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Bebê com paralisia cerebral que foi abandonado dentro de mochila em matagal é adotado: ‘nasceu pra mim’

today25 de maio de 2024 1

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No Dia Nacional da Adoção, celebrado neste sábado (25), o g1 conta a história da criança que lutou pela vida desde o nascimento e supera a cada dia as dificuldades de viver com paralisia cerebral.

Moisés foi resgatado em maio de 2021 após ser encontrado ainda com cordão umbilical dentro de uma mochila abandonada no bairro Vera Cruz (assista abaixo).

Ele foi envolto com uma camiseta de moletom, uma camiseta plástica, colocado dentro de uma bolsa e jogado dentro de um rio, um córrego que tem. Algumas pessoas que estavam passando ouviram um choro muito forte, acharam que era até um cachorro, mas quando abriram a bolsa, era o Moisés que estava lá dentro”, explicou a mãe adotiva Telma Lopes Pedro, de 41 anos.



Bebê preso dentro de mochila é salvo após chorar ao ser jogado em matagal em Mongaguá

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Ao g1, ela contou que o bebê estava bem debilitado, mas lutou pela sobrevivência. “Estava todo mordido por bichos que estavam ali já comendo ele em vida. Foi levado para o hospital e ficou internado”, afirmou.

Depois disso, ela contou que o menino foi encaminhado para um abrigo, onde teve duas paradas cardíacas com quatro meses de idade. A condição intensificou as sequelas neurológicas dele, que hoje é 100% dependente, pois não anda nem fala.

No entanto, Telma não sabia nada da história de Moisés quando foi chamada para conhecê-lo. Ela tem dois filhos biológicos, de 15 e 22 anos, mas estava na fila de espera da adoção com o marido há um ano quando foi informada sobre Moisés e se apaixonou.

Na época, o casal foi informado que o bebê tinha uma série de problemas de saúde. “Moisés estava com a visão danificada, ele tinha que colocar GTT [sonda de gastrostomia para alimentação], estava com desnutrição severa e mesmo assim eu não vi isso. Eu vi Moisés, o meu filho“.

“Quando eu soube da história dele, eu me apaixonei mais ainda, pela garra dele de lutar, de vencer pela vida”, disse Telma, que seguiu com o processo para adoção definitiva.

Telma tem dois filhos biológicos e adotou Moisés há um ano. — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo a mulher, o menino chegou na vida da família há pouco mais de um ano, mas esta não é a sensação. “Parece que ele sempre esteve, eu não consigo ver a minha vida antes dele. É corrido, às vezes é cansativo, às vezes ele não dorme a noite toda, mas Moisés é o meu milagre diário”, enfatizou.

Parou de trabalhar para se dedicar

A mãe precisou parar de trabalhar para se dedicar exclusivamente aos cuidados com o filho, que renderam frutos. “Ele estava para colocar GTT, ele não ia mais comer, ele só ia se alimentar por sonda. Eu e meu marido pedimos para o médico e ele deu um mês”, afirmou, dizendo que Moisés engordou 100 gramas, o que foi visto como suficiente para abdicar da sonda.

“Às vezes, a gente quer algo muito grande na nossa vida e Deus mostra o milagre dele em pequenos detalhes […]. Em um ano, ele já cresceu, já engordou mais de 3 kg. Uma criança que está quase dentro dos padrões de saúde com tamanho e peso. Todo dia é um milagre de Deus nas nossas vidas”.

Família fez uma festa de boas-vindas para Moisés com o tema “você era a peça que faltava” — Foto: Arquivo Pessoal

Além dos dois filhos biológicos, Telma engravidou outras três vezes que não foram para frente. “Na terceira gravidez, o neném estava no colo do útero. Fui fazer uns exames, lutando por essa gravidez, eu descobri que eu estava com tumor, um câncer no útero. E, com cinco meses de gravidez, eu tive que tirar tudo, fiz uma histerectomia total [retirada do útero e do colo do útero] e não podia mais gerar”.

Antes da cirurgia, ela tentou lutar para ter o bebê mesmo ouvindo que ele poderia ter sequelas. Por isso, quando soube que não poderia mais engravidar, Telma teve o desejo de adotar nas mesmas condições. “Quando foi para entrar na fila de adoção, eu tive isso comigo. Independente se tivesse alguma sequela ou algum problema, eu iria querer do mesmo jeito”.

