Como o Senado do Império Romano está em recesso de verão, Caio Antônio pode se dedicar inteiramente ao descanso e à boa vida. À tarde, ele espera por amigos que convidou para passar a estação com ele. À noite, eles serão mimados nos banhos termais da cidade de Baiae, no Golfo de Nápoles.
O bem-estar era, de fato, muito importante no Império Romano.
Golfo de Nápoles: destino número um
Desta forma, tal qual o fictício Caio Antônio, algum rico cidadão da cidade de Roma pode ter adoçado seu verão há 2.000 anos. O Golfo de Nápoles era o destino de férias favorito dos romanos na Antiguidade, com as classes altas residindo em vilas à beira-mar e nas montanhas.
“Nenhuma baía no mundo pode rivalizar com a bela Baiae”, disse o poeta Horácio. Embarcações navegavam pelo mar e, à noite, como relata o historiador Plínio, o Jovem, as pessoas se reuniam para um suntuoso jantar de ostras.
Mas não eram apenas os ricos que passavam suas férias de verão aqui: os romanos menos abastados também eram atraídos para o Golfo, viajando para Tibur (hoje Tivoli), Antium (hoje Anzio) e Baiae, atualmente no fundo do mar. Férias clássicas em balneários não tinham o mesmo sentido que têm hoje. As pessoas também se divertiam, mas estavam mais interessadas nas fontes de cura dos banhos termais.
Villa D’Este, em Tivoli — Foto: Filippo Monteforte/S fornasier/AFP
Aqueles que tinham mais dinheiro, mandavam construir os alicerces de suas termas diretamente no mar, para que pudesse nadar em uma piscina segura e bem temperada, cercada pelas ondas. Para o filósofo romano Sêneca, esse era o epítome da decadência. “Adversamente natural”, para ele, era essa prática dos romanos ricos.
Baiae, no entanto, não era apenas um resort de águas, mas também notória pelos excessos dos turistas amantes de festas – tanto que Sêneca teve outros motivos para reclamar.
“Por que tenho que ver bêbados cambaleando ao longo da costa e festas barulhentas em veleiros com música alta?”, questionou.
Em um de seus epigramas, seu colega, o também poeta Marcus Valerius Martialis, atacou o adultério onipresente na cidade costeira: “Pura era Laevina… Mas quando ela… relaxou nas águas de Baiae, foi inflamada por um amor feroz: deixou seu marido e correu atrás de um jovem”.
Aqueles que estavam preparados para uma longa jornada se deslocavam com relativa segurança no vasto Império Romano. Além disso, o latim era falado por toda a parte. As estradas, que haviam sido construídas para os exércitos romanos, estavam em boas condições, e as pessoas caminhavam, viajavam de carruagem ou eram transportadas em liteiras – uma espécie de carruagem em que escravos carregavam os nobres.
Se a pessoa estivesse em boa forma, poderia percorrer talvez 30 quilômetros diários a pé, até 80 quilômetros de carruagem e um pouco mais a cavalo. Em um mapa da Universidade de Stanford, nos EUA, é possível calcular o tempo necessário para viajar de um lugar a outro do império e indicar os meios de transporte e as possibilidades orçamentárias.
Havia albergues ao longo do caminho, portanto, a alimentação era assegurada. Muitos romanos também passavam a noite nas propriedades rurais de famílias locais. O chamado “hospitium publicum” (hospitalidade pública) era um acordo entre famílias que obrigava os anfitriões a acomodar os viajantes. Uma moeda cortada irregularmente servida de acesso: hóspede e anfitrião deviam juntá-la.
Aqueles que escolhiam a rota marítima podiam viajar em um navio mercante sob pagamento de uma taxa. Naquela época, não existiam navios turísticos clássicos. O principal medo era o enjoo, e os mares eram praticamente livres de piratas.
Qualquer lugar, menos os bárbaros
Lua no Partenon, antiga Acrópole em Atenas, na Grécia. — Foto: AP
O Egito era um destino popular, as pirâmides de Gizé, a Esfinge ou o farol em Alexandria atraíam multidões de turistas. Mas os turistas também seguiam os passos de Homero, em Tróia, ou se reuniam nos locais de batalhas famosas – por exemplo, em Maratona, onde os gregos derrotaram um exército persa em 490 a.C.
Havia também, no entanto, viagens de estudo para Nápoles ou Atenas. Somente para os “bárbaros”, como eram chamados todos os não romanos e não gregos, ninguém queria viajar voluntariamente. Os antigos templos da Grécia, por outro lado, atraíam os turistas romanos. Os guias de turismo locais explicavam o que era o Oráculo de Delfos ou o Olimpo, a morada dos deuses, e o autor grego Pausânias (110-180 d.C.) escreveu um dos primeiros “guias de viagem” sobre os pontos turísticos de sua terra natal.
Onde quer que os viajantes fossem, os habitantes locais faziam negócios com os turistas ricos de Roma. E assim, mesmo naquela época, havia todo o tipo de souvenirs para comprar, desde pirâmides em miniatura até estátuas de prata e potes de barro pintados com o farol de Alexandria. O imperador Adriano, amante de viagens, foi além: mandou construir modelos em miniatura de pontos turísticos famosos em sua Villa Adriana em Tibur (Tivoli).
Mas, assim como hoje, já naquela época havia críticas às viagens de longa distância. Plínio, por exemplo, escreveu: “Estamos acostumados a fazer grandes viagens, a atravessar o mar, a fim de conhecer coisas que não percebemos quando estão debaixo de nossos narizes”.
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