A atendente Maria Jaine Viana, de 30 anos, conta ter descoberto a gravidez em junho de 2022. Logo em seguida, ela foi à Policlínica do Morro São Bento, onde uma médica solicitou a primeira ultrassonografia.
No primeiro exame, segundo a mãe, não foi possível escutar os batimentos cardíacos da bebê, mas, os médicos disseram que era normal porque a fecundação havia sido recente. Após um mês, Maria Jaine levou o resultado à policlínica, e a médica pediu uma nova ultrassonografia, no Hospital dos Estivadores, com urgência.
“Em momento algum, ela [médica] falou que a minha filha estava morta”, disse ela, que tem outra menina de sete anos.
Assim que chegou ao hospital para realizar o exame, Maria Jaine afirmou ter sido orientada a ir ao médico antes realizar a ultrassonografia. A mulher contou que o profissional viu o primeiro exame — que não havia acusado batimentos –, não a encostou e falou que a bebê estava morta. A família entrou com uma ação contra o profissional. (leia mais abaixo)
“Eu não acreditei. Eu fui pelo meu coração e não pelo meu psicológico. No momento, eu falei assim: ‘Eu não estou sangrando, eu não estou sentindo nada, doutor’ e ele falando que o feto estava morto, que eu tinha 29 anos, que eu era jovem [para engravidar novamente]. Foi aí que entrei em desespero”, disse.
Família de Santos (SP) viveu um pesadelo até conseguir ter a filha nos braços — Foto: Matheus Croce/TV Tribuna
Segundo Maria Jaine, o médico se negou fazer uma nova ultrassonografia e disse que a ela já poderia ser internada para retirar o feto. A mulher se recusou e falou que faria um novo exame.
O marido e pai de Maria Clara, José Maximiano dos Santos, de 30 anos, contou que estava trabalhando quando a esposa ligou e contou o ocorrido. “Fiquei arrasado, mas continuei firme e forte porque eu sabia que isso era uma ilusão”, acrescentou ele, que trabalha como ajudante geral.
A mulher contou ter feito nova ultrassonografia um dia após o diagnóstico de que a bebê estaria morta.
Durante o exame a médica falou: “O que você acha mamãe? O que o seu coração está sentindo? Foi aí que eu falei: Não está morta. A minha filha está viva. [Quando ouviram os batimentos cardíacos], todos se emocionaram. Eu entrei em desespero chorando, meu marido se jogou no chão chorando, a médica chorou”.
Família de Santos (SP) não acreditou em médico que disse que a filha estaria morta — Foto: Arquivo Pessoal
Por mais que tenha ficado aliviada em saber que a filha estava viva e bem. Maria Jaine contou que a situação a deixou apreensiva durante toda a gestação, o que desencadeou pressão alta e coágulos de sangue. “Tudo que eu pensava era que estava acontecendo alguma coisa com ela”.
Ela lembrou que em determinada ocasião, ao se sentir mal, foi ao Hospital dos Estivadores, mas, como seria atendida pelo mesmo médico que atestou a filha como morta, se negou a ser atendida e se deslocou a outra unidade de saúde.
Quando a bolsa rompeu, em março deste ano, ela voltou ao Hospital dos Estivadores por ser mais perto de casa. Maria Jaine disse ter sido internada às 6h e só conseguiu ser transferida às 16h para o Hospital e Maternidade Municipal Dr. Silvério Fontes, onde precisou fazer uma cesárea [parto por cirurgia].
“Eu já estava com a bolsa rompida, não tinha mais líquido na bolsa. Estava sangrando bastante e sentindo dor. Em momento algum eles falaram que iriam me transferir para outro hospital. [Eles diziam:] ‘Não, você vai continuar aqui'”, lembrou.
De acordo com ela, a filha nasceu com algumas manchas roxas, causadas pela falta de líquido amniótico, que envolve o feto e preenche a bolsa. “[Os médicos] falaram que vai sumindo com o tempo. Se tivesse passado mais uma hora, ela poderia estar morta dentro de mim“.
Ultrassonografia mostrou batimentos cardíacos de bebê após ter sido dado como morto por médico — Foto: Arquivo Pessoal
Os advogados Yuri Rufino, Israel Costa e Felipe Cassimiro, responsáveis pela defesa da família, informaram que vão entrar com ações cíveis, administrativas e criminais contra o médico e o Hospital dos Estivadores.
Durante a análise do caso, disseram ter contratado um profissional da saúde para analisar o laudo do médico. O documento constatava a morte por ausência de batimentos cardíacos do feto, e não tinha a descrição dos exames complementares realizados para se chegar ao diagnóstico, não tinha sido preenchido.
Cassimiro acrescentou que pedirá para Justiça investigar se foi um caso isolado ou se há outras vítimas. “Outras mães [podem ter] agasalhado [acatado] a orientação do profissional e, com isso, evidentemente tenham pausado uma gravidez sadia”, disse o advogado.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Santos (SP) informou que a situação não foi levada ao conhecimento da prefeitura. No entanto, a pasta, por meio da Seção de Contratos de Gestão, irá apurar os fatos junto ao hospital e acompanhará o caso.
O Complexo Hospitalar dos Estivadores informou que a paciente citada compareceu ao pronto atendimento, em 12 de agosto de 2022, onde apresentou um exame de ultrassonografia realizado em outra unidade de saúde, em 28 de julho de 2022. Ela foi orientada sobre a conduta expectante e retorno posterior ao hospital.
Após essa data, passou em atendimento por mais cinco vezes, entre outubro de 2022 e março de 2023, para realização de ultrassonografias morfológica e obstétrica e consulta médica. No último atendimento, em 8 de março de 2023, em razão da ocupação máxima do hospital, ela foi transferida sem intercorrências para a maternidade municipal Silvério Fontes, por meio da regulação de vagas.
Até o momento, a instituição informou que não foi procurada pela paciente ou representante para esclarecimentos, mas que segue à disposição para acolhimento.
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