Não existe um registro histórico oficial sobre o surgimento do coquetel. Historiadores justificam a hipótese de que a caipirinha tenha nascido em Santos porque o primeiro engenho de açúcar do Brasil, o Engenho dos Erasmos, foi construído na cidade em 1530, no pé do Morro da Nova Cintra.
Na metade do século 20, diversos alambiques e plantações de cana de açúcar foram estabelecidos em terras santistas. Nessa época, a cachaça era feita de forma artesanal e ficou conhecida como ‘Cachaça Morrão’.
“Era uma cachaça de extrema qualidade, que se tomava pura e não misturada com o suco de frutas, por exemplo. Os portugueses reaproveitavam galões de vinho tinto para difundir as cachaças. Eles vendiam em galões de cinco litros”, explica o mixologista e consultor de bares Bruno Caldeira Mendes. A família dele também tinha um alambique e consumia a cachaça (veja abaixo).
Família do consultor Bruno Caldeira teve um Alambique de Cachaça, em Santos, e aparecia com o litro da Cachaça Morrão — Foto: Arquivo Pessoal
No Brasil, a batida de limão era uma bebida feita com suco de limão, aguardente de cana de açúcar e açúcar. Como era feita em quantidade para muitos copos, era acondicionada em litro e guardada na geladeira. Na época, ela era chamada de brasileirinha ou brasileira. A pintora Tarsila do Amaral oferecia essa bebida a outros artistas, inclusive, fora do país.
Porém, o nome ‘caipirinha‘ só surgiu depois, segundo Marco Antônio Batan, autor do livro ‘Terra da Caipirinha’. Com a invenção dos refrigeradores, na década de 50, o gelo ficou mais abundante. A batida passou a ser preparada na hora, com o próprio limão cortado em pedaços e macerado no copo, com açúcar, a aguardente de cana e gelo.
Parque Natural Municipal Engenho São Jorge dos Erasmos — Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos
A cachaça industrializada, vinda de Piracicaba, era chamada pelos caiçaras de cachaça caipira, para se diferenciar da pinga artesanal feita em Santos. “Com o preparo do coquetel, com a cachaça do interior, mais o limão e o gelo, acabou se batizando de caipirinha”, explica Mendes.
Assim, o nome caipirinha subiu a serra e se disseminou no Brasil inteiro. Depois, a caipirinha brasileira entrou na lista oficial de coquetéis internacionais da IBA (Associação Internacional de Barmen), a partir de um pedido de Derivan Ferreira de Souza, que morreu em 2023.
A lista padroniza os drinques e traz a garantia de que o coquetel será o mesmo em qualquer lugar do mundo. “Ela cria a regra da caipirinha perfeita: cachaça, limão, açúcar e gelo”, explica.
“Todas as marcas de destilados do mundo, quando chegam no Brasil, sempre usam a caipirinha como referência e aí colocam o seu destilado. Mas, a caipirinha é o alicerce da nossa cultura”
Bar de Santos tem mais de 30 tipos de caipirinhas no cardápio — Foto: Mariane Rossi/g1
Caipirinha de vários sabores
A caipirinha é o drinque de cachaça, limão e açúcar. Na terra da caipirinha, há espaço para a criatividade. O Bartu é um dos botecos da cidade que exalta as características dos santistas, tanto na decoração como no cardápio. Lá, há mais de 30 opções de caipirinhas, mesclando diversas frutas diferentes.
O bartender Airkee Gomes de Moura explica que o estabelecimento produz a própria cachaça. Ela é feita em Monte Alegre do Sul, no pé da Serra da Mantiqueira. O processo é feito manualmente, desde o corte e transporte da cana até a destilação artesanal com alambique em cobre.
Caipirinha de limão do chef Marcos Rillo — Foto: Marcos Rillo
No bar, todas as caipirinhas são feitas com a cachaça artesanal. Para sair do óbvio, também tem a caipirinha de kiwi com pitaia. Outra muito pedida e bem docinha é a caipirinha de abacaxi, manga e geleia de frutas vermelhas.
O sucesso da casa é a de três limões com rapadura (veja a receita abaixo). “Tem aquela pegada do açúcar mascavo e a gente consegue fazer uma bela mixologia de sabores”, disse Moura.
Segundo o bartender, o segredo de uma boa caipirinha são produtos de qualidade. “Se a fruta for bem selecionada e a cachaça de boa qualidade, dificilmente a caipirinha sai com baixo padrão”.
Caipirinha de 3 limões e rapadura, feita em bar de Santos — Foto: Mariane Rossi/g1
Caipirinha de 3 limões e rapadura
- 3 gomos de limão taiti
- 3 gomos de limão siciliano
- 3 gomos de limão cravo
- 1 dose de xarope de açúcar ou 2 colheres de sopa de açúcar
- 75 ml de cachaça
- Gelo a gosto
Modo de preparo: Corte os limões em quatro partes e utilize apenas três de cada. Coloque os limões no fundo do copo e adicione o xarope de açúcar ou o açúcar. Macere (esmague) levemente as fatias de limão com o açúcar. Cuidado para não macerar demais pois isso deixa o drinque amargo. Adicione o gelo, a cachaça e misture, de forma circular. No topo de copo, coloque o gelo triturado, se tiver. Corte a rapadura em pedacinhos e acrescente no topo do drinque.
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