Um bebê de um ano trava uma batalha contra a diabetes mellitus tipo 1 há vários meses, desde que foi parar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital em Registro, no interior de São Paulo. Segundo a mãe, Sara Cristina Rodrigues, de 26 anos, o índice glicêmico do menino estava em mais de 800 miligramas por decilitro, quando o normal é abaixo de 99 ml/dl.
Esse tipo é correspondente a cerca de 10% dos casos de diabetes total, e é considerada uma doença autoimune. Isso significa que o corpo deixa de perceber a célula do pâncreas responsável por produzir a insulina, e passa a produzir anticorpos, que ‘destroem’ o órgão, conforme explica o endocrinologista, Lucas Ribeiro dos Santos. Logo, quem tem a doença vai perdendo a capacidade de produzir insulina, hormônio responsável por controlar a glicose no sangue.
A doença surge quando o paciente tem alguma predisposição genética, segundo ele. “Não significa que você herdou isso de algum familiar. Você pode ser o primeiro família a apresentar essa mutação”, afirma. Esse foi o caso do pequeno Heittor Souza Rodrigues, que não tem nenhum caso na família, conforme informou a mãe.
Ele começou a apresentar alguns sintomas aos nove meses, quando deixou de brincar e ficou mais “caidinho”, segundo a cabeleireira. Ele estava sempre cansado e chorava bastante. Nas consultas, ela ouvia sempre que era normal e que “isso era dele”‘. A situação continuou dessa forma até o menino completar um ano e a mãe o levar ao médico novamente, pois surgiu um barulho forte no peito do menino.
“Achei que era asma ou bronquite, porque eu sou asmática. A médica falou que era pneumonia. Eu já tinha levado ele no posto, porque ele estava bem magrinho, bem caidinho. Tinha dor de barriga, não comia. Não brincava, tomava muita água. Falava para os médicos, e eles diziam que era normal da idade, que ele tinha que tomar muita água mesmo”, afirma.
Sara diz que ela mesma achou que não era algo tão sério, até que chegou o momento em que ele piorou e ela o levou novamente para a UPA de Registro. “A doutora disse que era broncopneumonia. Tirou uma chapa do pulmão e disse que era isso, passou antibiótico forte para cuidar em casa”, explicou. Ele foi medicado e no dia seguinte acordou ainda pior. “Já não levantava, não ficava sentado. Não chorava, não comia, não bebia nada. Ele estava bem desfalecido”, afirma.
O menino foi levado novamente a UPA e transferido para o Hospital Regional de Registro, onde foi colocado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devido ao seu estado delicado. Na unidade, o exame de glicemia foi feito e estavam em 810. “A médica disse que se meu filho sobrevivesse, tinha chance de ficar cego. ‘Se ele sobreviver, vai ficar com sequela’, ela falou'”.
Heittor faz acompanhamento médico e tratamento com insulina — Foto: Arquivo pessoal
Heittor ficou 18 dias internado, até que foi liberado para voltar para a casa. Hoje, ele faz tratamento com um endocrinologista, no entanto, a mãe explica que eles ainda sofrem para controlar a glicemia do menino, que oscila entre episódios de hipo e hiperglicemia.
“Ele ficou por três meses lutando até a gente descobrir, quase ao ponto dele morrer. As duas formas ele pode morrer. A gente tem que estar sempre espetando o dedinho dele. É complicado, cansativo. A gente se reveza para cuidar dele”, finaliza.
O médico explica que a doença não costuma apresentar nenhum sintoma, até que a glicemia esteja muito alta. Em caso de crianças, os principais sintomas geralmente são dificuldades de crescimento, de aumento de peso, aumento de sede e de vezes em que vai ao banheiro. “Começa também a ter muita fome. Então, é um paciente que come bastante, mas, ainda assim, perde bastante peso”, explica.
Segundo Santos, a diabetes mellitus tipo 1 surge quando o paciente tem uma predisposição genética e alguma coisa do ambiente age como gatilho, sendo os mais comuns infecções virais. Ela pode acometer pessoas de qualquer idade, apesar de não se ser tão comum em recém-nascidos e bebês.
“A maioria dos casos aparece durante a puberdade, antes dos 15 anos. Aparecer na infância, e principalmente, em recém-nascido, não é muito frequente. Existem outras causas que podem acometer esse grupo que tem que ser investigadas”, explica Santos. O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue simples e o tratamento para esse tipo específico é o uso de insulina injetável.
A falta de controle da glicemia pode causa a perda da visão, amputação de membros, infarto do miocárdio, a até um AVC. “É importante a gente ter em mente que é fundamental tratar adequadamente o diabetes mellitus. No Brasil, estima-se que existem mais de 15 milhões de pacientes com diabetes mellitus, que é responsável por uma morte a cada seis segundos. Para que nós fujamos dessas complicações o mais importante é deixar essa glicemia bem controlada”, finaliza.
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