G1 Mundo

Monte Everest: por que alpinistas terão que levar suas próprias fezes na descida da montanha

today10 de fevereiro de 2024 5

Fundo
share close

“Nossas montanhas começaram a feder”, diz Mingma Sherpa, presidente da municipalidade rural de Pasang Lhamu, responsável pela região e que implementou a nova regra como parte de medidas mais amplas.

“Estamos recebendo reclamações de que fezes humanas estão visíveis em rochas e alguns montanhistas estão adoecendo. Isso não é aceitável e prejudica nossa imagem”, acrescentou ele à BBC.

Os alpinistas que forem tentar subir o Monte Everest, a montanha mais alta do mundo, e a vizinha Monte Lhotse serão instruídos a comprar e levar “sacos para fezes” no acampamento base, que serão “verificados ao retornar”.



Algumas campanhas de limpeza levaram à remoção de algum lixo deixado para trás, mas isso ocorre principalmente nos campos mais baixos — Foto: Babu Sherpa/Via BBC

Onde fazer as necessidades em uma montanha?

Durante a temporada de escalada, alpinistas passam a maior parte do tempo no acampamento base se acostumando à altitude. Neste, há tendas separadas com toaletes, com barris embaixo para coletar os dejetos.

Mas uma vez que começam sua jornada perigosa, as coisas ficam mais difíceis.

Guia salva alpinista em ‘zona da morte’ do Everest

Guia salva alpinista em ‘zona da morte’ do Everest

A maioria dos alpinistas e as equipes de apoio costumam cavar um buraco para fazer as necessidades, mas à medida que se sobe na montanha, algumas áreas têm menos neve, então é preciso fazer as necessidades ao ar livre.

Devido às temperaturas extremas – a mais baixa já registrada no Monte Everest foi de -42°C – as fezes deixadas no caminho não se degradam completamente.

Muito poucas pessoas trazem suas fezes de volta em sacos biodegradáveis ao escalar o cume do Monte Everest, que pode levar até quatro semanas.

O lixo continua sendo um grande problema no Everest e em outras montanhas da região, apesar do aumento nas campanhas de limpeza – como a realizada anualmente pelo Exército Nepalês.

“O problema dos resíduos continua sendo uma questão importante, especialmente nos acampamentos mais elevados onde não é fácil chegar”, afirma Chhiring Sherpa, CEO da organização não governamental Comitê de Controle de Poluição de Sagarmatha (SPCC, na sigla em inglês).

Embora não exista uma cifra oficial, sua organização estima que haja cerca de três toneladas de fezes humanas entre o acampamento um, na base do Everest, e o acampamento quatro, o último antes do cume.

“Metade disso está nos arredores do South Col, também conhecido como acampamento quatro”, diz Chhiring Sherpa.

Stephan Keck, um guia de montanha que organiza expedições ao Everest, afirmou que o South Col ganhou a reputação de ser um “toalete a céu aberto”.

A 7.906 metros de altitude, o South Col serve como base antes dos alpinistas tentarem os cumes do Everest e do Lhotse. Nesse ponto, o terreno é fortemente varrido pelo vento.

“Quase não há gelo e neve, então você verá fezes humanas por toda parte”, diz Keck.

O aumento do número de alpinistas no Everest significa um aumento significativo de resíduos, incluindo excrementos humanos — Foto: Getty Images/Via BBC

Autorizado pela municipalidade rural de Pasang Lhamu, o SPCC está agora adquirindo cerca de 8 mil sacos de fezes dos Estados Unidos, para aproximadamente 400 alpinistas estrangeiros e 800 membros da equipe de apoio na próxima temporada de escalada, que começa em março.

Os sacos de fezes contêm produtos químicos e pós que solidificam as fezes humanas, tornando-as em grande parte inodoras.

Em média, acredita-se que um alpinista produza 250 gramas de fezes por dia. Eles geralmente passam cerca de duas semanas nos acampamentos mais altos para a tentativa de alcançar o cume.

“Planejamos fornecer a eles dois sacos, cada um dos quais podem ser usados de cinco a seis vezes”, explica Chhiring Sherpa.

“Certamente é algo positivo, e ficaremos felizes em desempenhar nosso papel para tornar isso bem-sucedido”, diz Dambar Parajuli, presidente da Associação de Operadores de Expedições do Nepal.

A organização sugeriu que isso deveria ser inicialmente implementado como um projeto-piloto no Everest e depois replicado em outras montanhas também.

Mingma Sherpa, o primeiro nepalês a ter escalado todas as 14 montanhas com mais de 8 mil metros, disse que o uso desses sacos para gerenciar resíduos humanos foi testado e comprovado em outras montanhas.

“Montanhistas têm utilizado esses sacos no Monte Denali (a montanha mais alta da América do Norte) e na Antártida também, é por isso que temos defendido isso”, diz Sherpa, que também é conselheiro da Associação de Montanhismo do Nepal.

Cordas e escadas deixadas pelos alpinistas são recolhidas e trazidas de volta, mas excrementos humanos permanecem nas montanhas — Foto: Babu Sherpa/Via BBC

O governo do Nepal introduziu diversas regras para serem seguidas nas escaladas de montanhas no passado, mas críticos disseram que muitas delas não foram devidamente implementadas.

Uma das principais razões é a ausência de oficiais para monitoraram as expedições no local. Muitos dos que estavam previstos para acompanharem equipes nos acampamentos base simplesmente não compareceram.

“O Estado sempre esteve ausente nos acampamentos base, levando a todo tipo de irregularidades, incluindo pessoas escalando nossas montanhas sem permissão”, afirma Sherpa, o presidente da municipalidade rural de Pasang Lhamu.

“Isso tudo mudará agora. Vamos estabelecer um escritório de contato e garantir que nossas novas medidas, incluindo a de fazer os escaladores trazerem de volta suas fezes, sejam implementadas.”




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Mundo.

Por: G1

Esta notícia é de propriedade do autor (citado na fonte), publicada em caráter informativo. O artigo 46, inciso I, visando a propagação da informação, faculta a reprodução na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos.

Avalie

Post anterior

‘as-pessoas-de-rafah-nao-sabem-para-onde-ir’,-diz-chefe-de-agencia-da-onu;-netanyahu-ordenou-retirada-total-do-ultimo-refugio-de-gaza

G1 Mundo

‘As pessoas de Rafah não sabem para onde ir’, diz chefe de agência da ONU; Netanyahu ordenou retirada total do último refúgio de Gaza

Os habitantes de Rafah, no Egito, estão preocupados com o avanço do exército israelense na cidade, disse Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA -- agência da ONU que dá assistência a refugiados palestinos, nesta sexta-feira (9). Rafah é considerada o último refúgio de cerca de 1,5 milhão de pessoas — quase toda a população da Faixa de Gaza — que, desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, deixaram […]

today10 de fevereiro de 2024 3

Publicar comentários (0)

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.


0%