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Chefe de gangue que domina ruas no Haiti, Jimmy ‘Churrasco’ se opõe a transição de governo e diz que ‘povo haitiano escolherá’ futuro governante

today13 de março de 2024 12

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O futuro do país está sendo planejado em duas vias: uma envolvendo a política, a outra focada no poder das gangues.

Jimmy “Churrasco”, deu uma entrevista coletiva em Porto Príncipe —fortemente armado— assim que a saída de Henry foi anunciada. Além de dizer que caberá ao povo do Haiti escolher o governante, mandou um recado de que não será aceita uma solução liderada ou apoiada pela comunidade internacional.

Os políticos haitianos viveram nesses dois mundos por décadas, especialistas disseram à Associated Press. Na superfície, políticos e os interesses empresariais governam o Haiti pela lei, enquanto, por outro lado, empregam gangues para impor a sua vontade nas ruas caóticas do país.



Segundo especialistas, a causa imediata mais importante que levou a esse cenário foi a crescente dependência dos governantes haitianos em relação às gangues de rua —que se sentem confortáveis para dar entrevistas coletivas, como a de Jimmy “Churrasco”.

Ariel Henry em Nairóbi, no Quénia, em março de 2024 — Foto: Andrew Kasuku/AP

Ao anunciar a renúncia, Henry afirmou que deixará o poder assim que um conselho de transição for instaurado. Segundo a Caricom (Comunidade do Caribe, da qual o Haiti faz parte), o conselho de transição haitiano será composto por dois observadores e sete membros com poder de voto, incluindo representantes do setor privado, da sociedade civil e da Igreja.

Autoridades dos Estados Unidos afirmaram que a decisão sobre a renúncia de Henry foi tomada na sexta-feira (8).

Mas as gangues, que querem eleições, vão influenciar no processo, analisa Robert Fatton, professor de governo e assuntos estrangeiros na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.

“As gangues começaram a ganhar autonomia nos últimos três anos, e agora são um poder por si só. A autonomia desses grupos atingiu um ponto crítico. É por isso que agora são capazes de impor certas condições ao próprio governo”, disse Fatton.

O Haiti não tem um exército permanente ou uma força policial nacional bem financiada e robusta há décadas. Além disso, intervenções da Organização das Nações Unidas (ONU) —uma delas liderada pelo Brasil— e dos Estados Unidos foram insuficientes para consolidar uma tradição de instituições políticas fortes no país. Isso levou líderes haitianos a usar civis armados como ferramentas para exercer o poder.

Com isso, políticos do país começaram a usar gangues, que começaram a se formar na década de 1990, como um braço armado de baixo custo para exercer seu poder em meio a um cenário de frágeis instituições políticas.

Décadas depois do uso sistemático dessa prática pelos políticos haitianos, o Estado enfraquecido do país está cada vez mais nas mãos das gangues, que detêm cada vez mais força.

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Políticos colaborando com gangues

Jean-Bertrand Aristide, um padre transformado em político, ganhou notoriedade por usar bandidos. Ele foi deposto por militares na década de 1990, o que levou a um embargo da comunidade internacional ao país.

O embargo e o isolamento internacional impactaram a pequena classe média do país, segundo Michael Deibert, autor de “Notas do Último Testamento: A Luta pelo Haiti” e “Haiti Não Perecerá: Uma História Recente”.

Depois que uma força de paz da ONU apoiada pelos EUA expulsou os líderes do golpe em 1994, um ajuste estrutural patrocinado pelo Banco Mundial levou à importação de arroz dos EUA e devastou a sociedade agrícola rural, disse Deibert. Com isso, jovens sem trabalho em Porto Príncipe começaram a entrar para gangues.

Em dezembro de 2001, o oficial de polícia Guy Philippe atacou o Palácio Nacional em uma tentativa de golpe e Aristide chamou os bandidos para se levantarem dos bairros pobres, disse Deibert.

“Não foram a polícia defendendo o Palácio Nacional do seu governo,” lembrou Deibert, que estava lá. “Foram milhares de civis armados.”

“Você tem esses diferentes políticos que têm colaborado com essas gangues por anos, e agora isso explodiu na cara deles”, disse Deibert.

Segundo Robert Fatton, todos os atores-chave na sociedade haitiana tinham suas gangues, observando que a situação atual não é única, mas esse cenário se deteriorou rapidamente nos últimos anos.




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Por: G1

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