De acordo com Cristiano, o caso aconteceu no setor onde ficam as frutas de um supermercado no bairro do Gonzaga. O homem estava escolhendo maçãs quando se surpreendeu com a ação de uma mulher que estava acompanhando uma idosa. “Ela estava provando as uvas. E aí jogou a casca no chão de maneira bem forte próxima do meu pé”, relembrou.
Surpreso, Cristiano questionou o motivo do ato, dizendo que a casca não deveria ir para o chão. “Não fiz uma comunicação violenta com ela. Não fui áspero, simplesmente a questionei”, afirmou. Segundo ele, a pergunta foi suficiente para revoltar a mulher.
“Ela com os olhos esbugalhados, uma fúria, olhou para mim, chegou bem perto e falou: ‘ô querida’. Foi bem isso, ela fez a troca do artigo O pelo A [se referindo a querida]. Eu sou gay, mas homem cisgênero [que se identifica com o gênero que foi atribuído a ele quando nasceu]. Então, eu estava vestido de maneira masculina”, disse Cristiano.
Cristiano contou que a mulher também passou a debochar dele. “Ela sabia que eu era gay, lógico, eu não tenho nenhum problema com isso. Mas, nisso, ela fez trejeitos afeminados e eu questionei sobre o tratamento que ela tinha me dado”.
Nervoso com a situação, o editor afirmou que homofobia era crime e que iria chamar a polícia, mas a mulher rebateu dizendo que Cristiano estava surdo, pois ela havia dito “querido” e não jogou a casca de de uva de propósito.
Apesar de ter negado a ação e ofensas, ela o incentivou a chamar a polícia, pois teria dito que não haveria nenhuma consequência. “Eu fui bem nervoso para a porta de entrada do supermercado para fazer a ligação [para a PM]”.
Ao telefone, ele ouviu de uma policial que, independentemente de qual que fosse a abordagem, ele deveria registrar um boletim de ocorrência, pois o ato da mulher configurava injúria, e que ele não deveria deixar a situação passar impune.
Enquanto aguardava a chegada da viatura da PM, o editor voltou às compras. “Eu encontrei com a senhora algumas vezes entre as seções do supermercado e aí ela [acompanhante] me encarava, debochava, fazia caras e bocas”. Ele contou que a idosa pedia à mulher para interromper os gestos.
Cristiano resolveu ligar novamente à PM questionando sobre a viatura, que ainda não havia chegado. Nesse momento, ele viu a mulher na fila do caixa. “Eu me dirigi até ela e falei: olha, eu vou chamar [a polícia]. Você não vai esperar a viatura? Você falou que não tem problema nenhum, que eu podia chamar”.
Ela respondeu: “Eu não fiz nada, você é louco, pega uma melancia e coloca no seu pescoço”. O editor acredita que a reação foi pensada, com o objetivo de reforçar na frente de outros clientes e funcionários que nada havia acontecido e, dessa forma, deslegitimar a denúncia à PM.
Segundo Cristiano, teve início uma discussão e o segurança do supermercado tentou mediar a situação, mas o editor avisou que não deixaria que o episódio de preconceito passasse batido. “Minha família já passou muito preconceito. Eu já vi vários casos de preconceito”.
Após a discussão, a mulher e a idosa foram embora. Quando os policiais chegaram, a equipe o orientou a prestar queixa na delegacia. Cristiano registrou um boletim de ocorrência por injúria no 7º DP de Santos na segunda-feira (20) e, desde então, busca identificar a mulher para que ela responda a um inquérito policial.
O editor contou ter voltado ao mercado e solicitado as imagens de câmeras de monitoramento. Apesar de não ter som, ele acredita que a linguagem corporal pode ajudar a polícia a investigar o caso. “Um segurança me falou que ela tem um histórico de muita confusão dentro do mercado. Não é a primeira ocasião. Ela costuma ter esse tipo de comportamento inadequado com as pessoas”, afirmou.
A equipe de reportagem entrou em contato com o Jangada Supermercado que, em nota, afirmou não compactuar com qualquer conduta discriminatória ou preconceituosa. O texto traz, ainda, o comércio se colocando à disposição das autoridades para esclarecer o que foi presenciado pelos colaboradores.
O Jangada citou que o sistema de monitoramento do identificou somente o trecho da discussão. “Referidas imagens gozam de proteção legal e poderão ser apresentadas à autoridade policial em caso de requerimento”.
“Manifestamos publicamente nosso total apoio e solidariedade a todos que têm sofrido algum tipo de constrangimento e discriminação. Reafirmamos nosso compromisso com a promoção da igualdade étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, repudiando toda e qualquer manifestação de preconceito”.
O g1 não identificou a mulher citada até a publicação desta reportagem.
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