No Irã, o presidente lidera o governo e age como executor; o líder supremo chefia o Estado, concentra poderes e a tomada de decisões estratégicas. Aos 85 anos e há 35 anos no comando da república dos aiatolás, o clérigo Khamenei será crucial na escolha de um candidato igualmente linha-dura para ocupar o cargo de Raisi, provavelmente por meio da convocação de novas eleições, em 50 dias.
Até lá, a chefia do governo será ocupada pelo primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber. Como observou o analista Jason Brodsky, da Iran International TV, a morte do presidente não mudará os fundamentos das políticas do regime: “O líder supremo permanece em sua cadeira e é o comandante-chefe constitucional.”
Rumores sobre a saúde deteriorada de Khamenei inflamam, contudo, as especulações sobre o seu possível substituto.
Desta forma, segundo Brodsky, a morte de Raisi tem o potencial de perturbar a política de sucessão, uma vez que ele seria um dos principais candidatos a ocupar o lugar do chefe dos aiatolás. O clérigo Mojtaba Khamenei, o segundo dos seis filhos de Khamenei, também é apontado como outro forte concorrente para ser o seu sucessor.
“Embora o nome de Mojtaba possa surgir, uma sucessão familiar seria politicamente problemática. Afinal de contas, primeiro Khomeini e depois Khamenei argumentaram que o governo hereditário sob o xá era ilegítimo e, portanto, teriam agora dificuldade em vender a liderança hereditária ao povo iraniano”, pondera, por sua vez, o exilado iraniano Shay Khatiri, observador do think tank Middle East Forum.
Ultraconservador, Raisi não era visto como um presidente popular entre os iranianos. Implantou a linha-dura na adesão estrita à lei islâmica, apoiando os serviços de segurança para reprimir dissidentes nos protestos que varreram o país após a morte da jovem Mahsa Amini, em 2022.
Ela estava sob custódia porque teria violado o código de vestimenta, também impulsionado no governo de Raisi. A onda de manifestações traduziu a insatisfação interna e resultou na detenção de mais de 22 mil pessoas.
Raisi não tinha, de forma alguma, o cargo de líder supremo assegurado. Embora a solução de continuidade do regime deva seguir adiante, sua morte trágica movimentará uma nova dança das cadeiras também em torno da sucessão de Khamenei.
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Por: G1
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