Samuel mora com a família em Praia Grande (SP) e foi diagnosticado com AME tipo 2. Essa é a forma intermediária da doença, que é rara e pode afetar a capacidade de caminhar, correr e até respirar.
Os pacientes têm baixos níveis da proteína SMN e o remédio Nusinersena (Spinraza) serve para aumentar a produção, mas só o Zolgensma é capaz de neutralizar os efeitos da doença.
O Sistema Único de Saúde (SUS) liberou o Nusinersena para a terapia de Samuel, cujo tratamento custa algo em torno de R$ 1,4 milhão no primeiro ano e R$ 711 mil a partir do segundo. Ele terá que receber o medicamento pelo resto da vida.
O Zolgensma, por sua vez, seria administrado uma única vez por infusão intravenosa. A mãe precisou acionar a Justiça para garantir o medicamento e, meses depois, em fevereiro deste ano, recebeu a decisão favorável no Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
Com a vitória na Justiça, o menino foi submetido a novos exames para receber a infusão do Zolgensma. O resultado, no entanto, não foi o esperado. Os anticorpos anti-AAV9 vieram positivos.
Ao g1, o médico neurologista Rodrigo de Holanda Mendonca, que atende Samuel, explicou: “Significa que ele tem anticorpos que neutralizam o Zolgensma. Não pode receber o medicamento agora“.
Criança com doença rara aguardou há meses por remédio milionário e descobriu que ainda não poderá tomá-lo — Foto: Arquivo pessoal
O médico neurologista acrescentou que o Governo Federal comprou o medicamento, mas ele ainda está nos Estados Unidos. O envio depende da solicitação de Mendonca, que vai repetir os exames no próximo mês para confirmar a condição.
De acordo com a carta de aprovação do remédio emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Zolgensma é produzido a base de vírus AAV e o uso do medicamento em pacientes com anticorpos anti-AAV9 não é aceitável porque não há experiência clínica.
A presidente nacional da Associação Brasileira de Atrofia Muscular Espinhal, Fátima Braga, explicou ao g1 que são raras as pessoas com AME que têm esse anticorpo. Ela acrescentou que ainda não há muitos estudos sobre a aplicação do Zolgensma nesses pacientes.
Mãe conseguiu na Justiça remédio milionário a filho, mas ele não pode tomar devido a anticorpos que neutralizam o efeito do remédio — Foto: Arquivo pessoal
A revendedora e moradora de Praia Grande (SP), Thauany Corrêa, de 22 anos, afirmou à equipe de reportagem que acredita na cura do filho. “Eu pensava que [a cura] era através dessa medicação […]. Se eu acabar me desesperando, não vou conseguir cuidar dele. Eu prefiro confiar”.
Thauany explicou que Samuel continuará fazendo sessões de fonoaudiologia, fisioterapia respiratória, motora e aquática. O paciente também segue recebendo o Nusinersena que, de acordo com ela, tem ajudado no desenvolvimento motor do menino.
“Desde a primeira dose [do Nusinersena], eu vejo coisas que ele está fazendo que eu fico chocada […]. Eu coloco ele no chão para ficar em pé e, às vezes, endurece a perninha e depois amolece de novo. Mas, ele não fazia isso. Era totalmente molinho”, disse a mãe.
Infográfico explica funcionamento do remédio Zolgensma — Foto: Arte/Ben Ami Scopinho/NSC
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou ao g1 que adotou as medidas cabíveis para o cumprimento da decisão judicial que determinou a entrega do medicamento Zolgensma a Samuel. A decisão judicial, porém, não determinou o custeio da aplicação.
Atrofia Muscular Espinhal
Ao g1, a presidente nacional da Associação Brasileira de Atrofia Muscular Espinhal, Fátima Braga, explicou que AME é uma doença rara, degenerativa, passada de pais para filhos.
“[A doença] interfere na capacidade do corpo de produzir uma proteína essencial para a sobrevivência dos neurônios motores, responsáveis pelos gestos voluntários vitais simples do corpo, como respirar, engolir e se mover”, afirmou.
No Brasil, de acordo com Fátima, existem aproximadamente 2,5 mil pacientes com a doença. Para ela, por mais que ainda seja um grande desafio, o diagnóstico precoce é essencial para transformar o futuro dos pacientes com AME.
“O cenário ideal seria identificar a AME já nas primeiras semanas de vida do bebê, na fase pré-sintomática da doença, que pode acontecer tanto devido ao histórico familiar ou por uma política pública estruturada de triagem neonatal”, finalizou.
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