O choque e o efeito surpresa pelo disparo de milhares de foguetes e a invasão de grupos armados do Hamas em seu território deram aos israelenses a sensação de revival de um dos maiores traumas da nação — a Guerra do Yom Kippur, há 50 anos, quando o país foi atacado e apanhado desprevenido por forças sírias e egípcias no dia mais sagrado do calendário judaico.
Para um país provido e capacitado de um dos mais sofisticados aparatos de vigilância do mundo, o ataque do Hamas soa como humilhação para o governo de Benjamin Netanyahu. Nem tanto pela barragem de foguetes, mas pelas imagens de palestinos armados em livre ação no território israelense.
Cenas de cadáveres ensanguentados e de civis implorando por ajuda, fugindo atemorizados ou tomados como reféns levam a uma constatação, resumida por Eli Maron, ex-comandante da Marinha, israelense em entrevista ao canal 12 de TV: o fracasso dos serviços de inteligência, incapazes de prevenir a carnificina que se produziu nas cidades fronteiriças a Gaza.
“Todo Israel está se perguntando: onde está a IDF (Forças de Defesa de Israel), onde está a polícia, onde está a segurança? É um fracasso colossal; as hierarquias simplesmente falharam”.
Um ataque como o deste sábado requer extenso planejamento e a ajuda externa ao Hamas, oriunda basicamente do Irã, que se apressou a festejar o sucesso da operação. Ocorre num momento conturbado em que a sociedade israelense está fragmentada por um governo divisivo, que sobrevive desde dezembro passado graças a uma coalizão integrada pela extrema direita e por ultraortodoxos.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insiste numa reforma judicial para minar a Suprema Corte do país, o que o fez entrar em um confronto prolongado com juristas, reservistas e a comunidade de inteligência. Ministros ultrarradicais, como Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, incitam o ódio aos árabes dia sim e outro também. A solução de dois Estados foi sepultada, o governo passou a investir em assentamentos de colonos e a transferir vultosas somas para as comunidades ultraortodoxas.
Especula-se que a turbulenta conjuntura do atual governo de Netanyahu tornou vulnerável a segurança do país, por tantos atritos com setores cruciais para Israel. O terreno está minado para o premiê, que rapidamente enquadrou o ataque do Hamas como uma guerra a Gaza.
Uma guerra costuma ter como efeito imediato a união dos israelenses contra o inimigo. A que começa neste sábado será escrita num dos capítulos mais traumáticos da História do país. E deverá também fortalecer os radicais dos dois campos.
Palestinos assumem o controle de tanque israelense depois de cruzar a fronteira de Israel com Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023. — Foto: Said Khatib/AFP
Homem corre após explosão provocada por foguete lançado da Faixa de Gaza, em Israel, em 7 de outubro de 2023 — Foto: REUTERS/Amir Cohen
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Por: G1
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