A reportagem conversou com uma mulher que mora perto da Unidade Municipal de Ensino (UME) dos Andradas I, no bairro Aparecida, e com responsáveis pelas crianças estudam na escola, que atende alunos do berçário até a pré-escola. Todos disseram temer pela saúde.
Os pais e responsáveis ressaltaram que as crianças não têm discernimento para se manterem afastadas dos moluscos. A tia de dois alunos, de 4 e 5 anos, que preferiu não se identificar, contou que o sobrinho mais novo já teve o impulso de tocar em um caramujo e precisou ser impedido. Ela gravou vídeos, tirou fotos e disse ter levado a reclamação à escola.
Tia de estudantes registrou a presença de caramujos em muro da escola em Santos (SP). — Foto: Arquivo pessoal
A bióloga Paula Rocha explicou que o muco dos caramujos africanos pode apresentar parasitas que transmitem doenças ao ser humano, seja pela ingestão de alimentos contaminados ou contado direto, como ao tocar no molusco e levar a mão à boca.
O problema mais comum, segundo ela, é a angiostrongilose, que causa infecção e pode ocasionar sintomas como: dor abdominal, de cabeça, febre, náusea, vômitos e diarreia.
“O mais raro é transmitir a meningite eosinofílica [inflamação que atinge as meninges, que envolvem o sistema nervoso central], que é transmitida também pela ingestão do caramujo infectado com o verme causador”, disse Paula.
A bióloga explicou ainda que a população de moluscos tende a aumentar em períodos chuvosos. Eles costumam se reproduzir de forma rápida em locais úmidos.
Os caramujos africanos possuem um ciclo reprodutivo que abrange a postura de ovos, o desenvolvimento de juvenis e a maturação para a fase adulta, com o tempo para atingir a maturidade sexual variando de semanas a meses em condições ideais.
Cada molusco tem a capacidade de produzir uma quantidade significativa de ovos ao longo de sua vida, com uma única fêmea podendo depositar centenas de ovos durante um ciclo reprodutivo. O período total, desde a postura de ovos até a fase adulta, pode variar de alguns meses a um ano, destacando a rápida proliferação desses caramujos.
‘Brotam de tudo que é lugar’
Caramujos em escola geram preocupação por transmissão de doença — Foto: Arquivo AT e Arquivo pessoal
A mulher contou que a unidade escolar está passando por uma reforma e, nos últimos meses, a presença dos caramujos se tornou frequente.
“Toda vez que tem essa quantidade de chuva muito grande ou calor muito louco, os caramujos começam a ‘brotar’ de tudo quanto é lugar. Passa muita criança na calçada, idosos, e eles chegam a passar pelos muros”, afirmou.
Ela relatou que já viu aproximadamente quatro ao mesmo tempo em um muro. Uma imagem enviada ao g1 mostra um caramujo grande perto de um portão (confira acima).
“Os próprios moradores ali em volta questionam, dão uma reclamada, mas ninguém toma atitude. Eu não acho certo, tanto para crianças quanto para quem está ali pela escola na calçada. Sabemos que eles não vão pular do muro para atacar, mas em uma dessas alguém esbarra, tropeça, põe a mão”, lamentou.
População de caramujos africanos aumenta em período de chuva. Molusco costuma se reproduzir rápido em ambientes úmidos — Foto: Arquivo/A Tribuna Jornal
Outra mulher, mãe de um aluno de 3 anos, disse que pretende levar uma reclamação à escola nesta segunda-feira. “Me preocupa pelas crianças. […] tenho certeza que vão tomar alguma providência. Tem que ver também se tem lá dentro, porque só vi fora”, afirmou.
Uma terceira mulher, que mora próximo à escola, reforçou que essa não é a primeira vez. Neste ano, os caramujos começaram a aparecer em maior quantidade com as chuvas no mês de outubro. “Lá tem muita árvore. Eles estão saindo, estão no muro, nas calçadas. É perigoso, né? Porque transmite doenças”.
Segundo a bióloga Paula Rocha, a orientação é entrar em contato com o Centro de Controle de Zoonoses de Santos. O telefone é (13) 3257-8044.
Por meio da Secretaria de Educação, a Prefeitura de Santos informou que fez uma vistoria à unidade Dos Andradas I para verificar a atual situação e que tomará as medidas necessárias. A escola está funcionando provisoriamente no prédio da UME Dos Andradas II, aguardando a finalização dos trabalhos de reforma da unidade.
A obra é para ampliar a área construída do complexo Andradas em 800 m² e foi dividida em três etapas, externa, interna e ampliação. Atualmente, os serviços estão concentrados na área interna e na ampliação da unidade de ensino.
“As obras de ampliação e reforma geral do complexo educacional Andradas, no bairro Aparecida, em Santos, seguem avançando. Os serviços no Andradas I serão entregues este mês; no Andradas II o prazo de obras vai até abril de 2024, mas a entrega deve ser antecipada; já a ampliação – construção de novo edifício – será concluída no final do primeiro semestre de 2024”, disse.
Segundo a Prefeitura, não há relação entre os caramujos e a obra, pois sempre que chove onde há infestação de caramujos africanos eles aparecem.
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