O MP-SP, em nota, informou já ter oficiado a autoridade policial para que apure os fatos e adote as medidas pertinentes. Os conteúdos foram publicados uma mulher, identificada como Karla Mattos, no dia 26 de fevereiro, mas a Comissão da Diversidade Sexual e Gênero, que faz parte da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na cidade, foi informada sobre o ocorrido no início de março.
“Eu odeio bissexuais. Eu odeio homossexuais. Odeio essa galera. Por mim, tinham que sumir do planeta, pois nasceram com alguma coisa errada no cérebro. […] É nojento. Essa galera tinha que queimar”, disse a mulher, em trecho dos vídeos obtidos pela reportagem.
Ao g1, a acusada confirmou ter publicado os vídeos, porém, alegou que eles foram “editados” e “tirados de contexto” por terceiros. Ela disse, ainda, que é bissexual e fez as postagens após uma briga com a namorada (veja o posicionamento completo no fim da matéria).
Segundo nota de repúdio emitida pela subseção da OAB em Bertioga, a mulher também é acusada de publicar conteúdos misóginos [ódio ou aversão à mulheres] e gordofóbicos. Karla também negou essas acusações.
Mulher é acusada de LGBTfobia após publicar vídeos nas redes sociais — Foto: Reprodução
Nos vídeos, obtidos pelo g1 nesta data, a acusada aparece ofendendo a comunidade LGBTQIA+ em diversos momentos. No início dos conteúdos – a partir da ordem enviada à reportagem – ela relatou que um homem com quem se relaciona teria aparecido em uma foto, publicada nas redes sociais, segurando as nádegas de outra mulher, que seria lésbica.
“Ela vive na praia com um cara que eu ‘dou uns beijinhos’ às vezes. Para mim, é lésbica e nem olha para homem. Do nada, posta uma foto com o cara segurando na bunda dela. […] Não dá para entender. Para mim, é inaceitável essa galera. Não tenho nem raiva dos homossexuais, das lésbicas assumidas, o que me irrita é essa galera que se diz bissexual, pois ‘o golpe’ vem de todos os lados“, disse.
Na sequência, ela afirmou que os outros poderiam chamá-la de intolerante ou preconceituosa. “F***-se, eu sou mesmo. Para mim, essa galera é completamente doente da cabeça. Nasceu com um problema na mente. […] Está cada dia mais difícil você ser uma pessoa normal, hétero”.
Em outro trecho, porém, ela aparece ofendendo ‘por completo’ a comunidade LGBTQIA+. “Odeio bissexuais. Eu odeio homossexuais. Odeio essa galera. […] Hoje em dia, no mundo, pode tudo. Tudo é válido. Isso é podre e nojento. Por mim, essa galera tinha que queimar e ir pra outro planeta. Odeio essa galera, e olha que 90% dos meus amigos são todos assim, e sabem da minha opinião”.
Ao g1, a mulher afirmou que não foi procurada pela OAB ou pelo MP-SP. “O que tenho a declarar é que desconheço esses fatos. Ninguém me procurou. Só estou vendo as coisas circularem na internet. O vídeo está claramente editado, usando o meu nome e a minha imagem sem autorização”.
Karla questionou, ainda, a acusação de LGBTfobia. “Como posso ser homofóbica se tenho uma namorada? Sou bissexual. Não estou entendendo do que estou sendo acusada”.
Subseção da OAB em Bertioga pediu a abertura de uma investigação policial ao MP-SP — Foto: Reprodução
Ela disse também que os conteúdos foram publicados após uma discussão com a companheira. “Foram publicados [por terceiros] fora do contexto. Eu tinha brigado com a minha namorada. Fiz um vídeo direcionado para ela”.
“Até onde sei, não existe crime de opinião na nossa legislação. Em nenhum momento quis agredir gays e lésbicas. Até porque faço parte desse time”, concluiu.
A subseção da OAB em Bertioga, por meio de nota, expressou “repúdio com relação às manifestações e postagens veiculadas na rede social Instagram” por Karla Mattos, que possuem, segundo a entidade, caráter LGBTfóbico, misógino e gordofóbico.
“A liberdade de expressão é um direito constitucional basilar do Estado Democrático de Direito, entretanto, não se pode interpretar que o seu exercício seja uma licença para expor pensamentos que ferem o próprio direito à liberdade e existência – no caso em tela, a liberdade de ser quem você é, a livre orientação sexual e identidade de gênero”, declarou a OAB.
A subseção pontuou, ainda, que “desde 2019 as manifestações de ordem preconceituosas ou discriminatórias contra população LGBTQIAP+ foram equiparadas ao crime de racismo previsto na Lei 7.716/1989”.
Por fim, a entidade de Bertioga manifestou “total apoio e solidariedade a população LGBTQIAP+ atingida, bem como seu repúdio a qualquer ato de violência, permanecendo em sua missão de promover a conscientização, prevenção e enfrentamento deste tipo de crime”.
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