Após duas semanas, Juliana ainda se recupera do trauma do parto do filho Lucca Matheus. A mãe dela, Fabiana Maciel, de 44 anos, contou ao g1 neste domingo (9) que ela e a filha chegaram ao hospital já pedindo que uma cesariana fosse feita, tanto pela gravidez de risco, quanto pelo histórico de dificuldade na hora do parto da jovem.
Conforme a Lei 17.137 / 2019, a grávida pode optar pela cesariana, a partir de 39 semanas de gestação, bem como a analgesia, mesmo quando escolhido o parto normal.
Violência obstétrica – parto mais seguro — Foto: Reprodução/Bem Estar
Segundo Fabiana, por volta de 11h, começaram a dar medicações para ajudar na dilatação da filha. O remédio só fez efeito por volta de 17h30, quando Juliana passou a sentir dores muito fortes. “Foi uma tortura. A contração foi aumentando e ela foi sofrendo. Eu pedi à doutora para fazer uma cesárea nela. E me disseram que não daria e que era assim mesmo”, disse.
A mãe conta que solicitou para mais quatro médicos que fosse realizada uma cesariana na filha, porém, o pedido não foi atendido. A dilatação só começou no dia seguinte, às 8h.
“Meus dedos e meus braços estão doendo até hoje, ela apertava e segurava de tanta dor”. Em seguida, Juliana foi levada para a sala de parto e, segundo Fabiana, não tinha qualquer força para o trabalho que viria logo em seguida.
Desde que chegaram ao hospital, a gestante e a mãe dela, Fabiana Maciel Corrêa, pediram por diversas vezes para que fosse feita cesárea, porém, o parto normal ainda assim foi induzido. — Foto: Arquivo Pessoal
Fabiana conta que um dos médicos pegou um fórceps, um tipo de instrumento cirúrgico que pode ser usado para facilitar a saída do bebê. Segundo ela, o outro médico teria tentado ‘ajudar’ e feito algo semelhante à manobra de Kristeller, que é contraindicado pelo Ministério da Saúde no segundo período do trabalho de parto. “Ele subiu na barriga dela e começou a fazer força para o ‘neném’ sair. Ela [a filha] falou duas vezes ‘Dr. sai de cima de mim, está me machucando’ e ele não saiu”.
Juliana deu à luz ao filho dessa forma. Porém, segundo a mãe da grávida, o bebê não chorou e “saiu roxo” de dentro dela. “Ele aspirou toda a sujeira [mecônio] do parto, a pediatria correu com ele e foi direto para UTI”, explica.
De acordo com ela, o bebê precisou de uma sonda para respirar e outros procedimentos foram feitos para retirar o mecônio, material fecal, que aspirou. O recém-nascido ficou cinco dias internado na maternidade na Unidade de Terapia Intensiva. “Me sinto humilhada, foi um parto desumano e tive dias de pesadelo”, afirma Juliana.
Fabiana ainda afirma que, durante os dias em que acompanhou a filha ao hospital. Após a repercussão do caso nas redes sociais, devido às reclamações dela, uma placa orientando sobre a lei que garante à gestante optar por uma cesariana foi instalada na maternidade.
“Se a mãe quiser ‘cesárea’, eles são obrigados a fazer. Eles me falaram que era tudo normal e que gravidez é assim mesmo. Eu entendo que tem casos e casos, mas mesmo assim, machucaram muito ela”.
Conforme a Lei 17.137/ 2019, a grávida pode optar pela cesariana, a partir de 39 semanas de gestação, bem como a analgesia, mesmo quando escolhido o parto normal. — Foto: Arquivo Pessoal
Em 2019, Juliana ficou grávida pela primeira vez e sem riscos. Segundo a mãe dela, o trabalho de parto também durou cerca de 24 horas. “Ela não tinha dilatação e estava sofrendo muito. Os médicos fizeram o bebê nascer a força naquela situação”. A família ficou indignada na época e a criança teria nascido com uma marca na testa devido ao parto brusco.
Neste ano, quando a jovem engravidou novamente, ela estava decidida de que pediria para passar uma cesariana. Ela pediu aos médicos que acompanharam o pré-natal para prescrever o procedimento, porém, eles afirmaram que dependeria dos profissionais de plantão no momento do parto, já que apesar da gravidez de risco, o bebê estava saudável.
A nova mãe afirma que se sente apenas mais uma das gestantes que diariamente são maltratadas, apesar de ter passado por situação semelhante anos antes, ela afirma que dessa vez foi pior. “Quase perdi meu bebê. Eles não se importam se você está em risco, só querem te forçar a sofrer o parto normal mesmo”, finaliza Juliana.
O g1 entrou em contato com a Consaúde, responsável por administrar o Hospital Regional Dr. Leopoldo Bevilacqua de Pariquera-Açu, porém, não obteve retorno até o momento. Assim que o hospital se posicionar sobre o caso esta reportagem será atualizada.
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