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Britânica que viu mãe morrer internada ao seu lado com Covid relembra seus últimos momentos

today24 de março de 2023 5

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Uma delas era Anabel Sharma, de 52 anos, que trabalha como clínica-geral.

A outra era sua mãe, Maria Rico, de 76 anos.

Maria, que se mudou da Espanha para o Reino Unido na década de 1970, morava na mesma casa da família de Anabel (o marido e três filhos).



Anabel diz que sentiu a mão de sua mãe ficar cada vez mais fria nos momentos finais — Foto: BBC

O coronavírus, conta Anabel, “devastou” a família em uma velocidade assustadora.

Quando ela e mãe foram internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), os médicos não tinham certeza se alguma das duas sobreviveria.

Elas foram colocadas uma do lado da outra e uma fotografia comovente as mostra de mãos dadas, como é possível ver no início desta reportagem.

“Quando perguntei aos médicos se ia morrer, esperava que me dissessem que não”, recorda Anabel. “O que eles disseram foi ‘não sabemos’. Isso foi um choque.”

“Eu não estava pensando no salário que recebia, ou no carro que dirigia. Eu só gostaria de ter mais memórias com as pessoas que amo.”

Na cama ao lado, o estado de saúde de Maria estava se deteriorando.

Maria Rico era uma ‘avó incrível’, relata a família. — Foto: Anabel Sharma/ BBC

“Um profissional de saúde se ajoelhou ao meu lado e me disse que minha mãe havia assinado uma ordem para não ser reanimada. De certa maneira, minha mãe estava me contando seus desejos finais. Foi tudo muito surreal”, lembra Anabel.

A irmã de Anabel, Susana, foi levada ao leito da mãe enquanto usava equipamentos de proteção individual.

No dia 1º de novembro, Maria removeu a máscara de oxigênio para falar com as duas filhas pela última vez — apesar de saber que essa atitude apressaria a sua morte.

“Minha mãe pediu que retirassem a máscara e eles disseram: ‘Assim que removermos o equipamento, você não terá muito tempo'”, relata Anabel. “E ela disse: ‘Sim, eu sei disso. Mas já chega’.”

“Tivemos cerca de cinco minutos, o tempo em que ela conseguiu falar. Então, ela perdeu a consciência.”

“Ela nos disse que não tinha medo de morrer, que estava pronta. Ela me falou que eu precisava lutar muito, porque tinha as crianças em casa.”

“Os profissionais de saúde então aproximaram as nossas camas, para que eu estivesse próxima quando ela falecesse. Mas meus níveis de oxigênio começaram a ficar perigosamente baixos, então eles tiveram que me afastar para estabilizar o meu quadro.”

“Só me lembro de segurar as mãos e conversar com ela.”

“Muito lentamente, as mãos dela estava ficando cada vez mais frias.”

O coronavírus se espalhou pela família e todos os membros testaram positivo. — Foto: Anabel Sharma/ BBC

A tragédia da família de Anabel se repetiu em outras casas do Reino Unido e do mundo. Até o momento, já foram registradas 6,8 milhões de mortes por Covid em todo o globo.

Maria foi cremada algumas semanas depois. Anabel assistiu a cerimônia por meio de uma transmissão ao vivo, diretamente de sua cama de hospital.

Ela permaneceu na UTI por quase três meses.

O coronavírus se espalhou pela família e todos os membros testaram positivo.

“Minhas memórias são muito fragmentadas. Parece que eu só tinha piscado, mas os dias se passavam. Na maioria das vezes, eu não estava totalmente consciente.”

Quando Anabel finalmente teve alta, voltou para casa, em Leicestershire, sentindo-se fraca e chocada. Anabel sofreu fortemente com a perda da mãe.

“Por algumas semanas, quando voltei, dormi no quarto dela”, conta.

Seus filhos — então com 10, 12 e 22 anos — também estavam lutando para aceitar a devastação que a covid havia causado na família.

“Um dos dois filhos mais novos sempre ia para a cama comigo. Foi emocionalmente traumático para eles. Eles eram muito jovens.”

“A coisa mais dolorosa para mim foi saber que eles foram informados de que a mãe deles poderia não sobreviver.”

O tempo de Anabel no hospital também teve um grande impacto em seu marido, Bharat.

“Meu marido teve que carregar a família quando eu estava no hospital”, relata. “Ele recebia atualizações diárias sobre meu estado na UTI. Eram conversas muito difíceis que ele tinha todos os dias.”

Anabel sofre agora com os efeitos da Covid longa.

Seus pulmões ficaram danificados, e ela ainda sente muito cansaço. “Tenho cicatrizes nos pulmões e danos no coração e no fígado. Não sou a mesma pessoa de antes.”

Ela é grata à equipe da UTI que a tratou — Anabel até voltou para visitá-los.

Enquanto descreve a morte como um momento “de partir o coração”, ela está feliz pelo fato de a mãe não ter morrido sozinha.

Ela também entende que a visão de vida mudou como resultado dessa experiência.

“Senti que havia me perdido até aquele ponto. Lamentei muito os momentos que não tive com as crianças devido às pressões do trabalho.”

Tenho sorte de ter uma segunda chance para lidar com esses arrependimentos.




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Mundo.

Por: G1

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