Atendente de farmácia, Luan morreu aos 32 anos, ao ser baleado após abordagem policial quando descia a serra na garupa de um amigo, na altura do quilômetro 61 da rodovia, em fevereiro deste ano. A dupla estava acompanhada por outro colega, este policial civil, em outra motocicleta. Imagens obtidas pelo g1 mostram que Luan chegou a gravar o trajeto pouco antes de morrer (assista acima).
O laudo do IML descreve dois ferimentos de entrada e saída, no tórax e antebraço. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que “nenhuma hipótese é descartada”, incluindo a possibilidade de reentrada de um único disparo. O documento foi encaminhado para análise da autoridade policial da 3ª Delegacia de Homicídios da DEIC de Santos.
Luan foi morto na Via Anchieta quando chegava à Baixada Santista para curtir a folga com os amigos — Foto: Reprodução
Segundo a PM Rodoviária, os policiais suspeitaram que a dupla tentava roubar a BMW – na qual estava o amigo policial – que estava aproximadamente 60 metros à frente da outra moto, pois os veículos estavam em alta velocidade fazendo manobras de zigue-zague na pista.
A equipe disse ter emitido sinais luminosos e sonoros, que teriam sido ignorados. O major da PM declarou ter visto Luan colocar a mão direita no bolso direito do moletom, como se fosse sacar uma arma. Para se proteger, apontou uma pistola na direção do homem, momento em que a moto teria freado. Com o movimento, a viatura também freou e o agente apertou o gatilho acidentalmente.
O piloto da moto, amigo que estava com Luan, negou a versão apresentada pelos militares. Ele disse que não houve resistência à ordem de parada e que o policial disparou com a viatura e moto parados, não em movimento. Luan estaria desembarcando “tranquilamente” quando foi atingido.
Ao g1, o advogado Mario Badures, que representa a família de Luan, alegou que o laudo necroscópico foi “contundente ao apontar dois disparos de arma de fogo, questão essa que torna a versão fantasiosa do major ainda mais em descrédito”.
Ainda de acordo com Badures, a família da vítima “assiste com dor e revolta essa ultrajante tese de ‘duplo’ disparo acidental, eis que agora, ao que parece, irão desmerecer o laudo médico legal que atestou não só os dois disparos e sim as lesões deles decorrentes”.
Por fim, o advogado que, na visão dele, “tal questão é tão enfadonha” como querer acreditar que Luan, antes de morrer, “portava algo em suas mãos e após os disparos teria se deslocado alguns metros para se livrar do objeto”.
O g1 entrou em contato com a Polícia Militar, em busca de um posicionamento sobre o laudo do IML, mas não obteve um retorno até a última atualização desta reportagem.
À época, a equipe de reportagem conversou com o tio de Luan, o aposentado Carlos Alberto Marques, de 66 anos. Ele contou que a vítima morava na capital paulista, trabalhava como atendente em uma farmácia, era solteira e não tinha filhos. Ele negou que o sobrinho estivesse armado.
O tio apresentou uma versão diferente da registrada pelos PMs Rodoviários. Segundo ele, com base no que informou o amigo condutor, a dupla acatou a ordem de parada. “Ele parou a moto [condutor], e Luan estava na garupa. Quando foi descer, o policial atirou e pegou do lado. Atravessou. Matou ele na hora”, disse.
O familiar revelou que os três amigos eram conhecidos há muito tempo. O policial civil que os acompanhava estava mais à frente e, portanto, só soube do disparo ao ouvir um grito do condutor e testemunha.
Passeio não era planejado
Luan dos Santos gravou vídeo com os amigos pouco antes de morrer com tiro na Via Anchieta — Foto: Reprodução/Instagram
Luan tiraria folga no sábado (17), mas trocou o dia de descanso para a sexta-feira, de acordo com o relato do tio. O passeio tampouco estava programado, mas após a decisão os amigos planejaram fazer um “bate-volta”.
“Ele era trabalhador, não tinha nada [passagens pela polícia]. Que eu saiba não tinha nada. Ele era um menino trabalhador, menino bom”, afirmou.
Atendente Luan dos Santos morreu com tiro no tórax na Rodovia Anchieta — Foto: Reprodução/Instagram e Artesp
Em fevereiro, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) informou, por meio de nota, que PMs rodoviários estavam em deslocamento quando viram duas motocicletas “de grande porte” trafegando pela via “em alta velocidade e realizando manobras arriscadas”.
De acordo com a pasta, teria sido dado sinal de parada para realização de abordagem, que não obedecida. “Em certo momento, o garupa de uma das motos fez menção de estar armado e um dos PMs apontou sua arma como forma de se proteger. Na sequência, a motocicleta parou bruscamente e os PMs frearam para abordá-los, ocorrendo um disparo acidental”.
O Corpo de Bombeiros foi acionado e a vítima socorrida ao Hospital Modelo de Cubatão, onde morreu. “Os outros motociclistas, incluindo um Polícia Civil, foram ouvidos e liberados, e a arma do policial militar encaminhada para a perícia. O caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial na Central de Polícia Judiciária de Santos, e é investigado pela Polícia Civil, com acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário”.
A SSP-SP ressaltou que a PM também apura a ocorrência por meio de Inquérito Policial Militar (IPM). A equipe envolvida no caso não faz parte do reforço da Operação Verão.
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