Há 56 anos, um deslizamento de terra devastou a cidade de Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo, e matou cerca de 450 pessoas. O caso também ocorreu após um forte temporal, semelhante ao que ocorreu há uma semana e deixou pelo menos 64 mortos, além de desalojados e desabrigados. Um dos bombeiros que participou dos trabalhos de resgate em 1967 relembrou do que viu e viveu, um dos maiores deslizamentos de terra já registrados no Brasil.
Em 18 de março de 1967, parte da Serra do Mar desmoronou. Cerca de 30 mil árvores desceram das encostas dos morros em torno de Caraguatatuba, destruindo, inclusive, parte da antiga rodovia dos Tamoios. A cidade ficou ilhada por três dias, sem luz e sem energia, virando manchete nos principais jornais do país.
Segundo a Prefeitura de Caraguatatuba, o desastre deixou cerca de 450 pessoas mortas, segundo registros oficiais. Outras três mil pessoas perderam suas casas e pelo menos 10 bairros foram atingido. Naquela data, foram 13 horas seguidas de chuva e deslizamentos.
bombeiro Giovan Nascimento mora em Santos e, naquela época, participou dos trabalhos de resgate em Caraguatatuba — Foto: Reprodução/TV Tribuna
O bombeiro Giovan Nascimento mora em Santos e, naquela época, participou dos trabalhos de resgate em Caraguatatuba. Ele lembra quando a equipe dele foi acionada para se dirigir ao litoral norte.
“Existia um setor, onde tinham rádios, aquele rádio amador, onde tinha telefone. E, através de código morse, que ele ficou sabendo. Entrou em contato pelo rádio, com alguém daqueles setores do litoral, e nós fomos acionados”. Ele lembra que foi de helicóptero até Caraguatatuba. Depois, ele conta que chegaram outras equipes para ajudar nos trabalhos.
“A minha missão, do bombeiro, era desobstruir, era ver se ainda tinha alguém com vida. E, nós encontramos muitas mortes, muitas mortes mesmo”, relata.
Além de se deparar com muitas pessoas mortes, ele explica que a Santa Casa da cidade foi completamente destruída. Segundo ele, metade da construção foi parar na água. “Tinha um rio, que formava uma cachoeira do outro lado, e ele mudou o curso. Arrebentou o lado onde ele estava, ele mudou o curso, passou pelo meio da Santa Casa e ela foi parar lá embaixo”.
Um dos maiores desastres naturais do país, tragédia em Caraguá faz 50 anos — Foto: Arquivo Municipal de Caraguatatuba
O bombeiro aposentado conta que encontrou muita lama, muitas pedras e animais mortos. As fotos antigas, guardadas por ele, revelam um pouco da situação dos moradores e da cidade após a tragédia. Segundo ele, os trabalhos nos escombros duraram 18 dias e foram bem mais difíceis, pois não havia tanta tecnologia.
“Segundo os cálculos, foram mais de 450 pessoas que morreram e não pudemos fazer nada ali. Tinha lugar que tinha que usar a sua mão, era na raça mesmo. Nós não tinhamos tecnologia na época”.
Por mais que esteja aposentado, ele sabe o dever e o sentimento dos bombeiros que trabalham nas cidades do litoral norte, castigadas pelo temporal durante o carnaval deste ano.
“Ele faz tudo aquilo por amor. Não só agora em Caraguatatuba, como em Brumadinho. Eles gostam de ir até o final, até o último, quando não tem mais ninguém ali. Quando eles salvam uma pessoa, se ele pudesse, ele daria uma festa, porque ele tem amor por aquilo que faz”, disse.
Tragédia em Caraguatatuba deixou cerca de 450 mortos — Foto: Arquivo Municipal de Caraguatatuba
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