Ela foi atingida na cabeça durante um tiroteio em uma operação policial na Rua Caminho da Divisa, quando estava passando pela via. Outros três homens, sendo um policial, também foram alvejados e sobreviveram.
“Moro na periferia da Zona Noroeste. É um lugar muito humilde. Mas, está muito perigoso. […] Às vezes tem troca de tiros entre bandidos e policiais. Rezo por mim e por toda a minha família”, escreveu a jovem, na época com 14 anos.
O depoimento de Yasmin foi em uma carta de inscrição para uma promoção do jornal Expresso Popular, do Grupo Tribuna, que oferecia uma festa de debutante para 15 moradoras da região. Ela foi uma das premiadas e ganhou a festa em 2016.
Yasmin Isabel Alves do Carmo ganhou festa de debutante em 2016. — Foto: Rogério Soares/Arquivo A Tribuna Jornal
Em entrevista ao ser selecionada, Yasmin contou se sentir em um conto de fadas. “Adoro a história da Cinderela. Ela passava dificuldades. Não ia para o baile. Mas, de repente, tudo mudou na vida dela”, disse ao Expresso Popular. Na ocasião, ela ainda relatou o desejo de cursar faculdade de Direito para “defender as pessoas” e ajudar a família.
“Mal ela sabia que ela mesma seria umas vítimas que precisaria ser ajudada. Quantas mulheres, jovens, mães e periféricas com sonhos a serem realizados vão ter que morrer para aprendermos que guerra não traz paz, ódio não traz amor?”, lamentou a amiga Brizza Yasmin Alexandrino Firmino, de 22 anos, em entrevista ao g1.
Yasmin Isabel Alves do Carmo tinha medo da região onde morava em Santos (SP) — Foto: Reprodução e Rogério Soares/Arquivo A Tribuna Jornal
Hoje professora de História e trancista, Brizza também foi uma das debutantes em 2016 e foi a partir da promoção que fez amizade com Yasmin. “Dali não nos largamos mais”, disse.
A mulher acompanhou a primeira gravidez da amiga pouco depois do evento. “Ajudei com coisas para o bebê junto com minha mãe que também a adotou como filha. Ela frequentava minha casa e a amizade se manteve assim”, relembrou.
Segundo Brizza, Yasmin era gentil, amorosa, sorridente e carinhosa. “Tinha muito o que viver e, inclusive, a nos ensinar. A Yasmin é só mais uma menina preta e pobre que morreu nas mãos de pessoas que se conflitam entre si combatendo algo que só prejudica gente inocente”, lamentou.
Yasmin e Brizza fizeram amizade após festa de debutantes juntas em Santos (SP) — Foto: Arquivo Pessoal/Brizza Yasmin
Atualmente, Yasmin era casada e três filhos pequenos: um bebê de 10 meses e dois meninos de 3 e 6 anos. Ela estava indo buscar as crianças na casa da mãe para levá-las a uma festa de aniversário quando foi atingida por um disparo na cabeça.
A mãe Deisy Araujo contou que a rua estava com bastante movimentação de pessoas no momento da troca de tiros e comparou o local com um “cenário de guerra”.
A troca de tiros ocorreu na noite da última sexta-feira (8), na Rua Caminho da Divisa, no bairro Castelo, na Zona Noroeste. De acordo com o boletim de ocorrência, obtido pelo g1 neste sábado (9), policiais militares realizavam uma operação na região em busca dos suspeitos que assassinaram um sargento na porta de casa em São Vicente.
A equipe de policiais desembarcou de uma viatura, para realizar o patrulhamento a pé, e foi surpreendida por um ciclista que sacou uma arma. Ele atirou contra os agentes, que revidaram. No entanto, o suspeito conseguiu fugir.
Troca de tiros aconteceu na Rua Caminho da Divisa, em Santos (SP) — Foto: Reprodução
Após o confronto, foi constatado que um dos policiais, de 30 anos, foi atingido na região do ombro e outras três pessoas – Yasmin e dois homens de 47 e 64 anos – que caminhavam na rua também foram alvejados. A jovem sofreu o disparo na cabeça, enquanto os homens foram atingidos nas pernas.
Todas as vítimas foram socorridas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central. No entanto, Yasmin deu entrada em parada cardiorrespiratória e não sobreviveu. Os outros homens permaneceram internados.
No local do confronto, a polícia encontrou uma sacola com maconha e um celular com manchas de sangue do autor dos disparos contra os agentes. Os policiais seguiram os rastros de sangue até as palafitas, onde encontraram uma sacola com cocaína, crack e uma pistola calibre 9mm.
O caso foi registrado como homicídio, lesão corporal e porte de drogas na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos e será investigado pelo 5º Distrito Policial (DP).
Publicar comentários (0)