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Fisioterapeuta desabafa sobre diagnóstico tardio do TEA aos 42 anos: ‘passei a vida fingindo uma comunicação’

today3 de fevereiro de 2023 14

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Fui descobrir aos 42 anos que eu não consigo me comunicar. Passei a vida fingindo uma comunicação [forçando para conversar, o que causa um desgaste] e é muito difícil admitir isso hoje para a família. Acho que lá atrás se eu soubesse, se tivesse tido a chance, a oportunidade de aprender a me comunicar, talvez eu me sentisse mais pertencida, ou teria me sentido menos diferente”, disse a fisioterapeuta.

Andréa afirmou que resolveu compartilhar o diagnóstico com os seguidores, pois sabe que muitas pessoas podem estar passando pela mesma situação e reforçou que, se ela tivesse descoberto antes, teria poupado muito sofrimento.

“Sei o número de pessoas que sofrem com isso e às vezes nem imaginam o que seja. Imagino quantas pessoas como eu não param e pensam que são loucas. Foi isso que eu pensei”.



“Já cheguei a pedir para meu marido me internar“.

Andréa usou as redes sociais para desabafar após a descoberta — Foto: Reprodução

Ela contou que compartilhar o diagnóstico é um dos primeiros passos pra aceitação do transtorno. “Não quero ter que esconder nada em mim. Qualquer coisa que tiver que esconder vai ser muito traumático. Quero a liberdade de viver como sou, que não é legal, não é fácil, não gosto, mas sei que vou aceitar”, afirmou.

A fisioterapeuta disse que já fazia tratamento psiquiátrico há anos, mas que sempre recebia diagnóstico de transtorno bipolar, ansiedade generalizada e depressão. “Durante muitos anos, mais de 10 anos, tentei várias medicações, terapias e nunca tive bons resultados. Ano passado tive uma piora, algumas crises que nunca tinha tido antes e foram elas que me fizeram buscar ajuda profissional”.

Fisioterapeuta de Santos, SP, desabafou sobre diagnóstico tardio do TEA aos 42 anos — Foto: Reprodução/Instagram

Com o diagnóstico do TEA, Andréa afirmou que as medicações corretas foram importantes. “Por um lado, [a gente] fica aliviada em saber o que tem que fazer para lidar com isso. Por outro, não é tão simples assim, não é uma coisa óbvia e lógica. Comecei a perceber o quanto eu tinha me construído ao longo da vida de uma maneira muito equivocada”.

“Ao passar pelo processo de desconstrução, que para mim parecia ser algo fácil porque me considerava uma pessoa muito corajosa, me deparei com o fato de que era uma coisa muito assustadora. Esse se conhecer é horroroso, faz com que eu veja coisas em mim que eu não quero ver“, explicou.

Mesmo após a descoberta do transtorno e o começo do tratamento, a fisioterapeuta afirma que ainda está receosa das pessoas e de si mesma. “Essa sensação toda veio depois do diagnóstico. Antes me considerava uma pessoa muito forte, capaz, que tinha muitas superações, mas fui descobrindo que, na verdade, isso era uma característica do TEA, principalmente das meninas, que usam para camuflar as dificuldades que elas têm”.

Muitos comportamentos que tive durante a vida, que tinha orgulho deles, não eram genuínos, foram aprendidos, copiados e usados para que eu parecesse o mais normal possível. A minha grande dificuldade foi abrir mão deles. Quando comecei a abrir mão, vi que eu não era nem tão esperta, nem tão corajosa e nem tão inteligente. Hoje eu não pareço mais tão interessante quanto na época que conheci meu marido”, afirmou.

Ao g1, o psicanalista e marido de Andréa, Jal Reis, disse que a maior dificuldade dele, até o momento, é entender que a esposa é uma nova mulher. “É tudo diferente. Antes ela se adaptava a esse mundo na raça, na força. Hoje, ela não precisa mais [disso]. A gente tem que entender o comportamento dela. O tempo corre diferente para ela”.

“Ela começou a descobrir várias sensações, coisas sensoriais nela que impactava diretamente na minha vida. Ela precisa do espaço dela de uma forma diferente, a música para ela tem que ser outro tipo de som. Antes ela meio que se adaptava ao mundo”, disse Reis.

Ele também concorda sobre a dificuldade da inclusão. “A gente entrou em um novo desafio. Agora tenho que fazer terapia junto e entender como é viver e morar com autista. É praticamente um novo casamento. A inclusão não é tão simples. A cada terapia ela vai tentando entender o que vai acontecendo”.

Marido da fisioterapeuta que teve diagnóstico tardio do TEA aos 42 anos falou sobre as dificuldades — Foto: Arquivo Pessoal

Andréa disse, ainda, que achava que a inclusão era uma coisa fácil, mas que hoje entende ser uma questão delicada. “A sensação que eu tenho é de perda, não é de ganho. Ganhei saúde mental, isso é incontestável. A depressão e ansiedade que eu tinha foram coisas que foram saindo da minha vida de uma forma muito rápida, mas começaram a aparecer outras questões menos psiquiátricas, eram mais práticas relacionadas à minha identidade e convivência”.

O TEA é um distúrbio de neurodesenvolvimento e tem como características o desenvolvimento atípico [atrasado], a dificuldade na comunicação e na interação social. Para alguns autistas pode ser difícil, por exemplo, manter o contato visual, entender gestos e expressões faciais, além de expressar sentimentos.

O psicólogo Bruno Farias explicou ao g1 que não é possível afirmar ser comum o paciente apresentar dificuldade de aceitação ao ser diagnosticado tardiamente com o TEA, pois cada um irá reagir de uma forma diferente. “Cada pessoa reagirá de uma forma, [de acordo com] o histórico de vida, como se relacionou com todas as questões”.

“Existem relatos de pessoas que não se sentiram bem quando receberam o diagnóstico, como outros casos em que se sentiram livres. Existe uma imagem de que uma pessoa diagnosticada com autismo terá dificuldades severas, extremas, de que é uma pessoa incapaz de conviver em sociedade, mas isso não é verdade“, explicou o especialista.

Farias reforçou que as pessoas com TEA não são iguais, ou seja, não apresentam sinais semelhantes do transtorno, o que pode dificultar no diagnóstico. “Cada pessoa é única. Algumas possuem habilidades sociais, outras não externalizam as dificuldades, algumas peculiaridades”.

“Já que se trata de um quadro vasto e amplo, isso pode dificultar na identificação. Precisamos fazer uma crítica aos cursos de graduação que deveriam dar mais ênfase para esse quadro. O estudante deveria ser treinado de forma mais aprofundada para ter mais ferramentas, conhecimento técnico e teórico para identificar e ajudar esses pacientes”, disse.

Farias reforçou que o tratamento para o TEA é vasto, mas que deve ser humanizado e necessita ser realizado com profissionais especialistas no quadro. “Não é todo psicoterapeuta que estará apto a acompanhar o paciente”.

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Por: G1

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