Um estudante, de 18 anos, de Praia Grande, no litoral de São Paulo, foi escolhido pelo júri técnico como ganhador de um concurso de composição de músicas, ‘ Vozes pela Igualdade’, desenvolvido pela Secretaria de Educação do Estado em parceria com o Ministério Público (MP-SP) com temática de combate ao capacitismo. Kallyl Santana da Silva compôs a ‘Artigo 88’, inspirada na Lei Brasileira de Inclusão, e na música ‘Baião’, de Alok, RAPadura Xique Chico e Whindersson Nunes.
O estudante da Escola Estadual Vila Tupi afirmou ao g1, nesta sexta-feira (22), que a letra retrata a vivência de uma pessoa portadora de deficiência (PCD) dentro da sociedade — principalmente os problemas enfrentados por elas. “Falo que a solução nem sempre é uma rampa, mas sim [acabar com] o preconceito enraizado na sociedade”.
O artigo que inspirou a composição de Kallyl diz que: “88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.”
Kallyl contou que o pai do irmão dele tinha um filho com deficiência e, mesmo não o conhecendo pessoalmente, considera que a letra da música seja uma homenagem para ele. “Não sou tão conectado com a família do meu irmão por parte de pai, mas era como um irmão de consideração”.
Para o processo de criação da ‘Artigo 88’, Kallyl contou com a ajuda de um amigo que fez a parte instrumental da música. Na sequência, ele compôs a letra e fez a produção dela pelo celular. Ouça a música no vídeo acima e veja a letra completa no final da matéria.
Estudante de escola pública de Praia Grande (SP) vence concurso de composição da Secretaria de Educação Estadual e Ministério Público — Foto: Arquivo Pessoal
Ao todo, segundo a Secretaria Estadual de Educação, o concurso envolveu 76 Diretorias Regionais de Ensino, que selecionaram 98 músicas realizadas por 477 estudantes. Entre os 10 finalistas, Kallyl teve a composição escolhida como a melhor pelo júri técnico. Ele ganhou uma medalha, um certificado de participação do concurso, um troféu, e a oportunidade de gravar a música em um estúdio profissional.
“Me vejo continuando nesse trabalho artístico. Não vejo só como hobby, mas como uma oportunidade. Me vejo estudante, mas dando espaço à música na minha vida. Tenho um sonho, antes da música, de ser designer gráfico, já sou, mas não tenho diploma”, disse ele.
O estudante contou que tem contato com hip hop desde pequeno, pois sempre gostou de ouvir Racionais Mc. “Já tinha bastante apreço por isso tudo e depois dos 15 anos tive contato com batalhas de ria. Desde pequeno fazia poesias e comecei a transformar em música. O rap é meu gênero favorito”.
Kallyl afirmou que sonha em viver da música e da arte, após ter vencido concurso com composição ‘Artigo 88’ — Foto: Arquivo Pessoal
Para ele, a sensação de ter a composição dele como a campeã é de muita alegria, e fez com que o desejo de viver da música crescesse dentro do coração do estudante. “Sinto uma sensação de dever cumprido. A votação popular é importante, mas é mais maleável, não desmerecendo, mas o fato de ter ganhado em júri técnico é a confirmação de que minha arte pode levar para algum lugar”.
A participação no concurso já era sonhada por ele desde o ano passado e, segundo o jovem, a vitória é uma forma de destacar a Baixada Santista. “Tem muitas pessoas nessa região que merecem ter sua visibilidade, seu serviço e arte exposta às pessoas prestigiarem”.
Meu povo é mais que uma limitação nessa escuridão
Eu vejo vidas comovidas a achar a saída dessa rotulação
A população está comovida e decidida nunca mais ter decaída na tribulação
Então pega a visão que o conceito de respeito se encaixa em qualquer sujeito com essa condição
Se dermos as mãos o desrespeito e preconceito não será mais um defeito em dissimulação.
Sejamos francos, sabemos que já são tantos que ouviram palavras que machucaram o coração e causou prantos, mas até quando que uma pessoa independente sobre rodas vai ser motivo de espanto?
Mas adianto que a resistência ganhará da prepotência enquanto estivermos lutando e eu ‘tô’ lutando, pois através dessa canção quero passar superação com o meu canto.
Eu vejo arte, igualdade, cultura, brasilidade em fartura, povo fazendo mistura de regiões com sonhos lá nas alturas, com muita desenvoltura na felicidade pura tocando seus corações.
Fazer o bem não tem preço, ver o sorriso inocente de uma criança, o apreço por receber o presente de se aceitar como é, nunca perder sua fé, faz da nossa alegria ser do Brasil o endereço.
Refrão
Então vem comigo meu povo nessa canção pela igualdade e respeito levante as mãos para que o mundo escute a nossa voz.
Lutando pela inclusão, nada sobre nós sem nós.
É na embolada que eu vejo os males se esvaindo sem ter pressa, na conversa vamos evoluindo no pandeiro, uma cultura o Brasil vai construindo, lutando igual capoeira, esse país é tão lindo.
Não pense que a inclusão é só pensar numa rampa que a solução do problema é só pensar no acesso sendo que o capacitismo ainda é algo que espanta e se isso se agravar o país entra em regresso.
Mentes fechadas não abre portas para resiliência de que adianta ter respeito se não ter pertinência, peço que o choro de uma vida não vire consequência de uma visão capacitista dita com imprudência.
Nossos louvores são em nome dos que buscam igualdade para que os temores não ofusquem o sonho de liberdade em cada estado, município, capital ou cidade terá quem quebrará barreiras da nossa sociedade.
O júri técnico foi formado por artistas com deficiência: a cantora e compositora Amanda Mittz; a produtora musical Carol Pacheco; a bailarina Marina Abib; o arte-educador Leo Castilho; e a atleta de dança em cadeira de rodas Paula Ferrari.
Kallyl venceu com composição sobre combate ao capacitismo em concurso promovido pelo governo do Estado de São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal
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