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Militares russos enfrentam enxurrada de críticas após ataque mortal da Ucrânia

today4 de janeiro de 2023 16

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Este é o maior número de mortos num único ataque reconhecido por Moscou desde que a ofensiva começou, em fevereiro de 2022. O ataque ocorreu um minuto após o início do Ano Novo, segundo as autoridades russas.

Os militares disseram que a utilização não autorizada de telefones celulares pelos soldados russos permitiu às forças de Kiev determinar as coordenadas de localização e lançar o ataque com seis mísseis, dos quais quatro atingiram o alvo.

As críticas dentro da Rússia já haviam sido feitas mesmo antes das explicações oficiais dadas pelos militares, nesta quarta-feira. Elas vieram sobretudo dos chamados blogueiros militares e também de jornalistas.



O conhecido repórter de guerra Semyon Pegov, que no fim de 2022 recebeu uma medalha por bravura do presidente Vladimir Putin, questionou as explicações oficiais. “Essa história dos celulares não é muito convincente. Não costumo dizer isso, mas neste caso provavelmente teria sido melhor ficar calado, ao menos até o fim da investigação. Assim fica parecendo uma tentativa descarada de afastar a culpa”, escreveu no Telegram.

Ele também afirmou que o número de mortos deve ser muito maior. As Forças Armadas ucranianas divulgaram que ao menos 400 soldados russos morreram no ataque. Blogueiros militares nacionalistas russos afirmaram que há centenas de mortos.

Trabalhadores recolhem destroços de edifício após ataque ucraniano a acomodação russa, em Makiivka, Ucrânia — Foto: REUTERS/Alexander Ermochenko

Os blogueiros nacionalistas militares russos estão furiosos com as mortes dos soldados em Makiivka, a leste de Donetsk, e descarregam sua ira principalmente na rede social Telegram.

“Como esperado, a culpa pelo que aconteceu em Makiivka começou a ser posta nos próprios combatentes. ‘Veja bem, eles ligaram os celulares e foram localizados.’ Claro, o inimigo tem essa competência e às vezes a usa. Mas, neste caso, é 99% uma mentira e uma tentativa de se livrar da culpa”, diz uma postagem no canal Grey Zone, que é ligado à organização mercenária Wagner Group.

O ex-espião e autoproclamado nacionalista Igor Girkin afirmou que generais russos são, “a princípio, destreinados”. No canal dele no Telegram, Girkin escreveu que o prédio que abrigava os soldados russos foi completamente destruído porque também era usado para estocar munição.

Girkin é um ex-agente do serviço secreto russo que desempenhou um papel fundamental na anexação da Crimeia e também na guerra no Leste da Ucrânia, como organizador de milícias na região de Donetsk. Ele foi acusado de ser um dos responsáveis por abater o voo MH17, da Malaysia Airlines, e condenado à revelia por assassinato por um tribunal holandês.

O blogueiro militar de extrema direita Boris Rozhin criticou o elevado número de militares estacionados no campo de alcance da artilharia ucraniana. Nos últimos meses, os militares russos teriam aprendido a não concentrar uma grande quantidade de munição e combustível num único local. Porém, segundo Rozhin, eles não estariam aplicando esse mesmo princípio a soldados. Ele culpou a liderança militar da Rússia pelo ocorrido e afirmou que “incompetência e incapacidade para entender as consequências da guerra continuam a ser um sério problema”.

Críticas duras como essas à maneira como os militares russos comandam o esforço de guerra não são exatamente novidade entre os nacionalistas russos. Há meses que Girkin e outros blogueiros militares expressam insatisfação. Mas a recente onda de críticas contra o Ministério da Defesa levanta a questão de por que essas críticas estão sendo toleradas por um regime cada vez mais autoritário.

Blogueiros que defendem a guerra podem opinar livremente, enquanto manifestantes contrários à guerra enfrentam penas duras, de até 15 anos de prisão, por crimes como “desacreditar as Forças Armadas russas” ou “espalhar informações falsas” sobre os militares e suas atividades.

Sem controle da narrativa

A diferença é a quem a crítica se direciona, explica o analista político russo Abbas Gallyamov, um antigo redator de discursos de Putin. “Blogueiros militares criticam dentro da chamada perspectiva patriótica, o que significa que eles não atacam Putin. Eles atacam os executores, mas não questionam a liderança de Putin ou a ideia de invadir a Ucrânia. A crítica que não é tolerada é a das pessoas que colocam em dúvida sua liderança ou a própria guerra. Estes são percebidos como inimigos”, afirma.

Mesmo assim, Girkin, um dos mais notórios críticos dos militares russos, tem também seguidamente criticado diretamente Putin. No mês passado ele colocou um vídeo de 90 minutos no Telegram no qual ele diz que “a cabeça do peixe está completamente podre”.

O especialista britânico Mark Galeotti avalia que o regime de Putin está percebendo que não tem o controle total da narrativa. “Pessoas como Girkin não são importantes apenas por si só, elas também são, de alguma maneira, porta-vozes de facções um tanto consideráveis dentro dos aparatos militar e de segurança. E eu acho que o temor é de que, se eles forem coibidos, em primeiro lugar virarão mártires. E, em segundo, perde-se a chance de entender quais são as preocupações deles”, diz.

E Putin também está insatisfeito com seu comando militar, acrescenta Gallyamov. “Eles lhe prometeram vitória em três dias e, em vez disso, o estão constrangendo perante o mundo inteiro. Num nível emocional, ele entende bem os blogueiros militares”, observa.

E há ainda uma dimensão política nas críticas. O canal Grey Zone é ligado ao Wagner Group, formado porEugeny Prigozhin, enquanto outros canais são ligados aos militares russos.

“Em parte são os bastidores da política na corte de Putin”, comenta Galeotti. Segundo ele, nem todos os militares estão alinhados atrás do ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e do chefe do Estado-Maior, Valeri Gerasimov, e há uma percepção de que ambos serão sacados de suas posições ainda neste ano. “O que vemos nas redes sociais é muito semelhante à política real que está sendo feita na Rússia.”




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Mundo.

Por: G1

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