“É muito ruim ficar lá dentro. Parece que você fica dentro de um quadrado e só vê um quadrado todo dia. Você acorda e está dentro de um quadrado. Você dorme e está dentro do quadrado”, falou o jovem.
Ao g1, o advogado de defesa Marcos Jesuíno Júnior afirmou que irá buscar uma indenização pela prisão ilegal do jovem. Yuri diz que espera que a Justiça seja feita. “Por causa que eu perdi [mais de] dois meses. Pode ser pouco, mas lá dentro parece um ano. Quero que a Justiça seja feita da maneira exata”.
“Perdi dois meses e pouco de trabalho, não podendo trabalhar, não podendo ganhar meu dinheiro suado e [não] podendo aprender outras coisas também. O tempo que eu fiquei lá dentro foi horrível demais“, disse.
Mesmo com o sofrimento causado pela prisão injusta, Yuri afirmou que tinha esperança e nunca desistiu de provar a inocência. “Sempre orava, sempre falava com Deus, sempre tive muita fé”.
Imagem da câmera de monitoramento da farmácia roubada (à esq.) e foto do Yuri que foi encaminhada, sem o rosto, para as vítimas fazerem reconhecimento (à dir.) — Foto: Arquivo Pessoal
“Quando consegui o alvará de soltura fiquei muito feliz de poder rever meus amigos, minha família, todo mundo que esteve ali comigo e acreditou que não fui eu. Sempre tem o medo de que aconteça novamente, dos outros confundirem com outra pessoa por causa da nossa cor, mas coloco Deus na frente e espero que não aconteça novamente”, afirmou.
Agora, Yuri mudou-se para outra cidade na Baixada Santista para recomeçar. “Estou trabalhando em uma obra. Estou muito feliz, podendo ajudar minha família e mudando de vida totalmente. Espero que o meu futuro seja perfeito e [que] parem com preconceito por causa da minha cor [da pele]”, finalizou.
Yuri dos Santos Cruz, de 20 anos, ficou preso injustamente por quase 3 meses após ter sido acusado de roubar uma farmácia em agosto do ano passado, no bairro Boqueirão, em Santos, no litoral de São Paulo. Ele foi absolvido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), no último dia 15.
Segundo o documento obtido pelo g1, na sexta-feira (26), o juiz apontou que o réu foi preso com base nas imagens captadas por câmera de monitoramento [onde o assaltante teve o rosto, de máscara, filmado].
As funcionárias o reconheceram através de uma foto enviada por policiais, onde a cabeça de Yuri havia sido cortada da imagem. Portanto, a autoria do crime teria sido confirmada com base na bermuda, que era igual a do criminoso. A situação, segundo o magistrado, “abala o reconhecimento“.
O juiz enfatizou que a cor de pele do criminoso era mais clara que a do acusado, o que demonstra que provavelmente não se trata da mesma pessoa. Além disso, o formato dos olhos e pestana eram diferentes [o criminoso foi filmado de máscara pelas câmeras]. Baseado nesses argumentos, o juiz julgou improcedente a acusação de roubo contra o jovem e o absolveu.
Ao g1, o advogado de defesa Marcos Jesuíno Júnior disse que os policiais fizeram uma fotografia de Yuri já na delegacia. A imagem não mostrava o rosto do jovem, mas, mesmo assim, foi encaminhada às vítimas, que o reconheceram pela bermuda azul. “Absurdamente foi isso o que aconteceu”.
Yuri ficou preso até outubro do mesmo ano, quando foi realizada uma audiência de instrução. Na ocasião, as vítimas viram o rosto dele e falaram que não parecia ser o assaltante. As funcionárias começaram a entrar em dúvidas, de acordo com a defesa.
Para a defesa, se os procedimentos corretos tivessem sido observados, a prisão poderia ter sido evitada. “Nós acreditamos que o erro tenha partido das autoridades que iniciaram o procedimento e não observaram o Código [do Processo Penal] necessário para realizar o reconhecimento pessoal. Realizaram procedimento fotográfico e já está pacificado que ele não é permitido nesses casos”.
Imagem do assaltante da farmácia em 8 de agosto de 2021 (à esq.) e o rapaz preso injustamente (à dir.) — Foto: Arquivo Pessoal
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