“Com a aquisição do Credit Suisse pelo UBS, foi encontrada uma solução para garantir a estabilidade financeira e proteger a economia suíça nesta situação excepcional”, diz um comunicado do Banco Nacional da Suíça, que observou que o banco central trabalhou com o governo suíço e a Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro Suíço para promover a fusão dos dois maiores bancos do país.
Apesar disso, as ações do Credit Suisse voltaram a cair e valem hoje menos do que US$ 1 (R$ 5,23).
Foi uma reviravolta que poucos imaginariam acontecer, quando em 2008, no auge da crise financeira que varreu o mundo, o Credit Suisse, embora afetado como o restante dos bancos, conseguiu resistir à tormenta sem um resgate do governo, ao contrário do UBS, que agora virou seu salvador.
Mais recentemente, o “rosto” do Credit Suisse tem sido o deus do tênis suíço, Roger Federer. Ele sorri em cartazes nos aeroportos do país, um símbolo de força, excelência, resistência e confiabilidade.
Mas por trás da campanha brilhante havia alguns grandes problemas. Gestão divisiva, exposição cara à empresa financeira Greensill Capital, que entrou em colapso em 2021, um caso decadente de lavagem de dinheiro e uma perda da confiança do cliente nos últimos meses. Resultado: bilhões foram retirados do banco.
A debandada acabou ganhando força após o Banco Nacional Saudita, o maior acionista do Credit Suisse, com quase 10% de participação, indicar que não aumentaria seu investimento.
As ações do Credit Suisse entraram em queda livre, e mesmo uma declaração de confiança do Banco Nacional da Suíça e uma oferta de US$ 50 bilhões (R$ 260 bilhões) em apoio financeiro não conseguiram estabilizar a situação.
Dormiu ao volante? Como isso pode ter acontecido?
Após a crise financeira, há 15 anos, a Suíça introduziu as chamadas leis “grandes demais para falir” para seus maiores bancos.
Era um recado claro às instituições financeiras: nunca mais o contribuinte suíço resgataria um banco do país, como aconteceu com o UBS.
Mas o Credit Suisse é um banco “grande demais para falir”. Em teoria, tinha capital para evitar a catástrofe desta semana.
Também em teoria, os reguladores financeiros suíços e o Banco Nacional Suíço devem estar de olho nesses bancos sistemicamente importantes e podem intervir antes que ocorra um desastre.
Foi estranho, na semana passada, ver o restante do mundo reagir com preocupação real quando as ações do Credit Suisse despencaram e ignorar, a princípio, o que a Suíça estava falando.
Até mesmo a mídia suíça parecia não se importar com as manchetes do Financial Times e parecia mais interessada no debate contínuo sobre quanto apoio a neutra Suíça deveria oferecer à Ucrânia.
No momento em que todos se deram conta, tamanho dano já havia sido causado que o Credit Suisse não tinha mais salvação.
As consequências começaram a ameaçar não apenas todo o setor financeiro da Suíça, mas também da Europa.
Enquanto o governo se reunia em sessão de emergência para tentar encontrar uma solução, quase dava para sentir o cheiro do pânico em Berna.
Ao anunciar a aquisição do banco, o presidente suíço, Alain Berset, disse que “um colapso descontrolado do Credit Suisse levaria a consequências incalculáveis para o país e para o sistema financeiro internacional”.
É difícil evitar a conclusão, dizem alguns suíços, de que as mesmas pessoas que deveriam ter agido para evitar o colapso do Credit Suisse estavam dormindo ao volante.
Reputação da Suíça prejudicada
Essa falta de atenção vai custar muito caro. A aquisição do UBS, pela insignificante soma de US$ 3 bilhões (R$ 16 bilhões), além de ser uma humilhação total para o Credit Suisse, provavelmente deixará seus acionistas um pouco mais pobres.
Haverá também perdas de empregos, talvez na casa dos milhares. Existem agências do Credit Suisse e do UBS em quase todas as cidades suíças. Assim que a aquisição estiver concluída, não fará sentido o UBS mantê-las.
Mas talvez o dano mais caro de todos seja a reputação da Suíça como um lugar seguro para investir.
Apesar dos escândalos ao longo dos anos relacionados às contas bancárias secretas de ditadores (incluindo o filipino Ferdinand Marcos e o congolês Mobutu Sese Seko, além de muitos outros), ou a lavagem de dinheiro para traficantes e sonegadores de impostos, os bancos suíços mantiveram essa reputação personificada na figura de Roger Federer: forte e confiável.
E agora? Um sistema que permite que um banco de 167 anos vá à falência, em poucos dias, à custa de muitos empregos e perdas maciças no valor das ações?
Isso pode causar enormes danos à reputação. O setor bancário suíço, os reguladores financeiros da Suíça e seu governo dizem que a aquisição é a melhor solução.
No último minuto, foi a única solução. Nos próximos dias, haverá algumas perguntas difíceis de responder.
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