O diretor estratégico do serviço funerário do Grupo Bom Pastor, parceiro do Memorial, Nelson Pereira Neto, explicou que a tanatopraxia consiste na reparação e conservação da matéria orgânica do corpo após a morte, o que permite que possa ser transportado a grandes distâncias ou o prolongamento do funeral.
O diretor explicou que o procedimento é o menos invasivo possível. “É feita uma pequena incisão próxima ao pescoço, onde a gente faz uma incisão em uma artéria e injeta um líquido que é basicamente igual uma máquina de hemodiálise, ou seja, a gente injeta o líquido que é a base de formaldeído e ele circula nas veias do corpo”.
Segundo ele, o líquido é deixado por um período e, depois, por meio de uma pequena incisão, é aspirado. “Esse líquido e outros líquidos também, como o sangue, na via abdominal”, disse.
O corpo do Rei, no caso, além dos dias entre a morte e o funeral, ainda foi velado por 24 horas, período em que recebeu o carinho de santistas e personalidades que se despediram dele. O processo começou no dia da morte, em 29 de dezembro.
A equipe foi até o Hospital Albert Einstein realizar o procedimento em Pelé, que também passou por necromaquiagem, que ajuda a dar uma aparência próxima de quando estava vivo.
“No caso do Pelé, o procedimento foi feito dentro do Albert Einstein por questões de segurança, mas, geralmente, [o corpo] é translado para o Centro Estético Funerário, onde fazemos tanto a preparação do corpo como a necromaquiagem e higienização”.
Depois, o corpo do craque foi coberto com lençóis e colocado em uma sala climatizada até a hora do transporte para o velório na Vila Belmiro, em Santos, na segunda-feira (2).
Presidente Lula e primeira-dama, Janja, participam de velório do Rei Pelé na Vila Belmiro, em Santos (SP) — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
Além da conservação, a técnica da tanatopraxia visa evitar a propagação de moléstias contagiosas e doenças à comunidade, visto que com essa preparação o corpo recebe um tratamento especial com substâncias germicidas.
Apesar de ter um conceito parecido com o embalsamento, segundo ele, são procedimentos diferentes, pois não exige a retirada de todos os órgãos, como acontece no outro método.
A tanatopraxia é um método antigo e foi criada no século XIX, durante a Guerra da Secessão, nos Estados Unidos, com objetivo de transportar corpos de soldados mortos. Após aprimoração, a técnica se espalhou pelo mundo e chegou ao Brasil em 1993.
Pelé é sepultado em Santos — Foto: Reprodução
De acordo com o profissional, o procedimento pode ser feito imediatamente ou em até dois dias após a morte. “Óbvio que quando retarda o tempo do processo, o sucesso diminui. A técnica não é 100%, assim como nada [na medicina] é, mas em 99% dos casos dá certo. Se você passa um dia para fazer, já cai 30% a chance de dar certo porque o corpo entrou em estado de decomposição”, explicou.
Não há critérios para a realização do procedimento, apenas é necessário a autorização da família. “O que difere é o peso e a causa da morte. Dependendo do tipo de falecimento, se for algo hepático, por exemplo, muda todo o líquido que é injetado e muda as porcentagens e composição desse líquido”.
Além disso, também é definido o tempo de conservação do corpo. “O tempo do falecimento ao sepultamento durou 6 dias, mas a gente deixou uma margem de 15 dias, então a gente poderia realizar a cerimônia dele (Pelé) em até 15 dias, depois disso continua o processo normal de decomposição do corpo”.
Imagem de arquivo sem data mostra o ex-jogador de futebol, Edson Arantes Nascimento, o Pelé, com uma mancha de suor em forma de coração em sua camisa da Seleção Brasileira. Aos 82 anos, o melhor jogador de todos os tempos não resistiu ao tratamento de um câncer no cólon e faleceu em decorrência de falência múltipla dos órgãos nesta quinta-feira, 29 de dezembro de 2022. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Pelé, o Rei do Futebol, deixa seis filhos. — Foto: DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO
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