de arroz japonês
  • 4 xícaras de água (80 ml)
  • 120 gramas de chá preto defumado
  • 10 ml de óleo de soja
  • 3 dentes de alho
  • 300 gramas de abóbora
  • sal a gosto

Modo de preparo: Ferva a água e faça a infusão com o chá defumado. Em seguida, em uma panela, refogue o alho no óleo. Despeje o arroz e, por cima, o chá defumado. Coloque as abóboras cortadas em cubos. Adicione o sal a gosto. Deixe cozinhar até o arroz secar. Sirva logo em seguida.

Arroz preparado com chá defumado, receita de Teresinha Shimada — Foto: Mariane Rossi/g1




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: G1

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