O g1 teve acesso ao laudo da tomografia realizada pela moradora de Guarujá, cidade vizinha. O documento aponta que o corpo estranho é “hiperdenso/metálico”. Segundo a vigilante, o objeto foi descoberto após ela procurar uma segunda opinião profissional sobre as dores que sentia.
De acordo com Cinara, os incômodos na região da bexiga e costas começaram em outubro do ano passado, após a cirurgia para retirada de um cálculo renal de aproximadamente quatro centímetros na Casa de Saúde de Santos. “A partir do momento em que eu saí do centro cirúrgico, eu já saí com dor. É a dor que eu venho arrastando (sentindo) até hoje”, afirmou.
A vigilante contou que, durante a operação, precisou colocar um cateter chamado Duplo J. “Foi pedido para que ele [cateter] ficasse de 20 a 30 dias para poder não obstruir o canal da urina”, explicou, dizendo que é um procedimento comum em cirurgias renais.
Ela teve alta e, após o período estipulado, retornou ao hospital para retirar o Duplo J. No entanto, houve complicações e o cateter não foi tirado. Na segunda tentativa, o equipamento foi retirado e substituído por outro. Um tempo depois, houve a retirada definitiva do cateter.
“Mas continuei com a dor […] e, por diversas vezes indo para o hospital, tendo que tomar medicação”. Ela ressaltou que, desde então, a vida nunca mais foi a mesma.
Com dores, a paciente procurou novamente o médico que realizou a cirurgia. Segundo ela, o profissional informou que era uma dor considerada normal.
“Da penúltima vez que eu fui numa consulta, ele disse para mim que poderia ser psicológico”. Cinara disse ter estranhado a justificativa, uma vez que sentia uma dor intensa. “Vinha acabando com meus dias, com o meu trabalho, com a minha vida normal”.
A mulher contou ter procurado outro médico para falar das dores e, em julho, o profissional detectou a presença do corpo estranho após exames de imagem. Agora, a vigilante precisou retirar o objeto em uma cirurgia na Casa de Saúde de Guarujá.
Exame de Cinara Aparecida Santana apontou objeto em sua bexiga — Foto: Arquivo Pessoal
Ela não sabe em qual dos três procedimentos que o corpo estranho foi deixado, mas registrou a queixa contra o médico Thales Silveira por meio de um boletim de ocorrência. Apesar disso, não decidiu se entrará na Justiça, pois afirmou que sempre recebeu atenção do profissional e do hospital.
“Eu preciso ficar bem, preciso da minha saúde”, finalizou.
O médico responsável pela primeira cirurgia, Thales Silveira, deu a sua versão sobre o ocorrido. (Confira o posicionamento completo no fim da matéria)
Em nota, a Casa de Saúde de Santos informou que a paciente foi submetida a uma cirurgia de retirada de cálculo renal. “O procedimento médico inclui a colocação do chamado ‘duplo J’, que é uma espécie de cateter duplo, que ajuda a restabelecer a função renal. Após um período, esse cateter deve ser removido, o que faz parte do procedimento adotado neste tipo de cirurgia”.
Ainda segundo o hospital, a orientação é que a paciente procure o médico que a assistiu para dar prosseguimento ao seu pós-operatório. “Em relação à dor mencionada pela paciente, é necessário haver uma investigação médica. A Casa de Saúde se coloca à disposição da paciente para fornecer o melhor atendimento possível”, diz a nota.
A Casa de Saúde de Guarujá confirmou a cirurgia para retirada do corpo estranho da paciente. O procedimento aconteceu na última quarta-feira (23).
Ao g1, o médico urologista Thales Silveira informou que atendeu Cinara para uma cirurgia considerada “bem complexa e complicada” por conta do tamanho do cálculo. Ele também confirmou as complicações para retirada do cateter Duplo J. No entanto, Thales garantiu que sempre deu atenção às queixas de dor da paciente.
“Essa questão de corpo estranho é uma coisa muito complexa. Porque quando a gente faz esse tipo de cirurgia, uma cirurgia grande igual a gente fez nela, pode ser que fique resquícios de cálculo, pode ser que fique resquícios de uma pontinha do Duplo J. É difícil a gente saber isso no intra e no pós-operatório precoce”, disse.
O urologista informou que a mulher esteve diversas vezes no hospital com dores e chegou a passar por exames e ser internada, sendo atendida por outros profissionais. Ele afirmou, ainda, que durante todo o processo esteve à disposição de Cinara. “A gente tentou de qualquer forma tentar resolver a dor dela”.
“Em momento algum foi cogitado corpo estranho, nem nos exames, nem em lugar nenhum. Então, por isso que não foi feito nenhuma cirurgia pra retirada”, disse.
Thales informou que receitou um ansiolítico para dores nervosas, pois chegou a cogitar que Cinara estivesse com cistite intersticial, uma doença crônica “que simula infecção urinária”.
“É muito comum na mulher da meia idade, principalmente mulheres ansiosas”, explicou, dizendo que chegou na hipótese baseado nos exames.
No entanto, ele disse que a paciente não fez uso do medicamento e retornou ao consultório para contar sobre a descoberta do corpo estranho. “Eu disse que em momento algum, no passado, veio nada que dissesse que era um corpo estranho. Ofereci para ela pra fazer a cirurgia ali mesmo naquele dia”, relatou, informando que Cinara recusou ser atendida pela equipe dele.
“Então, em momento algum houve negligência”, finalizou, dizendo que não deixou de acompanhar o estado da paciente.
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