Telma não lembra da vida sem a presença de Moisés, de 3 anos. — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Telma, o nome de Moisés foi escolhido por um juiz do Fórum de Mongaguá que acompanhou a história do menino desde o resgate próximo de um córrego. “Moisés, como na história bíblica, foi achado nas águas”, afirmou a mãe, dizendo que escolheu manter o nome da criança quando poderia mudar no processo da guarda definitiva.

“A gente poderia escolher outro nome e eu disse que não. Ele vai continuar como Moisés, porque ele realmente é um milagre do Senhor nas nossas vidas e um presente que Deus nos deu”.

As condições neurológicas de Moisés exigem muitos cuidados diários para que ele tenha uma qualidade de vida cada vez melhor. Segundo Telma, o menino faz terapia na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) em Mongaguá, mas já passou por tratamento em Santos e São Paulo.

Uma das maiores preocupações da mãe é na área de fonoaudiologia. “Ele tem disfagia [dificuldade de deglutição], então ainda tenho muita dificuldade com essa parte de fono [fonoaudióloga], da fala”, disse.

Além disso, Moisés precisa de equipamentos específicos que são caros. “Pelo fato de eu ter saído do serviço para cuidar dele, acabou complicando um pouco a parte financeira”, disse Telma. Por isso, a família entrou com solicitação para receber benefício do Governo Federal e conta com auxílio de amigos e familiares que fazem constantes campanhas para arrecadação para os cuidados.

Para Telma, apesar das dificuldades, conviver com Moisés é um privilégio e a adoção representa um recomeço. “Exatamente no momento que eu vi Moisés, ele nasceu no meu coração e meu amor por ele se tornou incondicional. Não nasceu de mim , nasceu pra mim“, finalizou.

O advogado e presidente da Comissão de Adoção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, Carlos Berlini, explicou ao g1 como funciona o processo de adoção de uma criança.

De acordo com ele, não é necessário ser casado ou viver um relacionamento. “Qualquer pessoa acima dos 18 anos de idade, casada, solteiro, viúvo, divorciado, pode adotar. Mas tem que preencher alguns requisitos”.

O primeiro passo é procurar a Vara da Infância e Juventude da cidade. “Adoção não se faz em hospital, em porta de maternidade, em cartório, em abrigo de criança”, enfatizou o advogado. Segundo Berlini, a adoção é responsabilidade do Poder Judiciário, que recebe a documentação dos interessados para iniciar o processo de habilitação para adoção.

“É um processo relativamente simples, onde um juiz, o serviço social e o promotor vão aferir se aquela pessoa ou aquelas pessoas têm condições psicoemocionais, sociais e estabilidade para poder adotar uma criança. Existem critérios objetivos e subjetivos do Poder Judiciário que habilita uma pessoa para adoção”, afirmou.

Neste momento, os pretendentes traçam o perfil de crianças que se sentem aptos a adotarem, limitando idade e outros fatores. Em seguida, eles vão para uma lista de espera. Com isso, é feito o cruzamento de dados entre os perfis desejados e as crianças em adoção. Segundo o especialista, quanto mais restrito o perfil, mais demorado o processo. “É preciso que os pretendentes alarguem o seu horizonte de adoção“, afirmou Berlini.

Quando um perfil corresponde com uma criança em adoção, a família adotante é acionada para conhecer a criança. “Tem que se deslocar até o local onde a criança está, conhecer, passar alguns dias com ela, pode ser uma semana, 15 dias. Fazer essa aproximação lenta, gradual, acompanhada pelo poder judiciário”, ressaltou.

A partir da aproximação, a família adotante inicia o processo para a guarda provisória e, depois, definitiva. “Vai ser acompanhada pelos serviços técnicos para que realmente tudo aconteça e que o juiz e promotor tenham provas bastante para poder dar uma sentença de adoção, porque adoção é um instrumento jurídico, cujo sujeito de direito é a criança, o sujeito de direito não é o adulto”, finalizou Berlini.

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Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Santos.

Por: G1

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