A autônoma Paula Maria Cruz contou ao g1 ter ficado desesperada ao receber a ligação de duas adolescentes contando que o filho dela havia escapado da escola Escola Estadual Professor Jon Teodoresco, no bairro Mosteiro. Horas antes, ela havia entrado em contato com a diretora para reforçar como seria o esquema da saída do estudante, que voltaria para casa em uma van municipal.
“[No dia seguinte] acordou mais estressado, continua sem querer sair no quintal, sem querer abrir as janelas e a porta. Vem tendo comportamento cada dia mais agressivo, não comigo, mas com o padrasto dele”, contou a mãe.
O adolescente, que sempre teve um bom relacionamento com o padrasto, chegou a mordê-lo e arranhá-lo em uma das crises após ter se perdido ao escapar da escola.
“Quando chego perto e falo que não pode bater. Ele me abraça e chora compulsivamente. Sempre foi uma criança muito doce, obediente e tranquila. Não é agressivo, e isso me dói muito,. Ele nunca agrediu ninguém“.
Mãe diz que adolescente mudou comportamento e até mordeu (à esq) e arranhou o pescoço (à dir.) do padrasto — Foto: Arquivo Pessoal
Com o filho sem querer sair para a rua e muito menos para o quintal da própria casa, a mãe conseguiu agendar uma consulta de urgência com psicóloga para investir se ele está enfrentando algum episódio de estresse pós-traumático.
“A gente não sabe o que aconteceu com ele na rua no período em que ficou perdido […]. Não sei o que aconteceu, não ficou com nenhuma marca, mas ele ficou agressivo desde então, um comportamento que ele não tinha e passou a ter“. A mãe reforçou: “Era extremamente calmo”.
Pressão por transferência
Paula contou que a diretora da escola está pressionando para que ela faça a transferência do filho para outra unidade. “Eles arrumaram outra vaga em uma escola mais longe e fala comigo como se fosse uma oferta imperdível. Ela quer que eu entre em contato com a outra escola e eu faça a transferência dele”, disse.
No entanto, a autônoma quer uma garantia de que o filho não perderá todos os benefícios que possui, como o direito a assistente e cuidador no ambiente escolar e o transporte especial. “Quando questiono sobre os direitos, ela [diretora] fala que a transferência independe da minha vontade. Ele está sendo praticamente obrigado a se retirar da escola“.
Desde o ocorrido, o adolescente não tem ido mais à escola e isso preocupada a mãe, que recebe o bolsa família. Segundo Paula, o secretário afirmou que ela precisa conseguir um atestado médico para que as faltas sejam abonadas.
“Fica bem claro o quanto eles me pressionam para que eu continue mandando ele nas mesmas condições que ele tinha, que é o que a escola podia oferecer, ou seja, segurança nenhuma, sem assistente, sem auxiliar de classe”, finalizou.
Adolescente, de 17 anos, com autismo e cegueira que ‘escapou’ de escola, em Itanhaém, não quer sair de casa e nem ir ao quintal — Foto: Arquivo Pessoal
A advogada da família, Marina Moreira, afirmou que ingressará com o processo de reparação dos danos causados pela responsabilidade civil por causa das falhas na prestação do serviço público e omissão. “Os agentes que atuam em nome do estado […] que estavam ali naquela unidade escolar neste [naquele] dia eram responsáveis pela custódia escolar do aluno, então eles falharam”.
Na mesma ação, a advogada pedirá uma medida liminar para que a escola forneça as imagens das câmeras de monitoramento com o momento em que o adolescente escapou da escola, além de solicitar que o estado forneça uma assistente para acompanhá-lo durante o período de estudo.
Procurada, a Secretaria Estadual de Educação, por meio da Diretoria de Ensino (DE) de São Vicente, lamentou o ocorrido e disse que designou um supervisor para apurar a conduta da escola no caso, e que a DE dialoga com os responsáveis para definição do atendimento ao estudante, de forma a garantir a continuidade dos estudos, sem prejuízo educacional.
Mãe irá processar o Estado após o filho com autismo e cegueira ter ‘escapado’ de escola, em Itanhaém, SP — Foto: Reprodução e Arquivo Pessoal
A mãe passou por momentos de desespero ao receber ligações e mensagens de duas adolescentes informando que o filho dela estava na rua e perdido no dia 11 de março. “Falaram que estavam perto de um posto de gasolina, mas, na hora do desespero, eu não sabia onde era [o posto] e elas [estudantes] se ofereceram a levar ele [o filho] de volta à escola”.
Quando a autônoma chegou na escola, o filho não havia retornado, pois, segundo as adolescentes, estavam a aproximadamente um quilômetro de distância da unidade escolar. Ela aproveitou para perguntar aos funcionários da unidade de ensino o que ocorreu, mas ouviu que a situação, infelizmente, acontece.
As adolescentes não estudam na mesma sala do filho de Paula, que está no 1° ano do Ensino Médio. Apesar disso, conseguiram o contato no colar de girassol que o adolescente usava. Segundo a mãe, ninguém da escola se preocupou com a saúde do menino.
“Meu sentimento é de indignação. Como pode tratar essas crianças com necessidades especiais como uma escória da sociedade? Como acontecia em tempos atrás? […] Eles tornam as crianças invisíveis, tão invisíveis a ponto do meu filho sair da escola sozinho, sem ninguém ver”, disse.
O caso, que ocorreu em 11 de março, foi registrado como abandono de incapaz na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), mas foi encaminhado ao 1° DP, onde será investigado.
Paula está indignada que a escola, em Itanhaém (SP), tenha deixado o filho com autismo e cegueira sair sozinho da unidade — Foto: Arquivo Pessoal
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